Autora: Senadora Leila Barros (PSB-DF)
* Artigo publicado originalmente no jornal Correio Braziliense, no dia 6 de abril de 2020
A pandemia do coronavírus exige muito cuidado e responsabilidade de todos. Nossas ações, gestos e atitudes devem ser assumidos com cautela e serenidade, mas também com firmeza e segurança. O momento não é propício para o enfrentamento, mas para a soma de esforços e sacrifícios na construção de alternativas que protejam a saúde da população e minimizem os impactos negativos na economia. Essa é a receita para juntos superarmos essa quadra sombria do tempo atual.
No Congresso Nacional, temos procurado deliberar sobre temas fundamentais para minimizar os danos causados pela Covid-19. Aprovamos, por exemplo, a ajuda emergencial de R$ 600, durante três meses, para pessoas de baixa renda, além de auxílio de R$ 1.200 para mulheres chefes de família. Também determinamos a proibição da exportação de produtos médicos, de saúde e de higiene essenciais para o combate ao coronavírus. Liberamos estados, o Distrito Federal e os municípios a usarem saldos de repasses do Ministério da Saúde de anos anteriores.
Como há muito não se via, parlamentares governistas, independentes e os da oposição estão focados no objetivo comum, que é o de trabalhar para diminuir o sofrimento da população diante da pandemia. A meu ver, esse deveria ser o comportamento padrão. Na eleição que me trouxe para o Senado, tive a honra de contar com os votos válidos de 17,76% dos eleitores do Distrito Federal. Porém, depois de empossada, passei a ser representante de todos os cidadãos do DF. É assim que funciona a democracia. Computados os votos e identificado quem o povo escolheu para representá-lo, cada qual deve respeitar a soberania popular e trabalhar para cumprir da melhor maneira possível o mandato que lhe foi conferido.
É descer do palanque e arregaçar as mangas. É deixar de lado o sectarismo e pensar no bem comum. É ser uma voz firme e tomar decisões por todo um município, unidade da Federação ou país. E não representar a si próprio ou aos interesses apenas de um segmento. Faço tais reflexões porque estou preocupada com o tom provocativo e beligerante que autoridades têm utilizado em suas manifestações, pela imprensa ou pelas mídias sociais, pois esse confronto só atrapalha. Alimenta na sociedade a sensação de guerra, de discórdia, de confrontamento e de divisão que não ajuda de maneira nenhuma. Da mesma forma, também prestam um desserviço os que se aproveitam da calamidade para faturar politicamente.
Principalmente no momento em que devemos valorizar sentimentos como união, serenidade, confiança, empatia, responsabilidade, precaução, tranquilidade, desprendimento e, sobretudo, solidariedade. Aliás, sinto falta de mais solidariedade com as camadas mais frágeis da sociedade, nas medidas que os governos vêm anunciando. Concordo que a questão econômica é preocupante e devemos adotar providências para minimizar os prejuízos e, sobretudo, garantir empregos. Porém, também tem me angustiado a situação dos mais vulneráveis. Grande parte deles tem alimentação precária e não conta com acesso ao saneamento básico, além de enfrentar dificuldades até para cumprir as mais básicas noções de higiene.
Para os mais desprotegidos, são palavras jogadas ao vento a recomendação do uso de álcool em gel e de máscaras cirúrgicas, sem que o poder público providencie a distribuição desses equipamentos de proteção. Isso sem falar nos moradores de rua, que não têm onde cumprir o isolamento social. Eles necessitam mais do que nunca da generosidade e da solidariedade de todos. Porém, o essencial é que o Estado lhes garanta a devida proteção. A morte de uma pessoa não é apenas mero registro estatístico. A vida é o bem mais precioso, sobretudo para a família do ente que partiu. Temos que fazer todo o esforço para preservar vidas.