Yes, nós temos Lupita! Também temos Beyoncé, Oprah Winfrey, Rihanna… Mas não precisamos atravessar as Américas ou o Oceano Atlântico para procurarmos referência de mulheres negras, que além de muito poderosas, são influentes e verdadeiras inspirações em seus respectivos segmentos. Apesar de muitas delas não estarem em nossos brancos livros de História ou menos citadas do que deveriam ser em arquivos de rádio e TV, elas fizeram diferença e, sem dúvidas, ajudaram com seus tijolos resistentes a construir um Brasil em que o negro tem sim a sua relevância intelectual, política e artística.
Luciana Lealdina
Nascida em Porto Alegre em 13 de junho de 1870, Luciana Lealdina de Araújo ficou conhecida como “Mãe Preta”. Após chegar ao município de Pelotas, também no Rio Grande Sul, iniciou sua vida de dedicação às crianças negras e em 1901, fundou o Asilo São Benedito, onde voluntárias negras alfabetizavam e ensinavam habilidades domésticas para meninas carentes. Em 1908, Luciana foi para Bagé, e deu origem ao Orfanato São Benedito com a ajuda de sua amiga Florentina Ferreira e de suas três filhas: Alice, Avelina e Julieta. O trabalho social feito principalmente com pequenos negros, filhos de ex-escravos tomou grandes proporções e deu origem a uma creche para crianças pobres. A “Mãe Preta” gaúcha morreu em 1930 e o seu legado, que foi digno de encantamento de nomes como o poeta Olavo Bilac, ainda perdura até os dias de hoje. Ruth de Souza
Uma das principais damas da dramaturgia brasileira. A atriz, que nasceu em 12 de maio 1921 no Rio de Janeiro, foi a co-fundadora do Teatro Experimental do Negro (TEN), liderado por Abdias do Nascimento, durante a década de 40. O grupo foi imprescindível para a construção de uma nova escola de dramaturgia e ajudou na valorização e na inserção de muitos artistas negros na mídia da época. Ruth, tem muitos motivos para nos orgulhar, entre eles o fato de ser a primeira atriz negra a subir no palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com a peça O Imperador Jones, de Eugênio O’Neill e por ter recebido uma bolsa de estudos da Fundação Rockefeller, para estudar na Faculdade de Harvard e na Academia Nacional de Teatro nos Estados Unidos. Em 1968, torna-se integrante do elenco da Globo, onde foi a primeira negra a protagonizar uma telenovela, a “Cabana do Pai Tomás”. E ela não para! Mesmo com seus 93 anos, ela ainda é uma presença em diversas produções. Aizita Nascimento
Ela foi a primeira miss negra do país. Na época em que o concurso agitava todos os estados brasileiros, Aizita, de 14 de julho de 1939, era até então uma jovem enfermeira e conquistou a faixa de Miss Renascença, no Rio de Janeiro, em 63. Levou toda a sua beleza negra para o Miss Guanabara do mesmo ano, porém, amargou apenas o 6º lugar. Saiu do palco com o coro de um público indignado com o resultado e que gritava “Queremos a mulata! Queremos a mulata! Queremos a mulata!”. Sua participação na premiação abriu um precedente importantíssimo na exaltação e valorização da beleza e auto-estima da mulher preta. Em 1964, Vera Lúcia Couto recebeu o título de Miss Guanabara e depois de mais de 20 anos, em 1986, Deise Nunes tornou-se a primeira(e única) negra a ganhar o concurso de Miss Brasil. Zezé Motta
“Pérola negra”, “negra gata” ou qualquer adjetivo que enalteça o talento e a veia vanguardista da atriz e cantora Zezé Motta ainda é pouco. Lembro-me dela quando eu era bem pequena e frequentávamos o mesmo salão em Copacabana, o Afrodai, e, para mim, ela tornou-se a minha primeira referência de mulher negra bem-sucedida fora de casa. Frequentadora do Tablado, tradicional escola de teatro carioca, iniciou sua carreira em 1967, na peça Roda-Viva de Chico Buarque. Mas a sua “hora da estrela” chegou em 1976, quando deu vida a icônica Xica da Silva, que elevou a sua carreira ao patamar internacional. Ela sempre mesclou seu lado cantora, sua “negra melodia”, com a atuação. Ao lado de nomes como Elis Regina e Maria Bethânia, Zezé participou do especial Mulher 80, na Rede Globo, que exibiu uma série de entrevistas e musicais cujo tema era a mulher e a discussão do papel feminino na sociedade, a partir das principais vozes femininas da época. Ao lado do falecido Marcos Paulo, ela interpretou em “Corpo a Corpo”, novela de 1984, um dos primeiros casais interraciais da TV, o que na época gerou muitas críticas e polêmicas, o que levou ao rompimento do romance no decorrer da trama. Pinah Ayoub
A “Cinderela Negra” de idade não revelada mostrou a beleza da mulher preta brasileira e das nossas escolas de samba pelo mundo, quando em 78 encantou o Príncipe Charles, que quebrando todos os protocolos, caiu na festa ao som da bateria da Beija-Flor. As imagens rodaram o globo e todos queriam saber quem era aquela linda moça dos cabelos raspados – uma verdadeira ousadia para a época. Sim, a sua carne é de carnaval e seu coração é igual. Mas Pinah foi além do título “mulata tipo exportação”, formou-se em contabilidade e ao lado do seu marido, o empresário Elias Ayoub, administra a loja Palácio das Plumas, em São Paulo, supermercado-referência entre carnavalescos e foliões de todo o país. |
Fonte: Modices
|