Os protestos liderados pelos indígenas contra o governo de Lenín Moreno por conta das políticas econômicas acordadas com o FMI geraram uma crise social em outubro de 2019 no Equador, que deixou uma dúzia de mortos, 1.340 feridos e 1.192 detidos.
Milhares de pessoas foram às ruas em resposta ao anúncio de Moreno de eliminar os subsídios a combustíveis para conter o déficit fiscal equatoriano. O fim da concessão, que estava em vigor havia 40 anos, provocou a alta de até 123% nos valores da gasolina e do diesel.
A medida era parte de um pacote de ajustes para cumprir um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), em troca de um empréstimo de US$ 4,2 bilhões.
O estopim para as manifestações que incendiaram o país, levaram à declaração de um estado de exceção (com militares nas ruas e toque de recolher) e forçaram a transferência da sede do governo de Quito para Guayaquil.
“Estamos em uma situação de alarme social. [O governo de Lenin Moreno] assumiu um programa político, econômico e social da direita, que foi derrotada nas urnas. Estamos diante de uma traição de quem chegou à presidência através do povo equatoriano”, afirmou a deputada do Partido Socialista do Equador, Silvia Salgado.
Lenín Moreno foi eleito em 2017 com o compromisso da Aliança PAIS de seguir as políticas econômicas de esquerda do presidente Rafael Correa. Correa havia estabelecido programas de assistência social e conseguiu reduzir a pobreza, aumentando ao mesmo tempo o padrão de vida médio no Equador.
Em meio à convulsão social causada pelo fim do subsídio aos combustíveis, o governo começou a utilizar a Justiça para perseguir e eliminar os partidos políticos de oposição, conta Silvia Salgado na entrevista que concedeu ao Blog da Coordenação Socialista Latinoamericana no dia 30 de novembro de 2019, durante a Conferência Nacional de Autorreforma do PSB, no Rio de Janeiro.
No evento, representantes de partidos socialistas de países da América do Sul relataram a situação vivida em suas regiões e debateram formas democráticas de enfrentar as crises que se apresentam.
O governo de Moreno optou pelo acordo com o FMI por conta de uma economia debilitada ocasionada, em grande medida, pelo perdão de impostos devidos por grandes empresas. “O ministro das Finanças Públicas é representantes dos grandes empresários, das cadeias econômicas do país. E portanto, eles estão governando, eles estão impondo a política econômica. Os banqueiros, os donos dos bancos privados estão governando a política bancária”, explica a deputada.
“Temos um governo que cedeu, um presidente da República que se entregou a esses setores, renegou o seu partido político e sua proposta política. E hoje a extrema-direita é quem dá suporte, acompanhado das grandes empresas de meios de comunicação que ocultam os verdadeiros problemas e que fazem com que o governo se sinta respaldado”, afirma.
Após um dia de expectativas pelo diálogo dos manifestantes que protestaram por 11 dias, Moreno recuou e revogou o decreto que retirava o subsídio aos combustíveis, depois de negociações com os representantes indígenas, mediada por representantes da ONU (Organização das Nações Unidas) e da Igreja Católica.
Assista à entrevista completa.
Fonte: PSB Nacional