Raissa Rossiter
Irmã Dorothy Stang, Marielle Franco e Mãe Bernadete: o que essas três mulheres têm em comum? São lideranças que foram assassinadas pela sua defesa corajosa e intransigente dos direitos humanos nos territórios onde viviam. Irmã Dorothy lutava pela proteção da floresta e pelo acesso à terra de pequenos agricultores no Pará. Marielle denunciava as milícias e seus loteamentos oriundos de grilagem no Rio de Janeiro. Mãe Bernadete morreu porque defendia seu quilombo contra o tráfico de drogas na Bahia.
Apesar das ameaças, o silêncio nunca foi opção para essas mulheres. O que seria do Brasil sem as vozes que desafiam poderes autoritários, denunciando injustiças estruturais e exigindo mudanças? Essas mulheres ousam existir e resistir em um País que as prefere invisíveis ou submissas.
Todos os dias, em todas as partes do Brasil e no mundo, ativistas mulheres defensoras dos direitos humanos e do meio ambiente estão na vanguarda de movimentos por justiça social. O protagonismo das defensoras de direitos humanos, que atuam como políticas, feministas, sindicalistas, religiosas, jornalistas, ambientalistas, enfim, nas mais diferentes áreas, as faz sofrerem ameaças, ataques e diversas formas de violência. Elas enfrentam as discriminações que homens defensores também passam. Todavia, elas carregam estigmas adicionais baseados em estereótipos de gênero, raça e etnia para deslegitimar suas demandas, atacar sua honra e reputação, conforme indica o estudo da ONU Mulheres Brasil. https://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2021/11/Relatorio-Defensoras-Violencia1.pdf
A impunidade dos agressores e o descaso com as denúncias perpetuam uma cultura de violência contra as defensoras dos direitos humanos. Irmã Dorothy Stang, Marielle Franco, Mãe Bernadete e tantas outras provaram que o preço da luta é alto, mas o custo da omissão é ainda maior. Em cada lugar deste País há novas vozes se levantando, mantendo vivo o legado das mulheres que pagaram com suas vidas pela coragem de lutar.
O Dia Internacional das Mulheres Defensoras dos Direitos Humanos, 29 de novembro, nos lembra que, para além das homenagens, precisamos de ações concretas. O Brasil ocupa o absurdo segundo lugar em ranking global de assassinatos de defensores/as de direitos humanos, atrás apenas da Colômbia, de acordo com a ONU. O que estamos fazendo como sociedade para proteger quem defende o direito à terra, à moradia, à segurança e à dignidade? Exigimos que o Estado cumpra seu papel, garantindo a segurança dessas lideranças e punindo rigorosamente seus algozes. Mas não é só isso: cada um e cada uma de nós tem um papel nessa luta.
Proteger as defensoras é, antes de tudo, reconhecer o valor do que elas defendem. É rejeitar narrativas que tentam deslegitimá-las, é apoiar publicamente suas causas, é amplificar suas vozes. Porque, como disse Marielle Franco, “Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?” A resposta está em nossas escolhas, nas políticas que apoiamos, nos silêncios que quebramos.
Concluo com um convite: que a data seja um marco não apenas para lembrar as defensoras que tombaram, mas para reforçar nosso compromisso com as que continuam na linha de frente, muitas vezes invisíveis, mas sempre essenciais à justiça social e à nossa democracia.