Para as mulheres socialistas do PSB, novembro, mês dedicado à celebração da Consciência Negra, possui enorme importância. Além de sermos o país que detém a maior população negra fora da África, e a segunda maior do planeta, os trezentos anos de escravidão deixaram ao Brasil uma dívida histórica para com a sua população negra; os três séculos de torturas reverberam até hoje no enraizamento das desigualdades raciais no país e no aprofundamento das camadas do racismo estrutural.
Os dados estão aí: segundo a OXFAM Brasil, em 2019, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou a pesquisa chamada “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça”, que mostra que pretos e pardos, que são 56% da população brasileira, têm os piores indicadores de renda, moradia, escolaridade, serviços. Já o Atlas da Violência de 2020 mostra que a taxa de homicídios entre negros cresceu 11,5% de 2008 a 2018, enquanto a de não negros caiu 12%. Ao todo, os negros somam 75,9% dos assassinados entre este período. Ou seja: para cada indivíduo não negro morto, 2,7 negros são assassinados.
Há muito a ser reparado, e o debate racial não pode mais ser ignorado. No maior país da América Latina, as mulheres negras formam a base da pirâmide social, compondo a maior parcela da população. É urgente construirmos agendas antirracistas, que promovam o desenvolvimento de políticas públicas para fomentar a inclusão e estimular a redução da pobreza. A população negra é a que mais sente na pele os arroubos infantis do presidente da República. É quem mais sofre com a errônea política econômica de Paulo Guedes. A pandemia foi mais letal em pessoas negras, que também foram as mais atingidas pelo esfarelamento do mercado de trabalho, com o aumento do desemprego.
Na nação defendida pelo PSB em sua Autorreforma, não há mais espaço para a normalização do aniquilamento dos corpos negros, da violência policial desproporcional, e do encaceramento em massa de corpos negros. Precisamos manter nossa juventude viva. Devemos criar projetos e iniciativas que estimulem a geração de emprego e renda, a fim de proporcionar a volta da dignidade aos lares brasileiros. É preciso haver ampliação da representação política, com mais mulheres e negros concorrendo a cargos políticos. A democracia para ser verdadeira precisa, também, da participação dos grupos periféricos: negros, mulheres, índigenas, LGBTQIA+. O TSE apontou que, em 2018, havia uma predominância na candidatura de homens brancos no país. Foram 52,4% candidaturas de pessoas brancas, contra 47,6% de candidaturas de pessoas negras e outras etnias. Quando falamos de candidatos eleitos a discrepância aumenta: 84,9% são homens e 75% do total são declarados brancos.*
As mulheres que integram a SNM repudiam fortemente as ações do atual governo que corroboram para que as desigualdades social e racial ainda sejam chagas que sangram o Brasil. Entendemos que o nosso papel, enquanto agentes políticas, deve ser o de focar na ação conjunta para desenvolvermos políticas públicas e ações partidárias, com objetivo na criação de mecanismos eficazes para combater atos racistas, e buscar uma sociedade mais respeitosa, igualitária, sem preconceito e com mais mulheres, negras, indígenas e brancas, ocupando os espaços de poder. Afinal, como dizem: “enquanto o Brasil não se assumir racista, o negro continuará sendo oprimido”. O Brasil das ruas precisa e anseia se ver representado. Falar é importante, mas fazer é muito mais necessário. A luta antirracista é urgente.
Dora Pires
Secretária Nacional de Mulheres Socialistas do PSB
Fonte: –https://www.oxfam.org.br/