Corporação pretende oferecer acordo de colaboração ao ex-sargento da Polícia Militar, preso pelo assassinato da vereadora. Comparsa dele, Élcio Queiroz já fechou delação premiada
Após a prisão do ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, delatado pelo ex-policial militar Élcio Queiroz, um dos acusados do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSol-RJ), a Polícia Federal acredita que dará um passo decisivo para encontrar o mandante do homicídio caso o ex-sargento da PM Ronnie Lessa feche um acordo de colaboração com as autoridades.
Segundo fontes ligadas às entidades que apuram o caso, ouvidas pelo Correio Braziliense sob a condição de anonimato, os investigadores pretendem oferecer um acordo de delação para Lessa nas próximas semanas.
Os termos de uma eventual colaboração estão sendo avaliados, devem ser elaborados e apresentados para Lessa, apontado como o responsável por efetuar os disparos que mataram Marielle e o motorista dela, Anderson Gomes, em março de 2018, no Rio de Janeiro.
As diligências conduzidas até agora apontam que Maxwell teve grande envolvimento no caso — foi acusado por Élcio de ter feito campana e monitorado os passos de Marielle. Por sua vez, o delator, que também está preso, confessou ter dirigido o carro usado no ataque.
No entanto, as investigações ainda não estabeleceram uma ligação com o mandante.
A avaliação é de que o crime foi minuciosamente planejado, durante meses, e que Maxwell não tem as informações necessárias para permitir que se chegue ao verdadeiro interessado na morte da vereadora. Não se descarta que a participação dos suspeitos seja detalhada e possa se revelar mais importante no curso das apurações.
Maxwell e Élcio estão detidos na Penitenciária Federal de Brasíliadesde terça-feira. Eles, porém, não se encontram, pois a unidade de segurança máxima deixa os presos em celas individuais. Também existe uma rotina diferente para cada um.
Submetralhadora
A PF também busca confirmar a versão de Élcio sobre a arma usada no crime. Ele disse que a submetralhadora era do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM do Rio e que foi desviada após um incêndio no paiol da corporação. Porém, nem a polícia nem o Ministério Público conseguiram corroborar os fatos narrados. Na PM, não há registro do desaparecimento da arma.
O destino da submetralhadora vem sendo investigado há mais de quatro anos. Em 2019, um denunciante anônimo contou que dois homens alugaram um barco e jogaram uma bolsa e uma caixa no mar, perto do Arquipélago das Tijucas, na altura do Quebra-Mar da Barra da Tijuca, bairro onde Lessa — que já estava preso — tem residência. A polícia, com a ajuda da Marinha, fez buscas por mais de três dias, usando mergulhadores, para tentar localizar o armamento, sem sucesso.
“Revisitamos as provas, produzimos novas provas e, com isso, foi possível chegar a um contexto que será revelado posteriormente, em que um dos autores materiais finalmente assumiu a sua participação e fez aquilo que nós chamamos de delação premiada, fechando a investigação sobre os executores”, afirmou o ministro da Justiça, Flávio Dino, no programa Bom dia, ministro.
“Isso, em si, já é uma novidade, porque até 48h ou até 72h atrás, o que havia publicamente era uma tese de negativa de autoria. Então, há, agora, materialidade e autoria fixadas. Evidentemente, há outros fatos novos que vão surgir nas próximas semanas a partir do conteúdo dessa delação.”