*Por Jarid Arraes Tereza de Benguela foi uma mulher negra guerreira, líder do quilombo de Quariterê, em Cuiabá. Nessa sexta-feira, ela é símbolo do 25 de Julho, Dia da Mulher Negra no Brasil; no entanto, é necessário muito ímpeto de pesquisa para conhecer mais a seu respeito, já que sua história foi completamente ignorada e apagada. Embora neste ano o reconhecimento oficial finalmente tenha chegado, no final das contas, Tereza ainda é mais uma mulher negra negligenciada pela história brasileira. A história das mulheres negras no Brasil nunca foi dignamente contada: para a maioria das crianças e jovens negras, há pouca esperança de que aprendam sobre figuras femininas negras em quem possam se espelhar. Mas não por falta de referências reais – pois, à exemplo de Tereza de Benguela, existiram e ainda existem muitas -, e sim porque o racismo brasileiro encontra na misoginia um mecanismo eficiente de silenciamento, tentando varrer para debaixo do tapete as vivências inspiradoras de tantas corajosas guerreiras negras. Apesar de tudo, a história da vida de Tereza de Benguela resiste ao tempo, mesmo com o racismo e o machismo, sobrevivendo devido ao esforço incansável de centenas de jovens negras, que buscam por ícones feministas além das intelectuais da Europa e outras mulheres com as quais nem sempre conseguem se identificar. A persistência de Tereza não se deixa ser sufocada nem mesmo por toda a força colonizadora escravocrata que perdura até hoje: as mulheres negras do passado e do presente existem e permanecem lutando para transformar a realidade. Nesse sentido, o dia 25 de Julho não é somente uma data oficial para que uma líder quilombola seja lembrada; é também um dia para que as próprias batalhas travadas pelas mulheres negras de hoje sejam expostas. Cada mulher negra que se mantém caminhando e enfrenta o racismo e o machismo em sua rotina diária é também um ícone de força e celebração da negritude. Independente dos meios pelos quais atuem, toda mulher negra brasileira é uma fortaleza. Seja na preservação de seus ritos religiosos, no trabalho árduo que provê o sustento da família, na coragem de não se calar ou no esforço para transpor as barreiras na direção de uma vida melhor, todas essas mulheres são Tereza de Benguela – bravas líderes da revolução cotidiana. O dia 25 de Julho é, afinal, um dia de luta. Toda mulher negra é um quilombo. *Jarid Arraes é colunista na Revista Forum, feminista, ativista pelos Direitos Humanos. |
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Fonte: Portal Fórum
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