Novo relatório que cruza dados da Pnad Contínua de 2023, do IBGE, mapeia situação de mulheres pretas e pardas no mercado de trabalho, e também detectou maior nível de desemprego e menos acesso aos direitos da CLT em comparação com homens brancos
Por: Camila Cetrone
O salário recebido por mulheres negras no Brasil é 47% menor do que a média dos brasileiros, de acordo com novo relatório divulgado nesta quarta-feira (8) pelo projeto Mude com Elas. Enquanto a remuneração média delas é de R$ 1.582, a renda brasileira fecha em R$ 2.982. Elas também ganham 2,7 menos que homens brancos, que têm média salarial de R$ 4.270.
O trabalho também indica que o nível de desemprego entre mulheres negras e jovens, entre 18 e 24 anos, é três vezes maior do que entre homens brancos da mesma faixa etária. Elas também são as que menos têm acesso às proteções garantidas pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).
Enquanto metade dos homens brancos no Brasil têm carteira assinada, esse percentual entre mulheres negras é de 44%. Elas têm menos acesso às ocupações no setor privado com registro, além de enfrentarem alta rotatividade e baixo índice de permanência no posto. Cerca de 40,4% saem do cargo com menos de um ano trabalhando.
Os dados do relatório Situação de Jovens negras no mercado de trabalho foram obtidos por meio de cruzamento de dados do terceiro trimestre de 2023 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além da elaboração do Mude com Elas, o projeto foi implementado pela ONG Ação Educativa.
O projeto também conta com a participação do Instituto Terre des Hommes e do Ministério para Cooperação e Desenvolvimento Alemão.
O trabalho aponta que, entre as razões para baixa empregabilidade no mercado formal de trabalho, com direitos garantidos pela CLT, está a intersecção entre discriminação racial e de gênero nos processos seletivos.
Ainda destaca que a situação de empregabilidade e trabalho entre mulheres negras melhorou desde a pandemia. No entanto, a falta de políticas públicas específicas do Brasil para jovens negras torna difícil sanar essa desigualdade. Além disso, foi detectado que as empresas não contam com um olhar específico para a contratação e retenção deste grupo no mercado de trabalho
“A desigualdade é um fenômeno que infelizmente aparece nos mais diversos aspectos da sociedade brasileira, nas questões jurídicas, econômicas e no mercado de trabalho. E partindo de todos os recortes sociais, as mulheres pretas, em especial as jovens, são as que mais sofrem com todos esses problemas”, avalia Fernanda Nascimento, coordenadora do projeto Mude com Elas.
Ela afirma que, para reverter esse cenário, é crucial investir em políticas públicas efetivas que reconheçam o machismo e o racismo enfrentados por essas mulheres e, assim, tornem possível que elas acessem o mercado de trabalho de forma plena.
No entanto, ela indica que também é preciso reformular as condições das empresas para que seja possível permanecer nelas. “O Mude com Elas acredita que é preciso retomar o debate sobre qualidade dos postos de trabalho. Retomar a Agenda de Trabalho Decente para Juventude e focar na intersecção de gênero e raça é uma chave para produzir políticas públicas”, aponta Nascimento.
Fonte: Maria Claire