O último Mapa da Violência contra Idosos, com base em dados de 2013, mostra um aumento no número de denúncias. As mulheres são as maiores vítimas e os filhos, os algozes em 60% das vezes. Apatia e depressão são consequências
Para conversar com uma pessoa mais velha, antigamente, era preciso quase uma permissão. Uma licença. Uma demonstração de respeito. Quando os pais falavam, então, o silêncio por parte dos filhos era uma obrigação. Ouvir os pais, os avós, respeitá-los acima de qualquer coisa. Mas uma mudança brusca de comportamento da sociedade moderna tornou essas cenas exceções nos relacionamentos entre crianças, adolescentes e idosos. É comum, segundo especialistas, observar a intolerância dos jovens com os mais velhos. Vulneráveis física e emocionalmente, os idosos sofrem de maneira profunda essa agressão. Desde que foi criado, em 2011, o Disque 100, canal criado pelo governo federal para receber queixas de violações dos direitos humanos, dobrou o número de denúncias em relação a maus-tratos contra a pessoa idosa. Estudo dos dados de 2013 desse serviço, feito pela Central Judicial do Idoso, composta por profissionais do Tribunal de Justiça do DF e Territórios, Ministério Público do DF e Defensoria Pública do DF, apontou que o Distrito Federal liderava proporcionalmente o ranking da violência contra idosos. Foram 550,57 casos por 100 mil habitantes. Tal estatística consta no último Mapa da Violência contra a Pessoa Idosa no DF, divulgado no fim do ano passado pela Central, com base em dados de 2013. Por esta publicação, que reúne, além dos dados do Disque 100, as denúncias que chegam à Justiça e à Secretaria de Saúde, os filhos são os algozes em 59% das vezes e a maioria absoluta das vítimas são as mulheres, com 60,3%. Só em 2013, foram 3.052 denúncias, contra 2.089 em 2012. Ainda não foi feito o estudo com os dados de 2014 — o Disque 100 indica uma redução no número de denúncias. Mesmo assim, a realidade preocupa especialistas. Na casa da designer de interiores Anádia D’Cleves Bezerra, 49 anos, os ensinamentos determinaram a formação dos filhos Ana Cristina Bezerra Freire, 22 anos, e Eduardo Bezerra Freire, 26 anos. Os dois são jovens, estão na faculdade, têm uma lista de amigos e de opções de festas, mas, muitas vezes, precisaram ficar em casa com a avó, Maria do Socorro Freire Bezerra, 74 anos. Além da idade, Socorro tem Alzheimer. Precisa de mais paciência e cuidados do que um idoso saudável da sua idade. A filha e os netos não acham ruim, não se irritam nem perdem a paciência. Conversam, brincam, contam histórias, ouvem, fazem qualquer coisa para Socorro se sentir bem. “Isso não é comum. Vejo pessoas sem paciência, reclamando que são lentos, que têm manias, que repetem as coisas. O normal é a intolerância em relação a eles”, comenta Ana. Ela e o irmão cresceram com a avó. Hoje, entendem a situação como uma necessidade de retribuição pelos cuidados que receberam da avó durante a adolescência. “Nunca presenciei nenhuma agressão explícita, mas já vi gente puxando um idoso na rua, para andar mais rápido. Não fazemos isso por conta da criação que tivemos. É claro que, às vezes, me incomodava deixar de ir a uma festa, mas nem por isso eu a destratava. Entendia. Foi ela que cuidou de mim”, lembra Eduardo. Esse comportamento exemplar dos jovens, no entanto, é exceção. O Mapa da Violência contra a Pessoa Idosa mostra que 8% dos agressores de idosos são netos das vítimas. Camila Costa |
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Fonte: Correio Braziliense
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