Ana Paula Braga e Marina Ruzzi, ambas de 24 anos, descobriram no movimento feminista um caminho importante: ajudar as mulheres em situação de violência a buscarem seus direitos
Uma em cada cinco mulheres de até 18 anos já foi vítima de estupro ou violência sexual, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). De acordo com o Mapa da Violência divulgado em 2012, duas em cada três pessoas atendidas no SUS em consequência de violência doméstica ou sexual são mulheres. Um levantamento feito pela Agência Patrícia Galvão constatou que, a cada dois minutos, cinco mulheres são espancadas. Os dados são alarmantes, mas tem muita gente empenhada em mudar este cenário. As advogadas Ana Paula Braga e Marina Ruzzi, ambas de 24 anos, fazem parte deste quadro. Feministas declaradas, elas decidiram promover a igualdade de gênero por meio do acolhimento abrindo um escritório voltado ao atendimento de mulheres, o “Braga & Ruzzi”, que começou a funcionar no fim de maio. “A gente sentiu que existia uma demanda muito grande de mulheres por advogadas feministas ou que fossem mais sensíveis”, contou Ana Paula em entrevista à Marie Claire. “Dos casos de divórcio aos de pensão, passando por estupro e violência doméstica, existe uma carência de atendimento e julgamento que entendem as especificidades femininas. Precisamos exigir que o Poder Judiciário considere a igualdade de gênero, temos que trazer teses jurídico-feministas para o Direito.” Apesar do lançamento recente, elas já contam com um número inesperado de clientes, muitas delas motivadas pela recente mobilização contra a cultura do estupro. A seguir, Ana Paula e Marina falam do machismo ainda presente no Poder Judiciário, do despreparo das autoridades no atendimento às vítimas e de algumas questões ainda desconhecidas pelas mulheres no que diz respeito à luta por mais direitos. As advogadas Ana Paula Braga e Marina Ruzzi criaram um escritório voltado ao atendimento das mulheres (Foto: Marcos Santos) Marie Claire – O Direito no Brasil ainda é machista? MC – Faz diferença vítimas mulheres serem defendidas e julgadas por mulheres? MC – Existe um despreparo das autoridades no trato de casos de violência contra a mulher? MR – Falta sensibilidade. O tratamento por parte das autoridades também muda quando a vítima está desacompanhada de um advogado. Mas é quando está sozinha que ela precisa de mais cuidado, de alguém amparando seus direitos. MC – Qual o primeiro passo que uma mulher deve tomar na hora da denúncia? MR – Quando você faz só o B.O., essa queixa não segue adiante, vira só uma estatística, não um inquérito policial. Neste caso, ela perde a chance de processar. MC – Quais outras questões as mulheres ainda desconhecem no sentido de buscar ajuda e denunciar? AP – A Lei Maria da Penha também não se trata de uma estratégia só contra agressão física. A violência doméstica envolve ainda violência psicológica – da ameaça ao controle de ações, como regular conversas, não deixar trabalhar… Tudo isso é relacionamento abusivo e está protegido por ela. MC – O que é preciso melhorar no atendimento das vítimas? MR – Em caso de violência doméstica, a Lei Maria da Penha prevê atendimento multidisciplinar às vítimas. Como é um ato que mexe com a nossa autoestima e psicológico, o Estado tem a obrigação de oferecer profissionais aptos a atendê-las em um tempo hábil. Poucas cidades, no entanto, tem estrutura pra isso, que quando acontece é só seis meses após a queixa ter sido prestada. Fora que é um atendimento previsto apenas em casos de violência doméstica, mas deveria ser estendido a outros âmbitos. MC – A criação da Delegacia de Defesa da Mulher 24 horas [aberta em São Paulo] é um avanço importante? MC – Como ajudar as vítimas a tomar a iniciativa de denunciar? AP – Para isso a gente precisa trabalhar grupos de mulheres mesmo. Quando a gente compartilha e fala sobre as coisas, conseguimos perceber que aquela situação foi violenta. Quando ela ouve relatos de denúncia que foram efetivos, se sente mais estimulada a denunciar. O movimento feminista é importante pra isso. Daniela Carasco |
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Fonte: Marie Claire
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