Ver-se sem amparo e sem um caminho para recomeçar após passar por agressões físicas e outras violências domésticas é a realidade de muitas mulheres. Só na capital paulista, o número de atendimentos a vítimas desse tipo de violência em 2021 foi superior a 42 mil – um aumento de 75% em comparação com 2020 -, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo.
Para ajudar a quebrar essa rotina de abusos, a ONG Mulher Reviva uniu forças com o Centro de Capacitação Tech Channel e criou o projeto ‘Ocitocine-se’, que oferece atendimento jurídico, psicológico e capacitação na área de manutenção de smartphones para mulheres vítimas de violência doméstica em São Paulo. A ideia é que, com isso, elas tenham chances de ingressar no mercado de tecnologia e conquistar sua independência financeira.
O projeto foi idealizado pela ginecologista Fabiana Berta, que já colaborava com a ONG Mulher Reviva — instituição que auxilia mulheres vítimas de violência a recomeçar suas vidas.
Michelle Menhem, sócia-proprietária da Tech Channel, aceitou o convite de Berta e se tornou madrinha do projeto, disponibilizando oficinas para mulheres que recebem amparo da ONG. “Antes de chegar às salas de aula, essas mulheres sofreram todos os tipos de violência: física, moral, sexual, psicológica e patrimonial”, diz.
Na prática, quem faz a pré-seleção das interessadas é a Mulher Reviva, que encaminha as alunas para uma oficina de duração média de 40 horas. No curso, ensina-se desde a abertura dos smartphones até a soldagem de placas, testes com multímetros e reparos frontais nos aparelhos.
“Com a certificação, as alunas já podem atuar na área de assistência técnica de celulares. O salário inicial é cerca de R$ 1.212,00 mais comissões – mas esse valor tende a subir conforme o nível de conhecimento”, aponta Menhem.
Uma porta de saída para toda a família
Em março, o centro de capacitação formou a primeira turma com 35 alunas. Os seus filhos também são acolhidos e aceitos no curso. Para Menhem, tal união no aprendizado pode gerar caminhos dentro do empreendedorismo para essas famílias que acabaram de passar por experiências traumáticas em seus antigos lares.
“Houve uma turma com 12 adolescentes, que são filhos dessas alunas. Essa é uma chance para que possam atuar na área ou abrir suas próprias empresas”, acredita.
De acordo com a madrinha do projeto, a área tende a se expandir nos próximos anos e ter ainda mais espaço no mercado de trabalho, abrindo portas para o crescimento profissional dessas alunas recém-formadas.
Dica para fortalecer o pilar social das empresas
Menhem diz que a inspiração para o projeto vem, sobretudo, do trabalho já realizado pela ONG Mulher Reviva, que une diversas empreendedoras preocupadas em ajudar e fazer a diferença na vida de outras mulheres. Mas, além disso, afirma que é fruto de uma preocupação com o futuro — algo que está presente em cada vez mais empresas.
“Ações como essa, além de oferecerem benefícios às pessoas que necessitam de apoio, também permitem uma interação da empresa com a sociedade em prol do bem comum”, acredita a sócia-proprietária da Tech Channel.
Para outras companhias buscando fortalecer seus pilares sociais, Menhem aconselha: “O principal cuidado a ser tomado é na escolha do parceiro que irá realizar a ação social, a fim de que o destino dos recursos e objetivo da ação sejam fielmente cumpridos e ligados ao propósito da causa.”
Fonte: Ecoa Uol