Campanha da ONU Mulheres mostra como o preconceito contra as mulheres também invade a internet
Experimente digitar no Google frases relacionadas a um suposto comportamento social esperado das mulheres. Use como exemplo este caso: “women shouldn’t” [em português, “as mulheres não deveriam”]. Observe, então, as sugestões de busca mais comuns disponibilizadas pelo site para entender a raiz da campanha da ONU Mulheres, braço das Nações Unidas para a condição feminina no mundo, lançada na última semana. As respostas mais populares para a frase acima mostram o quão desiguais ainda são as condições entre homens e mulheres na sociedade. E como essa disparidade se reflete na internet e na formação da identidade e dos valores sociais de milhões de pessoas que, ao buscarem “mulheres não deveriam”, encontram entre as sugestões mais populares: as mulheres não deveriam ter direitos, não deveriam votar, não deveriam trabalhar. Basta mudar um pouco a estrutura da frase para achar novos exemplos. Busque por “women need to” [as mulheres precisam, em português], e encontre respostas como: as mulheres precisam ser colocadas em seus lugares, precisam ser controladas, precisam ser disciplinadas. E a lista segue. A campanha da ONU estampa justamente as sugestões destas buscas sob as bocas de diversas mulheres, para mostrar que a desigualdade de gênero ainda é grave no mundo. Nos EUA, por exemplo, as mulheres ganham apenas 77% do salário de um homem que ocupa o mesmo cargo, segundo o mais recente Censo do país. Elas também enfrentam dificuldades para serem promovidas a cargos de grande importância. Um dos poucos exemplos de mulheres chefiando companhias multibilionárias é Marissa Mayer, presidente do Yahoo. Mas ainda assim ela não está a salvo do sexismo. Em junho deste ano, ela recebeu uma cantada de um acionista, em meio a uma reunião de negócios [confira o vídeo abaixo]. “Sou um velho safado e você está muito atraente”, disse o grego George Polis. Em 2008, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que uma a cada três mulheres está propensa a ser “agredida, coagida a fazer sexo ou ser abusada de outras formas durante sua vida“.
Para monitorar a desigualdade de gênero, a ONU realiza anualmente o Índice de Desigualdade deGênero, que integra a lista do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos países. Segundo o ranking de 2012, o local onde mulheres e homens têm as condições mais iguais é a Holanda, com um índice de apenas 0,045 – quanto mais próximo do zero melhor, quanto mais perto de 1, mais desigual. Em seguida aparecem a Suécia (0,055) e a Suíça (0,057). O Brasil figura na 85ª posição, com 0,447, atrás de Chile (0,360), Uruguai (0,367) e Argentina (0,380). O ranking leva em consideração aspectos como o índice de mortalidade materna, gravidez na adolescência, participação das mulheres no Parlamento, população acima de 25 anos com ao menos a educação secundária e a participação feminina na força de trabalho. O estudo não considera liberdades individuais como o direito de dirigir, votar ou sair na rua sozinha, vetados às mulheres de alguns países. Confira os cartazes da campanha abaixo:
|
Fonte: Carta Capital
|