Presidente brasileiro destacou o papel do banco para ‘contornar’ a falta de crédito do FMI e ‘driblar as amarras’ do dólar
Como primeiro grande compromisso na China, o presidente Lula (PT) participou do evento de posse de Dilma Rousseff no Novo Banco do Desenvolvimento (NBD), chamado popularmente de Banco dos Brics, nesta quinta-feira 13 em Xangai. A brasileira ficará no cargo até junho de 2025 e terá a missão, segundo disse Lula, de ajudar os países emergentes a ‘contornar’ os bloqueios de créditos do FMI.
“O Novo Banco de Desenvolvimento tem um grande potencial transformador, na medida em que liberta os países emergentes da submissão às instituições financeiras tradicionais, que pretendem nos governar, sem que tenham mandato para isso”, disse Lula a Dilma durante o evento de posse.
“Nenhum governante pode trabalhar com uma faca na garganta porque está devendo. Os bancos têm que ter paciência e, se for preciso, renovar os acordos. O FMI ou qualquer outro banco, quando empresta para um país do Terceiro Mundo, as pessoas se sentem no direito de mandar, de administrar a conta do país. Como se os países virassem reféns daquele que emprestou dinheiro”, disse, então, interrompendo a leitura do discurso programado.
No discurso, Lula também citou a possibilidade dos financiamentos do banco acontecerem ‘sem as amarras’ do dólar. A iniciativa, defendeu, ajudaria países emergentes a não serem sufocados por nações desenvolvidas. Dilma, em suas declarações, também citou a possibilidade.
“Pela primeira vez, um banco de desenvolvimento de alcance global é estabelecido sem a participação de países desenvolvidos em sua fase inicial. Livre, portanto, das amarras das condicionalidades impostas pelas instituições tradicionais às economias emergentes. E mais: com a possibilidade de financiamento de projetos em moeda local”, celebrou.
“Por que não podemos fazer o nosso comércio lastreado na nossa moeda? Quem é que decidiu que era o dólar? Nós precisamos ter uma moeda que transforme os países numa situação um pouco mais tranquila, porque hoje um país precisa correr atrás de dólar para exportar”, afirmou novamente para além do papel.
No mesmo sentido, prometeu usar também o G20 e o próprio Brics como forma de garantir mais espaços aos países do Sul Global nas discussões das agendas globais. O Brasil irá comandar o grupo de 20 nações em 2024 e assume a liderança do bloco de emergentes em 2025.
O petista ainda saudou o retorno da correligionária – que sofreu um impeachment no Brasil – ao cenário político. Ao longo das declarações reconheceu a importância do mandato de Dilma para a fundação do banco. A instituição, importante lembrar, foi criada em conferência no Brasil durante seu mandato como presidenta do País.
“A posse de uma mulher à frente de um banco global de tamanha envergadura seria por si só um fato extraordinário, num mundo ainda dominado pelos homens. Mas a importância histórica deste momento vai mais além. Dilma Rousseff pertence a uma geração de jovens que nos anos 70 lutaram para colocar em prática o sonho de um mundo melhor – e pagaram caro, muitos deles com a própria vida”, destacou o presidente brasileiro.
Por fim, Lula também citou a chegada de novos membros ao banco e os pedidos de adesão ainda pendentes. O tema será um dos desafios de Dilma Rousseff no comando da instituição. Liberar ou não créditos para a Rússia, um dos países fundadores, também é outra das difíceis missões que a brasileira terá à frente do banco.