Uma das tarefas mais desafiadoras dos socialistas na chamada 4ª revolução industrial é pensar em novos modelos sociais e econômicos capazes de proteger as pessoas da avalanche de desemprego que a Inteligência Artificial promoverá em todo o mundo.
Os prognósticos são os mais obscuros possíveis: dois terços da população serão condenados à inutilidade com o avanço dos robôs. A médio prazo nenhuma atividade humana permanecerá imune à automação.
“Hoje, além de proteger os empregos devemos muito mais proteger os trabalhadores e nos perguntar a partir de agora como é que bilhões de pessoas poderão superar as mudanças que em breve lhes serão impostas, sem que elas venham a perder o equilíbrio mental e sem que sejam ameaçadas puramente de ‘extinção’”, alerta a assessora internacional do PSB, Yara Gouvêa.
Ela falou sobre o tema na palestra ‘Da ditadura à resistência de hoje’, durante encontro da JSB Feminista na última quinta-feira (11). O evento integrou a programação da Juventude Socialista Brasileira no 57º Encontro da União Nacional de Estudantes, na Universidade de Brasília (UnB).
A concentração dos dados em poucas mãos, resultado da 4º revolução industrial, trará como consequência uma desigualdade econômica ainda maior , aprofundando o abismo entre ricos e pobres e criando uma “subespécie” de inúteis, disse Yara.
A democracia é outro bem ameaçado neste processo de avanço da inteligência artificial. Com robôs, as mídias digitais são manipuladas para propalar discursos que inspiram o ódio e a intolerância, afirmou a socialista. “Hoje, precisamos reinventar a democracia, para não sermos vítimas das ditaduras digitais, das discriminações, das opressões, das censuras”, disse.
Para Yara, a reinvenção da democracia implica necessariamente em questionar a propriedade dos dados. “Reinventar a democracia é se perguntar se amanhã poderemos ou não confiar na inteligência artificial escolhendo por nós o que estudar, onde trabalhar, com quem se casar”, adverte.
“Mesmo eliminando a filosofia de nossos currículos, reinventar a democracia é saber que só a ética e a moral poderão intermediar entre nós e a IA”, afirmou.
Durante a palestra, Yara também criticou a reforma da Previdência, aprovada pelo plenário da Câmara dos Deputados na última semana. Segundo Yara, a reforma economiza “em cima” dos mais desfavorecidos para pagar uma dívida pública “impagável”, dos tempos do Império.
“Nenhuma reforma, nenhuma privatização, nenhuma espoliação do nosso povo sofrido será nunca suficiente para pagar uma dívida impagável, enquanto não se fizer dela uma moratória séria para justificar o que realmente dívida e o que deixou de ser a muito tempo”, analisou.
Resistência estudantil
Durante o evento da JSB feminista no Congresso da UNE, a assessora internacional do PSB lembrou os estudantes presos e que tiveram suas vidas marcadas pela tortura, pelo exílio e pela clandestinidade durante os 21 anos do regime militar.
“Eles lutaram pela redemocratização do país e a liberdade com que se faz hoje o atual Congresso da UNE deve-se em parte à luta daqueles que foram perseguidos e tiveram seus direitos cassados”, lembrou.
Além das reformas agrária, educacional, fiscal e urbana propostas pelo então presidente João Goulart, o Golpe de 1964 queria também barrar iniciativas como o Movimento de Cultura Popular, instituído por Miguel Arraes em Recife e que teve em Paulo Freire e seu famoso método de alfabetização.
“O Golpe de 1964 queria barrar também toda e qualquer manifestação em defesa dos trabalhadores urbanos e rurais que eram tomadas por Miguel Arraes, assim como de suas reformas de cunho social”, completou.