Em entrevista à rádio CBN, ministra disse que se não houver queda de “pelo menos” 0,5 ponto percentual em agosto, Selic não chegará a 12% no fim do ano
A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), criticou, nesta terça-feira (25), a elevada taxa de juros no Brasil e disse ver espaço para um corte de pelo menos 0,5 ponto percentual na Selic (atualmente fixada em 13,75% ao ano) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para os dias 1 e 2 de agosto.
“Os juros a 13,75% [ao ano] e juros reais (descontada a inflação) a 10% é o maior do mundo. Então, há alguma coisa de muito errado no Brasil. Os números não mentem”, disse a ministra em entrevista à rádio CBN. Ela disse, ainda, que no momento em que o Banco Central decidiu elevar a Selic a 13,75%, a inflação estava na casa de 10%, enquanto hoje não chegam a 3,5% no acumulado de 12 meses.
“Isso inviabiliza o crescimento do Brasil. Não é a máquina pública que para, o Brasil para. A indústria para. O comércio não consegue vender, contratar. A alta taxa de juros está sufocando e pode matar o Brasil por inanição. Diante deste quadro, não consigo ver outra alternativa do Copom que não [seja] abaixar os juros”, afirmou.
“Se não tivermos uma queda dos juros de pelo menos 0,5 ponto [percentual], nós não vamos chegar a juros de 12% no final do ano, que continua muito alto. E obviamente, diante desse quadro, cabe à política brasileira, questionar o Banco Central em relação à razão de uma escolha A, B ou C. Por que os juros não caem no Brasil, quando todos os fatores internos contribuem para essa queda de juros”, prosseguiu.
A maioria dos economistas de instituições financeiras projeta, no entanto, que o Copom promova uma redução mais modesta, de 0,25 ponto percentual, nos juros na reunião de agosto. O relatório Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central, mostra que a mediana das projeções dos analistas consultados para a Selic ao final de 2023 é de 12%.
“Se você colocar na balança, sempre tem fatores negativos. Mas o que pesa mais, quando você está falando de corte de juros?”, questionou a ministra.
Durante a entrevista, ela disse que atualmente o clima é de maior estabilidade política e institucional e afirmou que, embora o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não conte com maioria parlamentar, o Congresso Nacional “deu uma demonstração de responsabilidade” ao aprovar medidas como o novo arcabouço fiscal, a reforma tributária e algumas medidas provisórias.
Na conversa com a rádio, Tebet disse que o governo vem mostrando responsabilidade com as contas públicas e repetiu o compromisso de zerar o déficit primário em 2024, conforme previsto no projeto de lei complementar que trata do novo marco fiscal.
“Nossa meta é zerar o déficit no ano que vem, a depender de projetos que serão ou não aprovados no Congresso Nacional, mas que serão apresentados pelo ministro Haddad”, disse. Sobre as medidas para garantir incremento de receitas, a ministra negou que elas representem aumento de impostos.
“Não estamos falando de aumento de alíquota de imposto, nem de aumento de imposto. Estamos falando de receitas que vão ser constituídas pelo Ministério da Fazenda ao apresentar ainda algumas MPVs e projetos de lei ainda neste ano para vigorar a partir do ano que vem, para que possamos, através deste combo, conseguir cobrir as necessidades da população brasileira em relação a um país tão desigual quanto o nosso”, pontuou.
Questionada sobre os rumores de que o PT trabalha pela nomeação do economista Marcio Pochmann para o comando do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a ministra disse que o assunto não foi colocado à sua mesa e que não tratou dele na última conversa com Lula.
“Neste momento, não estamos discutindo mudança de nome. Não chegou nada em relação a qualquer tipo de pedido e não estamos discutindo nomes no IBGE”, disse.