O último relatório do Serviço Jesuíta para os Migrantes, “O tráfico de seres humanos. O negócio do comércio de pessoas”, assinala que o tráfico de pessoas movimenta já quase tanto dinheiro quanto o comércio de drogas e armas. O tráfico ilegal de seres humanos movimenta entre sete bilhões e 10 bilhões de dólares ao ano. Até dois milhões de crianças estão sujeitas à prostituição no comércio sexual mundial e 20,9 milhões de pessoas são vítimas do trabalho forçado (55% são mulheres e crianças).
A reportagem é publicada por Obras Misionales Pontificias – España, 24-07-2015. A tradução é de André Langer. O tráfico ilícito de pessoas é o comércio que está experimentando um crescimento muito rápido, convertendo-se em um “próspero negócio que não deixa de crescer na nova economia mundial”, diz o relatório do Serviço Jesuíta para os Migrantes. Segundo a Organização das Nações Unidas(ONU), combinando o tráfico de longa distância com o contrabando entre fronteiras, emerge um panorama global de “comércio de seres humanos”, que afeta ao menos quatro milhões de pessoas cada ano, e que movimenta recursos financeiros que podem chegar aos 10 bilhões de dólares. A forma de tráfico detectada com mais frequência é a exploração sexual (79%), mas existem outras duas formas de exploração de pessoas: a que tem como finalidade a exploração do trabalho e o tráfico para o comércio de órgãos. Se somássemos os números do comércio de seres humanos com os lucros obtidos com o tráfico de migrantes, segundo a Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), essa cifra subiria para 39 bilhões de dólares ao ano, “cada vez mais próximo do tráfico de drogas e armas”. Assim, segundo o novo relatório do SJM, redigido por María José Castaño Reyero, pesquisadora do Instituto Universitário de Estudos sobre Migrações (Pontifícia Universidade de Comillas), embora o narcotráfico ainda constitua a forma mais rentável de comércio ilícito, o crescimento do comércio ilícito de pessoas é muito preocupante. Alerta para o fato de que “o tráfico de pessoas, que se transformou na nova escravidão do século XXI, constitui a mais sórdida das formas em que se desloca a mão de obra no mundo”. O tráfico de seres humanos constitui um mecanismo mediante o qual se consegue escravizar uma pessoa. Mas a escravidão e o tráfico não são a mesma coisa. Assim, uma das peculiaridades do tráfico é a ausência de um fato violento na hora do recrutamento, posto que costuma ser realizado com o artifício de obter um emprego. Devido à feminização da pobreza é mais fácil que uma mulher seja vítima do tráfico de pessoas do que um homem. A Organização Internacional das Migrações estima em 500 mil o número de mulheres que entram todos os anos na Europa Ocidental para serem exploradas sexualmente. A maioria procede de países em subdesenvolvimento e sua trajetória a partir desses países é degradante. Os responsáveis de recrutá-las – que podem chegar a cobrar até 500 dólares por cada uma – geralmente o fazem com falsas promessas de emprego como modelos, secretárias ou funcionárias em um país rico. Mas, também algumas delas sabem que vão ao exterior para fins de prostituição, e o fazem, não apenas com o mero consentimento de suas famílias, mas com o seu entusiasta apoio. O relatório cita algumas das numerosas rotas de escravidão sexual como a que vai de Mianmar, China e Camboja à Tailândia; a que vai da Rússia aos Emirados do Golfo; a que vai das Filipinas e Colômbia ao Japão; ou a que se orienta do Brasil, Paraguai, Colômbia e Nigéria para a Espanha. O relatório também assinala que “desde o desaparecimento da Cortina de Ferro, dezenas de milhares de mulheres e meninas foram ‘exportadas’ da Rússia, Ucrânia, Moldávia e Romênia para serem exploradas nas cidades da Europa Ocidental e do Japão”. No negócio do tráfico para exploração sexual existe outro grupo particularmente vulnerável: as crianças e adolescentes. Segundo a Unicef, até dois milhões de crianças estão sujeitos à prostituição no comércio sexual ao redor do mundo. Mas o tráfico de menores apresenta outras manifestações muito graves: a adoção ilegal de crianças estrangeiras, o tráfico de órgãos, o sequestro de menores para serem utilizados nos conflitos armados (menores soldados) ou no exercício da mendicidade, muitas vezes acompanhada pela realização de atividades criminosas. Entre as crianças vítimas, encontram-se em especial situação de vulnerabilidade aquelas nascidas no ambiente do tráfico, os chamados “bebês âncora”, utilizados por falsos pais para facilitar sua entrada e permanência irregular em um território ou o dos menores utilizados pelos traficantes para coagir a sua mãe para o exercício da prostituição. A segunda forma de exploração de pessoas detectada com maior frequência é o tráfico para a exploração de trabalho. Segundo a Organização Mundial do Trabalho (OIT) o dado global de pessoas vítimas de trabalho forçado – que para esta organização se assimilaria ao tráfico – atinge 20,9 milhões de pessoas. Esta exploração se materializa em setores como a construção civil, a agricultura, o setor têxtil, o serviço doméstico, as empresas de transporte e a mendicidade. O Serviço Jesuíta para os Migrantes-Espanha é uma rede de entidades dedicadas ao acompanhamento, serviço e defesa das pessoas migrantes e suas organizações. |
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Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – IHU
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