Na terceira segunda-feira de julho, no dia 19, a Secretaria Nacional de Mulheres do PSB realizou a quarta reunião virtual para debater a Autorreforma e as mulheres socialistas. A atividade contou com a participação das companheiras que moram na região Sudeste. Participaram como convidadas a vice-governadora do Espírito Santo, Jacqueline Moraes, e Juliene Silva, membra da direção Nacional da Juventude do PSB e secretária-geral da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas. Estiveram presentes também a integrante da Executiva Nacional de mulheres, Salete Ramos; as secretárias estaduais da região Mardelene Jesus, de Minas Gerais; Luciana Santos; do Rio de Janeiro; e Lídia Benages; de São Paulo; a secretária nacional de mulheres, Dora Pires, foi a mediadora.
Com quase quatro horas, a live foi repleta de excelentes análises das participantes, que puderam debater as teses da Autorreforma e assuntos como a questão da violência partidária de gênero e da violência política de gênero. “Esses são os únicos contextos que une os partidos radicais de direita e radicais esquerda, a questão de todas as violências que as mulheres sofrem, no que diz respeito, principalmente, a espaços de poder, e aà insensibilidade que os homens do partido fazem com que a gente tenha”, pontuou Dora Pires, no início do debate.
Juliene Silva, primeira convidada a falar sobre o caderno 4 da Autorreforma, começou sua explanação enfatizando a importância de estabelecer a finalidade que o Partido dará para a Autorreforma, às pautas que devem estar nas discussões e onde as mulheres socialistas querem chegar. “Eu acho que tem dois pontos que a gente precisa pensar muito forte, quando a gente constrói esse caderno de teses sobre o programa partidário. A gente precisa pensar como é que a gente constrói as bandeiras com foco na redução das desigualdade de gênero no País . E, ao mesmo tempo, a gente constrói as nossas bandeiras para que haja a participação massiva das mulheres. Porque a gente sabe que mesmo com a construção que temos agora, com as poucas conquistas que a gente tem, vou dar o exemplo da porcentagem de candidaturas, a gente tem ali a porcentagem de 30% de mulheres, mas, muitas vezes, essas mulheres são laranjas, elas não estão concorrendo de fato, elas não estão, de fato, construindo a política. Então, como é que a gente faz para que esse processo se acerte?”, indagou.
Em seguida, ela abordou as questões raciais e sociais que, ao seu ver, precisam ser incluídas na Autorreforma: “A gente precisa olhar para o próximo lado porque quando a gente fala em outros espaços de poder, parece uma noção muito básica de que, sim, as mulheres podem ocupar outros espaços. Mas existe um outro lado ali que a noção de ocupação de espaço de poder ainda não funciona, porque a gente tá falando, por exemplo, de mulheres negras que estão na faxina. Quando a gente fala de igualdade salarial, a gente tá falando de igualdade salarial para uma mulher que já estudou, que entrou no mercado de trabalho e conseguiu um bom cargo e aí nesse cargo ela precisa de igualdade salarial. Quando você está falando de faxina não está debatendo igualdade salarial, não é esse o problema. O problema foi o processo educacional que foi cortado, o problema são as meninas que, antes mesmo de completar a maioridade, já estão trabalhando dentro da casa de alguma família, o problema são as mulheres que não têm liberdade para criar seus próprios filhos dentro das comunidades, que não têm saneamento básico, que não têm espaço para construção de uma família, de uma vida social, e que muitas vezes essa crítica tem que ser feita. Enquanto partido socialista eu acredito que a gente precisa fazer esse recorte, que não é só sobre ocupação de espaço de poder, mas, é também sobre uma igualdade social, que precisa ser construída nos espaços femininos para que, de fato, a gente tenha um avanço nas nossas pautas feministas,” assegurou Juliene Silva.
Logo em seguida, a vice-governadora do Espírito Santo, Jacqueline Moraes, comentou sobre a tese 368 que tem como proposta: “Para os socialistas, a igualdade de gênero é uma base absolutamente necessária para a construção e afirmação de um Brasil próspero, sustentável e justo. Essa base tem efeitos multiplicadores para o desenvolvimento de uma democracia econômica, social e política substantiva”.
Em sua participação, a vice-governadora apresentou às companheiras, o projeto Agenda Mulher, que, segundo ela, atende perfeitamente a intenção apresentada na referida tese. A iniciativa tem foco no empreendedorismo e é constituída sobre três pilares. A ideia do projeto é dar visibilidade às mulheres. O programa começou com ações de sensibilização, com o objetivo central do empreendedorismo. Jacqueline, abordou a questão da intersetorialidade: “É uma palavra difícil de falar e de fazer, quando você se coloca num cargo de Executivo ou mesmo de Legislativo, a capacidade de construir uma política pública, de desenvolver para as mulheres a segurança, a educação, a saúde, a assistência, o esporte e lazer, são algumas ações das parcerias que nós fizemos.”
Jacqueline Moraes falou, também, como está sendo seu mandato junto ao companheiro socialista, Renato Casagrande: “Aqui, no Espírito Santo, sendo a primeira mulher eleita socialista desde a redemocratização, ao lado de um governo também socialista traz pra gente uma grande responsabilidade. Responsabilidade de reafirmar e afirmar uma política de gênero que seja defendida, pelo nosso partido, que traga visibilidade para as mulheres. O nosso primeiro ponto era o foco de pensar na visibilidade feminina porque é aquela coisa que a gente sempre fala, sororidade.”
Ao final do debate, a secretária especial da Executiva Nacional do PSB e coordenadora da síntese da Autorreforma das mulheres socialista, Mari Machado, compartilhou um episódio que enfrentou com um companheiro socialista: “Hoje eu tive uma conversa com uma liderança partidária e recebi a seguinte pergunta: Por que as mulheres choram e por que muitas vezes as mulheres choram em embates políticos? Eu dei a resposta que nós não temos a mesma natureza dos homens e não queremos ter. A nossa natureza é diferente, queremos igualdade não ser igual a eles. Longe de mim ser uma mulher macho na política que esquece a sua história, a sua trajetória e toda a sensibilidade que nós carregamos ao longo dos muitos anos. Se não fosse a mulher hoje não teria agricultura no mundo. Então essa sensibilidade que a gente traz que nos faz olhar mais pro lado social na política, isso é bom, é ruim não. É uma sensibilidade que muitas vezes os homens tendem a acreditar que seja a fragilidade, porque a gente não tem medo de repor aquilo que sente e eu respondi isso porque nós somos mulheres, temos a nossa natureza e não temos medo de repor aquilo. Que a gente traga desse jeito pra política. Eu acho que a gente tem que ser tático, a gente tem direto da guerra, sabe? Temos que ser, enfim, estratégicas também. Devemos fazer enfrentamento mas a gente não pode perder a nossa natureza que é o mais bonito em nós.”, encerrou.
A próxima e última região a receber a reunião da autorreforma será a região Sul.