IBGE divulga dados do primeiro censo quilombola e aponta crescimento da população indígena
Por: Letícia Cassiano
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga nesta sexta-feira (3) o ‘Censo Demográfico 2022 de Quilombolas e Indígenas, por sexo e idade, segundo recortes territoriais específicos: Resultados do universo’. Os dados coletados mostram um aumento da população indígena e inclui os resultados do primeiro censo demográfico quilombola da história.
O primeiro número que chama a atenção é a quantidade de indígenas no país. Enquanto no último censo, de 2010, o Brasil possuía cerca de 896 mil indígenas, o censo de 2022 revela a existência de 1.694.836 pessoas autodeclaradas indígenas. O IBGE adere esse crescimento a inovações metodológicas na coleta de dados, especialmente na transformação territorial das demarcações e nos critérios para indígenas que vivem nas cidades.
Quando se fala na distribuição da população indígena, 44,4% se concentra na região Norte do país, com mais de 700 mil indivíduos. O olhar do censo demográfico, no entanto, foi para as pirâmides etárias dessa população e o desequilíbrio entre homens e mulheres dentro e fora dos territórios oficialmente demarcados pela Funai.
Segundo o Instituto, o perfil do indígena brasileiro é muito mais jovem do que o da “população residente” – como o censo designa pessoas não indígenas. Além de uma possível redução da fecundidade, quase 70% das pessoas indígenas têm 29 anos ou menos. Marta Antunes, responsável pelo Projeto de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE, explica as mudanças na pirâmide etária indígena.
“Quando a gente observa a pirâmide de dentro das terras ela é bem triangular – com uma base da pirâmide, das primeiras faixas etárias da população, mais ampla – e fora das terras ela já apresenta um afunilamento nas faixas etárias mais jovens, o que aponta uma fecundidade mais baixa ou uma possibilidade de migração nessas faixas etárias mais intermediárias para fora das terras em busca de oportunidades ou de necessidades de atender algumas questões da reprodução da vida que dentro das terras podem não estar sendo atendidas”, descreve a pesquisadora.
Outro fato que alerta os estudiosos é a discrepância entre homens e mulheres dentro de território indígena. Em regiões demarcadas há mais homens – as mulheres só possuem certa predominância a partir dos 75 anos. Enquanto nas terras indígenas 71,48% dos indivíduos são do sexo masculino, fora das terras indígenas a coisa muda bastante de figura. Mais de 60% são mulheres e apenas 38% são homens.
Quilombolas
Essa característica também se repete entre as comunidades quilombolas, que estreou este ano como grupo demográfico no censo brasileiro. Em todo o Brasil há 1.330.186 quilombolas, estima o censo, e mais de 68% deles estão concentrados na região Nordeste.
Marta Antunes explica que, assim como nas comunidades indígenas, metade dessa população tem menos de 29 anos, o que denota uma população jovem e “com muito potencial demográfico”.
“Essa publicação inaugura toda uma linha de dados e informações inéditas sobre a demografia quilombola. É uma publicação importantíssima para políticas públicas de direitos básicos humanos, como educação, saúde e assistência social. Essa publicação nos permite conhecer uma realidade totalmente desconhecida sobre a população quilombola”, disse ela sobre o ineditismo do estudo.
A distribuição desigual entre os sexos repete o padrão dos povos indígenas, já que apenas 32,26% dos quilombolas dentro de territórios demarcados são mulheres, contra 48% fora dessas demarcações. Segundo a pesquisadora, isso levanta várias hipóteses que podem estar ligadas à migração e a critérios de pertencimento acionados por mulheres de homens de forma diferenciada.
Fonte: CNN