A conclusão está no anuário Época NEGÓCIOS 360º: a agenda ESG ganhou espaço nas maiores companhias brasileiras, que tomaram medidas para reduzir suas emissões de carbono
Entre todas as dimensões analisadas na pesquisa do Época NEGÓCIOS 360º, o maior avanço registrado pelas 418 melhores desta edição foi em Inovação. É evidente o esforço das companhias para recuperar terreno neste quesito. Entre as 30 primeiras colocadas, por exemplo, 87% disseram ter um fundo de investimento corporativo para novas tecnologias, em comparação com 50% da pesquisa anterior. A maioria (63%) comprou ou integrou uma startup (30%, antes).
Em outra dimensão, Desempenho Financeiro, houve melhora, mesmo com a chegada da pandemia, sentida pelas 500 maiores do ranking por receita líquida (recuo de 8,1% no lucro, apesar do aumento de 12,6% no faturamento). São muito importantes as notas mais altas conseguidas pelas melhores em três dimensões: Governança Corporativa, Pessoas e Sustentabilidade (apesar do pequeno recuo nesta dimensão).
Importantes porque se trata de temas da agenda ESG, presentes com frequência nas ações das campeãs dos 25 setores e das seis dimensões, de acordo com os relatos dos seus principais executivos. A pesquisa é conduzida pela Fundação Dom Cabral, parceira de Época NEGÓCIOS na iniciativa.
Governança reforçada é um imperativo crescentemente forte e necessário para garantir a longevidade da empresa e, também, para conseguir recursos num mercado de capitais cada vez mais desenvolvido. Abrir capital e lançar ações na bolsa é hoje um instrumento por vezes essencial de capitalização.
Em 2020, as empresas captaram dessa forma, em ofertas iniciais e sequenciais de ações, R$ 117 bilhões, 31,8% acima de 2019. No primeiro semestre de 2021, o valor alcançava R$ 66,1 bilhões. E quem preza a governança costuma se alinhar às boas práticas de sustentabilidade.
“Na pesquisa, todas as 30 primeiras empresas do ranking das 418 melhores têm relatório de desempenho de acordo com as diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI)”, afirma a estatística Ana Denise Ceolin, a quem coube aplicar a pesquisa, manter contato com as participantes e gerar os rankings das melhores. Essa é uma questão incluída no questionário de Governança Corporativa.
Diversidade de gênero
Pessoas, sempre um assunto muito importante entre as melhores, ganhou tração diante dos cuidados necessários durante a pandemia. É o caso da AeC, campeã de Serviços pela sexta vez consecutiva. Ela tem, como toda companhia de contact center, o trunfo de concentrar pessoal nas centrais para compartilhar equipamentos em quatro turnos por dia. De repente, precisou colocar seus quase 25 mil funcionários em home office.
Uma operação de guerra, mas com resultados positivos. Permitiu atrair talentos: o home office dá mais chance a universitários pela possibilidade de dividir melhor o tempo entre trabalho e estudos. E trouxe, ainda, chance de inclusão de pessoas com dificuldade de locomoção. Há mais diversidade na equipe.
Diversidade, inclusão, constam das prioridades das melhores. Basta ver o exemplo de uma das campeãs desta edição, a B3, número 1 em Serviços Financeiros. A bolsa foi a primeira do mundo a emitir, em setembro de 2021, um Sustainability Linked Bond (SLB) no valor de US$ 700 milhões. São papéis ligados a compromissos de sustentabilidade que, se não cumpridos, levarão a um aumento do juro pago.
Uma das promessas é a de criar, até 2024, um índice de mercado para medir o desempenho de empresas com bons indicadores de diversidade. Outra, a de atingir, até 2026, o percentual de 35% de mulheres em cargos de liderança na própria B3 – gerências, superintendências, diretorias.
Um dos SLBs emitidos pela Suzano, campeã no setor de Papel e Celulose, está ligado ao compromisso de a empresa ter pelo menos 30% dos cargos de liderança ocupados por mulheres até 2025. A participação feminina nesses cargos em 2020 era de 19%, e isso já é uma evolução em relação aos 16% de 2019. Da mesma forma, há um aumento de juros caso a meta não seja atingida.
Caso prático de bons resultados da presença feminina está na Braspress, campeã de Transportes, um setor marcado por homens ao volante. Em 1996, a empresa começou uma experiência com mulheres, mais como marketing, não com propósito de inclusão e diversidade. Surpreendeu-se. As mulheres se mostraram muito cuidadosas na direção e isso chegou aos custos: mais economia de pastilhas de freio e de combustível. A Braspress tem hoje 390 mulheres do total de 1.772 motoristas, e elas dirigem não só veículos leves, como pesados. E quer mais: tem programa para aumentar a presença feminina.
Inclusão racial
Inclusão de raça, outro tópico muito presente. A Schneider Electric, melhor entre todas as 418 participantes em Sustentabilidade, deixou de exigir conhecimento avançado de inglês no programa de estágio para favorecer a entrada de negros, em geral sem condições de ter uma segunda língua. A Vivo, campeã em Telecomunicações, criou um programa de trainee com cota racial mínima de 30%. O grupo acabou com um quadro de 43% de negros. Tem a meta de ocupar ao menos 30% dos cargos de liderança com negros até 2024.
Diversidade está na agenda, ainda, do laboratório Sabin, campeão da Dimensão Pessoas, de certa forma nascido diverso, fundado por duas mulheres. Do total de colaboradores, 77,7% são mulheres e 75,5% dos cargos de liderança são ocupados por elas. Mas o laboratório luta para ter mais negros (são apenas 10%) e mais funcionários LGBTQIAP+ (são só 2%).
Questões ambientais estão muito presentes no radar das campeãs. “As metas relacionadas ao ambiente são muitas vezes fixadas para 2030 ou 2040, mas precisam de mais urgência”, diz Gustavo Werneck da Cunha, presidente da Gerdau, campeã de Mineração e Siderurgia e Empresa do Ano. A Gerdau tem um nível de emissão de carbono 50% inferior à média mundial das siderúrgicas por usar sucata na produção do aço. Mesmo assim, procura constantemente possibilidades de reduzir emissões. É questão de sobrevivência no setor, segundo Werneck: quem não adotar medidas urgentes ficará de fora da escolha dos clientes.
Sabe muito bem disso a SLC Agrícola, campeã de Agronegócio. O consumidor, segundo o presidente, Aurélio Pavinato, quer rastreabilidade, ter certeza de onde vem o produto. Menos química e mais natureza. A SLC adota sistema para localizar exatamente onde estão as pragas para usar menos defensivos. E tem 11 biofábricas para controle biológico de pragas. Outra preocupação: na produção de fertilizantes está a grande emissão de CO2. Daí, a empresa procura os fornecedores com menores emissões.
Títulos SLBs também são usados para compromissos na área ambiental, e a Suzano é a segunda no mundo e pioneira na América Latina a lançar papéis com compromisso de reduzir a intensidade de emissões de gases de efeito estufa. Fez duas captações, no total de US$ 2,25 bilhões. A Natura, campeã de Indústria Farmacêutica e Cosméticos, emitiu igualmente papéis semelhantes (US$ 1 bilhão) com o compromisso de reduzir em 13% as emissões de gases de efeito estufa e reciclar 25% das embalagens plásticas pós-consumo até 2026. Tanto Suzano quanto Natura pagarão juros mais altos se não cumprirem as metas.
Nesta décima edição, os repórteres perguntaram aos presidentes das campeãs o que eles esperam para os próximos dez anos, da economia, das empresas, do país. Agronegócio aparece com frequência com muito destaque – Pavinato prevê uma produção de até 500 milhões de toneladas de grãos, praticamente o dobro da atual. João Alberto Fernandez de Abreu, presidente da Rumo, campeã de Infraestrutura, espera ver boa parte desses grãos escoados pelos trilhos da sua empresa. A Rumo é importante transportadora da safra das regiões produtoras do Centro-Oeste do país para o porto de Santos.
Educação, saúde, aparecem como esperança. Que deixemos de ser um país do futuro para termos uma agenda de futuro, deseja o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior. “Dar cidadania e educação a todos os brasileiros, ter uma distribuição mais equânime, diminuindo a dispersão entre pobres e ricos, ter saúde de primeiro mundo”, diz Lazari. Gilson Finkelsztain, presidente da B3, resume: “Que meus filhos se orgulhem de ser brasileiros e considerem o Brasil como primeira opção para viver. Que o desejo dos jovens seja o de ficar e prosperar aqui”.
Fonte: Época