É antiga a discussão sobre a influência dos produtos midiáticos sobre o comportamento das pessoas e quase tão difícil de responder quanto a dúvida sobre quem veio primeiro, o ovo ou a galinha, é determinar se é a mídia a responsável por influenciar a atitude dos seus receptores ou se a mesma é apenas um espelho da sociedade onde está inserida. Entretanto, é fato que essa correlação existe, conforme mais um estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade do Estado de Washington, demonstrou. mulher-objeto
Na pesquisa, baseada em um questionário aplicado a 300 estudantes universitários dos Estados Unidos, seus responsáveis verificaram que os leitores de revistas masculinas como a Playboy e a Men´s Health, também comercializadas no Brasil em versões nacionais, são menos inclinados a buscar o consentimento de suas parceiras e a respeitar os limites sexuais determinados por essas. A hipótese para a causa desse fenômeno levantada pelos autores do estudo é que os artigos dessas revistas, muitas vezes baseados em dicas e conselhos de como se obter uma vida sexual mais satisfatória, geralmente provocam em seus leitores uma falsa impressão sobre como negociar um encontro sexual consensual. No entanto, os responsáveis também pontuaram que essa correlação não significa, necessariamente, que esse tipo de revista é o responsável por estimular nos homens comportamentos selvagens em relação às mulheres; o mais provável, segundo eles, é que os leitores que já apresentam atitudes reprováveis no relacionamento com o sexo oposto, estão mais predispostos a lerem revistas cuja objetificação das mulheres é padrão em seus textos e imagens. O fato, entretanto, é que muito do que aprendemos sobre como agir em um relacionamento sexual-amoroso advém da mídia, por meio tanto de representações quanto de “dicas” sobre a forma ideal de se comportar; e, segundo Stacey Hust, principal responsável pela pesquisa, má informação conduz inevitavelmente a decisões ruins. Esse não é o primeiro estudo a relacionar violência de gênero à mídia, em 2011, psicólogos das universidades de Midlesex e Surrey, no Reino Unido, verificaram que as descrições femininas expostas em revistas masculinas são indistintas das visões expressas por estupradores e, no ano seguinte, um estudo publicado no European Journal of Social Psychology demonstrou que a sociedade é inclinada a enxergar as mulheres da mesma forma que enxerga casas ou um sanduíche – não como um indivíduo, mas como um composto formado por partes atraentes, umas mais que as outras. À época, um dos responsáveis pelo estudo de 2011 afirmou: “Nós não somos desmancha-prazeres ou hipócritas que pensam que não deve haver nenhuma informação sexual e meios de comunicação para os jovens. Mas estão os adolescentes e jovens mais bem preparados para a vivência do amor e do sexo quando normalizam pontos de vista sobre as mulheres que são perturbadoramente próximos aos verificados na linguagem dos criminosos sexuais?”. Apesar dos estudos citados se concentrarem na realidade dos Estados Unidos e da Europa, não é difícil supor que algo similar se aplique ao Brasil ao nos depararmos com os conteúdos dos canais de televisão e das ditas revistas masculinas e verificarmos a violência e o constrangimento a que as mulheres estão expostas todos os dias, como bem demonstrou a pesquisa “Chega de fiu-fiu”, do coletivo ThinkOlga. Por isso a promoção da diversidade e da quebra de monopólio da mídia é sempre bem-vinda, também como forma de enfraquecer essa realidade por meio da oferta de outros tipos de conteúdos, com outras visões. Numa realidade nacional em que cada vez mais a mídia é dominada por apenas um grande grupo brasileiro e players internacionais, Gustavo Gindre, em artigo publicado no Observatório da Imprensa, defende que, para combatermos esse cenário e lutarmos por uma maior pluralidade, devemos abandonar a velha retórica de que apenas algumas famílias dominam os meios de comunicação brasileiros. Hoje o predomínio midiático se divide, principalmente, entre as Organizações Globo, cuja receita líquida é maior do que a soma das receitas dos demais grupos nacionais e o seu endividamento oneroso menor do que o lucro líquido obtido apenas em 2012, e grandes conglomerados mundiais de comunicação. Enquanto Abril S.A., SBT, RBS e outras “grandes” brasileiras vivem, ao contrário da Globo, situação financeira preocupante, gigantes internacionais como Warner, Netflix, Amazone e outrostêm presença cada vez maior no país. Se já era difícil regular empresas brasileiras, o que dizer dos grandes grupos transnacionais… Uma resposta bastante satisfatória foi dada por movimentos sociais através do Projeto de Lei, de iniciativa popular, para uma Mídia Democrática, com texto produzido por militantes da área, aprovado em plenária do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação – FNDC e lançado em 1º de maio de 2013. Consonante a um desejo já expresso pela população em pesquisa conduzida pela Fundação Perseu Abramo, em 2013, em que 71% dos entrevistados se mostraram favoráveis a que haja mais regras para se definir a programação veiculada pelas emissoras, o Projeto se concentra na regulação da comunicação social eletrônica. Seu texto prescreve que o espaço para canais de TV e rádio abertos sejam divididos em três tipos de sistema: sistema público (para canais públicos e comunitários), sistema privado (para canais de empresas privadas de finalidade lucrativa) e sistema estatal (para canais dos poderes do Estado). Nessa nova divisão do espaço, fica definido que 33% do espaço será destinado ao sistema público, sendo metade para os canais comunitários, e os canais públicos não comunitários deverão chegar a pelo menos 80% das cidades brasileiras e ser independentes dos governos. Para acessar o estudo da Universidade do Estado de Washington: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23514364 |
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Fonte: Comunicação & Política
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