*Por Lúcia Vânia
Este conteúdo é de responsabilidade do autor, não necessariamente expressa a opinião do PSB Em meio à crise vivida pelo Brasil, só ouvimos clamores de todos os lados: das gestões municipais, das gestões estaduais, das pessoas, das famílias, dos trabalhadores que perderam o emprego, ou que estão tendo que abaixar o seu nível de vida para facilitar a sua sobrevivência; do comércio, que não vende como há alguns meses; da indústria, que não pode produzir na sua capacidade máxima, porque os consumidores não estão comprando no comércio e está demitindo como há décadas não se fazia. É um quadro que tem sido chamado de Decadência Geral. De fato, as pessoas estão se sentindo numa situação de terra arrasada, estupefatas e inseguras, vendo a sociedade próspera em que viviam até há pouco simplesmente derreter. Dentre as muitas, a última má notícia que nos chega ao conhecimento é que a indústria brasileira perdeu o seu status, ou melhor, o Brasil perdeu o seu status de potência industrial. Há pouco repetíamos, com orgulho, que éramos a 10ª economia do mundo, tendo subido de patamar: 8ª, 7ª e, até, a 6ª maior economia. Pois bem, o que temos hoje é um processo de regressão, ocorrido nos últimos 6 anos: a indústria manufatureira, que representa toda a cadeia produtiva de bens de consumo e bens de capital era, em 2010, era a quinta mais competitiva do mundo, dentre os 40 países mais industrializados. A China, outro membro dos chamados BRICs, capitaneava a produção mundial. Era o tempo em que esses países puxavam a locomotiva do desenvolvimento global. Em 2013, quando a população começou a sentir com mais força os efeitos da nossa decadência, fechamos o ano com a nossa indústria em 8º lugar. Agora, em 2016, descemos à 29ª posição. O fato é que, embora a indústria brasileira não esteja vivendo os seus melhores tempos, a queda da produção fabril local tem superado amplamente os padrões globais. Desde a passagem das décadas de 70 para a de 80, quando a China nem existia em termos de parque industrial, e o Brasil já tinha representatividade, até a formação do bloco dos emergentes, a indústria brasileira já começava a definhar, vítima de uma gestão equivocada. Sustentou-se até 2013, quando a produção do nosso parque industrial ainda representava em torno de 1,7% da produção fabril global. A partir daí começamos a descer a ladeira. Em 2015 a sociedade brasileira começou a sentir os sinais de um retrocesso ímpar na história industrial do país. Enquanto o PIB brasileiro caiu 1,6%, o PIB industrial registrou queda de 7%, apenas no primeiro trimestre, sinalizando que é o setor industrial que comanda e difunde a situação de crise para o resto da economia. Mesmo considerando que há uma desaceleração mundial, nas economias mais amadurecidas e nos países considerados emergentes, infelizmente o Brasil se destaca negativamente. A crise da indústria de transformação fica mais evidente se fizermos algumas comparações do que aconteceu ao longo de 2015 no mundo e no Brasil: • no mundo a indústria de equipamentos de transporte teve um crescimento de 8,4%; no Brasil, esse ramo caiu 4%. • no mundo, a indústria de produtos químicos veio em seguida, com 5,7% de crescimento; no Brasil a queda foi de 3,8%. • no mundo, o setor de produção de móveis teve expansão de 4,6%; no Brasil declinou 6,4%. • Por fim, no mundo a indústria de equipamentos elétricos cresceu 4,3%; e no Brasil a queda foi de 3%. De fato, o desempenho da produção industrial brasileira foi aquém da média global não apenas em 2015. O fenômeno começou antes, lá pelos idos de 2011 ou 2012. É essa realidade, de desaceleração de nossa estrutura industrial, atestada por órgãos como a Unido (órgão das Nações Unidas para a indústria) e o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que nos deixa estupefatos e alarmados. E o Iedi atesta, ainda, que, num fato inédito desde 2002, dentre os setores da indústria de transformação, a queda foi maior nos setores com níveis de tecnologia mais avançados. Esse setor que inclui a produção de produtos farmacêuticos, informática, eletroeletrônicos, equipamentos de comunicação e de aparelhos médicos e de precisão, apresentaram retração de 19,8%, uma queda nunca registrada nos anos 2000. Como consequência deste desmanche da indústria brasileira vem, por exemplo, o aspecto humano do desemprego, que já atinge a 10 milhões de brasileiros; vem a perda de investimentos feitos pelas empresas na formação do seu capital humano e que, numa retomada, vai significar anos de aprimoramento técnico; por fim, cai o prestígio do país, perante o mundo. Temos todos, poder público, a sociedade, o empresariado, a responsabilidade de encontrar os caminhos para estancarmos a queda e retomarmos o desenvolvimento tão fundamental para a população brasileira. * Lúcia Vânia é Senadora (PSB), Ouvidora Geral do Senado e jornalista. Artigo publicado originalmente no Jornal Diário da Manhã, em 17 de abril de 2016. |
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Fonte: Jornal Diário da Manhã
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