Entidade recomenda oito ações para melhorar as diferenças de renda, a violência por parceiros íntimos e a divisão de tarefas que sobrecarrega as mulheres.
Em relatório divulgado nesta terça-feira (25), a ONU recomendou medidas para diminuir as desigualdades de gênero que afetam as mulheres dentro da família. O documento “O Progresso das Mulheres no Mundo 2019-2020: Famílias em um mundo em mudança” identifica 8 ações para avançar os direitos femininos em diversos âmbitos.
“A família é um fator que faz a diferença para meninas e mulheres. Nenhuma instituição tem mais significância para nós do que a família — é o lugar para onde vamos para sermos nutridas e recebermos apoio”, afirmou Phumzile Mlambo-Ngcuka, diretora executiva da ONU Mulheres, durante a cerimônia de lançamento do relatório.
Veja, abaixo, as 8 medidas sugeridas pela ONU:
1. Prevenir a violência contra as mulheres dentro das famílias
“As estatísticas mostram que a casa pode ser o lugar de maior violência para mulheres”, afirmou Phumzile Mlambo-Ngcuka.
Em 2017, cerca de 58% das mulheres vítimas de homicídio foram mortas por um membro da família — cerca de 137 por dia, diz a organização, que analisou 86 países. Além disso, 3 bilhões de mulheres e meninas vivem em países onde o estupro no casamento não é explicitamente tipificado como crime.
Phumzile Mlambo-Ngcuka. Foto de 30 de maio de 2019 — Foto: REUTERS/Henry Romero
“Os Estados têm a obrigação de implementar leis, políticas e programas para eliminar todo tipo de violência contra meninas e mulheres”, diz o texto. Para isso, as leis de família precisam ser reformadas para garantir os direitos das mulheres no casamento, divórcio e custódia dos filhos.
2. Garantir o acesso das mulheres a uma renda adequada
Entre as medidas sugeridas estão licença-maternidade e licença-parental remuneradas e programas sociais para famílias com crianças, com maior apoio para pais e mães “solo”. Segundo o relatório, as mulheres são a maioria dos que criam filhos sozinhos: 84,3%. Nessas casas, o risco de pobreza é maior.
A região da América Latina e do Caribe registra a maior taxa de famílias em que a mulher é a única responsável pelas crianças: 11% (acima da média mundial, que é de 8%).
Mulheres ganham menos e têm mais probabilidade de ficarem desempregadas,aponta relatório da ONU — Foto: StockSnap/Creative Commons
Por outro lado, quando elas permanecem casadas, a participação na força de trabalho cai — enquanto tem o efeito oposto nos homens. De 93 países analisados, apenas 52% das mulheres casadas ou em algum tipo de união está no mercado de trabalho. Em comparação, 96% dos homens na mesma situação está empregado.
A maior percentagem de mulheres que trabalham está entre as que são divorciadas ou separadas: cerca de 73%. Ao todo, 55 a cada 100 mulheres nos países analisados está na força de trabalho. Entre os homens, esse número é de 94 a cada 100.
Normas que definem uma idade mínima ao casar, divórcio e custódia de filhos são, com frequência, discriminatórias. Segundo o texto, é necessário estabelecer legislações que reconheçam a diversidade, incluindo situações de co-habitação e relacionamentos do mesmo sexo — hoje reconhecidos em 42 países.
5. Estabelecer serviços públicos que apoiem a saúde reprodutiva
Melhorar serviços públicos, inclusive de saúde sexual e reprodutiva, é um fator crítico em apoiar famílias e avançar a igualdade de gênero. Ter controle sobre a própria fertilidade está na base do bem-estar das mulheres, diz o texto.
Entre a década de 70 e a de 2020, registrou-se uma queda mundial na quantidade de filhos por mulher ao redor do mundo. No começo desse período, a chamada taxa de fecundidade — número médio de filhos que uma mulher tem em idade reprodutiva — era de 4,4. Hoje, é de 2,4.
6. Implementar políticas e regulações que apoiem famílias migrantes e direitos de mulheres
Migrantes caminham na linha de fronteira entre Ciudad Juárez, no México, e El Paso, no Texas, no dia 9 de maio. — Foto: Jose Luis Gonzalez/Reuters
Políticas econômicas e sociais são necessárias para garantir que migrantes tenham seus direitos garantidos e, além disso, abordar os fatores que levam pessoas a migrarem e deixarem familiares para trás, diz o texto.
Os regulamentos de migração geralmente mantêm as famílias separadas, mas também podem impedir, por exemplo, que as mulheres deixem um relacionamento abusivo. Políticas de imigração que negam a dependentes permissão para trabalhar podem promover dependência legal, financeira e social dentro da família, aumentando riscos para mulheres.
7. Garantir que recursos estejam alocados para políticas que acomodem famílias
Segundo o relatório, as políticas recomendadas no texto para remediar problemas como a diferença de renda e de acesso a serviços de saúde poderiam ser implementadas com menos de 3% do PIB em 41 dos 155 países estudados.
8. Investir em estatísticas que considerem famílias de diferentes formas
Parada Gay em Roma — Foto: Yara Nardi
Em muitos países, censos e pesquisas domiciliares não capturam dados em diferentes formas de família — como, por exemplo, de relações de co-habitação ou entre pessoas do mesmo sexo. Normas sociais vigentes podem tornar difícil incluir certas perguntas em pesquisas, e sua ausência reforça a ideia de que estes tipos de famílias ou relacionamentos são raros ou inexistentes, diz o texto.
No Brasil, por exemplo, as mulheres em relações de co-habitação eram tratadas como solteiras nos censos de 1940 e 1950, e como casadas nos de 1960 e 1970.