Futura ministra das Mulheres, da Família e dos Direitos Humanos é controversa ao tentar unir religião à políticas públicas para as mulheres, indígenas e LGBT
É irônico que o Brasil tenha sido governado pela esquerda por 16 anos e o Ministério das Mulheres, da Família e dos Direitos Humanos se concretize em um governo de extrema-direita. Mais irônico ainda é que a encarregada deste ministério, Damares Alves, busque fortalecer ideais da igreja evangélica para a pauta feminina e indígena. Logo no Brasil, um país, até então, laico.
Alves, em entrevista, que é pastora indicada por Magno Malta e Silas Malafaia, já afirmou que “é o momento de a igreja dizer à nação a que viemos. É o momento de a igreja governar.” É, também, contrária ao aborto, – tendo sido ela mesma estuprada aos 6 anos – exceto em casos de estupro e anencefalia, bem como não acredita que o aborto seja uma questão de saúde pública.
A estimativa é de que o aborto é a quarta causa de morte materna no Brasil. Em 2015, houve 211 mortes por aborto, em 2016, 203. E para cada morte por aborto tem-se 25 casos de mulheres que quase morrem. Esses dados, retirados do site Brasil de Fato, comprovam que aborto é, sim, uma questão de saúde pública. Exceto se o governo ignora por completo a mortalidade de mulheres devido este fim.
Alves é uma mulher controversa. É mãe adotiva de uma menina indígena de 20 anos, ao mesmo tempo em que é uma das fundadoras da ONG Atini, organização que luta pelo fim do “infanticídio” dentro das aldeias. Uma ideia, podemos afirmar, etnocêntrica.
Alves também diz ter ressalvas a respeito das demarcações indígenas e que pretende discutir isso com o presidente eleito, agora que a Funai será integrada ao Ministério das Mulheres, da Família e dos Direitos Humanos e não fará mais parte da pasta da Justiça.
Damares é um frio na espinha para toda mulher que defende a liberdade sob o corpo e as escolhas. É a incerteza do progresso. Se ganha um ministério exclusivo para as mulheres, mas este será administrado por pessoas que admitem que o governo ainda decida sobre os corpos e decisões das mesmas.
É inocência acreditar que este ministério tem o intuito de trazer progresso à pauta feminista. É tudo uma grande jogada de marketing, com pitadas de maldade.
Ninguém, em sã consciência, nomearia uma ministra-pastora que não está sequer aberta a discutir as demandas dos movimentos de mulheres.
Entramos em um novo ciclo de opressão e preconceito. Se estava difícil antes, piorou.
Ninguém solta a mão de ninguém. Vamos juntas, combater o retrocesso.