Em nota, associação afirma haver descompasso entre promessas de representatividade de gênero e ações da pasta
Mulheres diplomatas manifestaram nesta quinta-feira (22) descontentamento com as promessas não cumpridas pelo Itamaraty sob o governo Lula (PT) no que diz respeito à igualdade de gênero.
Em nota, a Associação das Mulheres Diplomatas Brasileiras falou em frustração com o que chamou de falta de compromisso do ministério com a promoção de uma política de gênero institucionalizada.
A crítica é tornada pública após uma série de nomeações de embaixadores homens para cargos no exterior, em especial aqueles considerados de mais alto valor na carreira diplomática. Monitoramento feito pela associação mostra que, de 47 nomeações do governo Lula, apenas seis (12,7%) são de mulheres.
“As nomeações feitas pela atual gestão traduzem nítido descompasso entre palavras e ações”, afirma um trecho da nota, que relembra o compromisso com a diversidade de gênero que Mauro Vieira, atual ministro das Relações Exteriores, assumiu em seu discurso de posse e em outras ocasiões.
“Passados quase seis meses de gestão, as mulheres diplomatas seguem aguardando medidas que revelem efetivo compromisso com a promoção da equidade de gênero e, sobretudo, respeito ao profissionalismo e à dedicação das mulheres na carreira diplomática brasileira.”
Há muito diplomatas mulheres manifestam o receio de que o discurso proferido por Vieira e as esparsas nomeações femininas fossem apenas uma espécie de token –um símbolo feito para atenuar demandas e reclamações que são feitas no âmbito público. Agora, a insatisfação escalou.
As diplomatas frisam a comparação entre o ministério sob Lula e na gestão de seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL). Números de representatividade feminina, afinal, até aqui são pouco diferentes. Com as novas nomeações do governo do petista, calcula a associação, mulheres correspondem a 15,2% das chefias de missões brasileiras no exterior –no Itamaraty de Bolsonaro, eram 14,2%.
Há também a crítica a quais cargos são reservados para mulheres e quais seguem, tradicionalmente, destinados a homens. Diplomatas argumentam que existe uma espécie de teto de vidro: as mulheres enfrentam dificuldades para ascender na carreira diplomática.
Até aqui, uma das poucas celebrações da associação recém-fundada foi a nomeação de Maria Luiza Ribeiro Viotti para chefiar a embaixada do Brasil nos EUA, um dos mais altos cargos do Itamaraty. Houve ainda a indicação de Maria Edileuza Fontenele Reis para comandar a representação diplomática brasileira em Estocolmo, na Suécia, outra considerada de alto nível.
Por outro lado, foram colhidas várias frustrações, sendo uma das primeiras a indicação, em janeiro, do embaixador Julio Bitelli para a embaixada na Argentina. Havia grande expectativa entre as diplomatas de que o posto, o principal na América Latina, também fosse ocupado por uma mulher.
O Itamaraty sob Lula também deu outros dois indicativos na direção da igualdade de gênero que as diplomatas, no entanto, dizem que precisam ser ampliados: nomeou Maria Laura da Rocha a primeira mulher secretária-geral da pasta –que, assim, assume como ministra interina quando Vieira não está no país – e criou o cargo de alta representante para temas de gênero na diplomacia brasileira.
Mais recentemente, em maio, o ministério contemplou maior proporção de mulheres e negros em uma leva de promoções internas. Segundo a pasta, diplomatas do sexo feminino responderam por 37,5% das proporções a ministro de primeira classe – a proporção geral de mulheres no Itamaraty é de 23% hoje.
O mesmo ocorreu em graus inferiores na carreira, com as diplomatas representando 31,25% das promoções a ministra de segunda classe, 36,4% a conselheira e 32% a primeira-secretária.