Um debate na Comissão Mista de Combate à Violência contra a Mulher sobre a violência de gênero e raça nos espaços de poder destacou aspectos históricos e sociais ligados às mulheres negras. Uma mudança lenta no protagonismo dessa parcela da população já é percebida, mas os desafios persistem e foram enfatizados durante a audiência pública.
A COMISSÃO DE COMBATE À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER PROMOVEU UM DEBATE SOBRE O DIFÍCIL ACESSO DE MULHERES NEGRAS A ESPAÇOS DE PODER. PAPÉIS HISTÓRICOS E SOCIAIS ARRAIGADOS AINDA SÃO ENTRAVES PARA ELAS
A violência de gênero e raça nos espaços de poder foi tema de audiência pública da Comissão Mista de Combate à Violência contra a Mulher. Proposto pela deputada Camila Jara, do PT de Mato Grosso do Sul, o debate levantou os aspectos negativos históricos ligados às mulheres negras que precisam ser superados e a oportunidade de mudança dessa realidade por meio da ocupação dos espaços de poder por essa parcela da população. Professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Thaize Reis citou a autora Lélia González para falar dos três papéis delegados à mulher negra e a consequência deles.
Thaize – A mucama, a mulata, a mãe negra. A persistência desses papéis no imaginário social é um dos entraves para a presença de mulheres negras em espaços de poder. Alguns exemplos são as instituições políticas, econômicas, jurídicas, administrativas, midiáticas e científicas.
A secretária de Igualdade Racial do Ceará, Zelma Madeira, argumentou sobre a racialização da sociedade brasileira.
Zelma – Os dados elucidam a condição precária de vida dos grupos racializados de forma subalterna. As pessoas negras representam menos de 15% do total de cargos de tomada de decisão no Executivo federal. Então eu só encontro razão de ser dessas desvantagens se eu entendo uma sociedade racializada e como é que ela vai distribuindo seus benefícios e vai gerando essas desigualdades. E aí nós fazemos parte, como mulheres negras, dos grupos racializados de uma forma subalterna, bem como os povos originários.
A presidente da União Nacional dos Estudantes, Manuella Mirella, ressaltou o protagonismo das mulheres iniciado em alguns espaços e mencionou seu exemplo.
Manuella – Um exemplo de violência de gênero e raça é o Congresso Nacional como um todo. Mas comissões como essa me trazem esperança de que nós estaremos cada vez mais ocupando espaços que nos foram negados historicamente. A universidade é um espaço de poder e decisão do Brasil. Sou a segunda mulher negra e a primeira mulher negra e nordestina a presidir a União Nacional dos Estudantes. Eu sou formada em química pela Universidade Federal Rural de Pernambuco e hoje sou estudante de engenharia ambiental. Muitos acham que a juventude negra não poderia ocupar o espaço da ciência, da tecnologia, da inovação.
Também participaram do debate com as parlamentares da comissão, que é presidida pela senadora Augusta Brito, do PT do Ceará, representantes do Coletivo Quintal de Palmares e do grupo Trabalho Estudos Zumbi.