A BBC revelou sua lista de 100 mulheres inspiradoras e influentes no mundo para 2023.
Entre elas estão a advogada de direitos humanos Amal Clooney, a estrela de Hollywood America Ferrera, a ícone feminista Gloria Steinem, a ex-primeira-dama dos EUA Michelle Obama, a proprietária de empresa de cosméticos Huda Kattan e a jogadora de futebol vencedora da Bola de Ouro Aitana Bonmatí.
Num ano em que o calor extremo, os incêndios florestais, as inundações e outros desastres naturais dominaram as manchetes, a lista também destaca mulheres que têm trabalhado para ajudar suas comunidades a enfrentar as alterações climáticas e a agir para se adaptar aos seus impactos.
No mês da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP28, destacamos 28 Pioneiras do Clima entre as 100 mulheres inspiradoras e influentes de 2023
Os nomes na lista não estão em uma ordem específica
Afroze-Numa, Paquistão
Pastora
Uma das últimas pastoras Wakhi, Afroze-Numa cuida de cabras, bois selgavens e ovelhas há quase três décadas.
Tendo aprendido o ofício com a mãe e as avós, ela faz parte de uma tradição secular do vale Shimshal, no Paquistão, que está desaparecendo.
Todos os anos, essas pastoras levam seus rebanhos para pastagens localizadas a 4.800m de altitude, onde preparam laticínios que serão trocados por outros produtos, enquanto seus animais se alimentam.
A renda delas trouxe prosperidade à aldeia e permitiu-lhes proporcionar educação aos seus filhos. Afroze-Numa ainda se lembra com carinho de ter sido a primeira mulher no vale a ter um par de sapatos.
Timnit Gebru, Estados Unidos
Especialista em inteligência artificial
Cientista da computação com grande influência em inteligência artificial, Timnit Gebru é fundadora e diretora-executiva do Instituto de Pesquisa de Inteligência Artificial Distribuída (DAIR, na sigla em inglês), criado para ser um “espaço independente, com pesquisa em IA livre da influência generalizada das big techs”.
Ela criticou um viés racista em tecnologias de reconhecimento facial e foi cofundadora de uma entidade sem fins lucrativos que trabalha para melhorar a inclusão da população negra na inteligência artificial.
Nascida na Eitópia, a cientista da computação faz parte do conselho da AddisCoder, que ensina programação para estudantes etíopes.
Enquanto trabalhou como co-líder de ética em IA do Google em 2020, ela foi coautora de um artigo acadêmico que trouxe à tona problemas nos modelos de linguagem de IA, incluindo vieses estruturais contra minorias, populações marginalizadas e determinadas localidades.
O estudo culminou na saída dela da empresa – naquele momento, o Google respondeu que o artigo ignorou pesquisas relevantes e disse que Gebru havia decidido sair. No entanto, ela disse que foi demitida por levantar problemas de discriminação no trabalho.
Iryna Stavchuk, Ucrânia
Consultora de política climática
Uma das principais especialistas em políticas climáticas, Iryna Stavchuk juntou-se recentemente à Fundação Europeia para o Clima como gerente do programa na Ucrânia, com o objetivo principal de conceber soluções verdes e à prova do clima para a recuperação do seu país no pós-guerra.
Antes de assumir a função, trabalhou para o governo ucraniano como vice-ministra do Ambiente de 2019 a 2022 e foi responsável pelas políticas relacionadas a alterações climáticas, integração europeia, relações internacionais e biodiversidade.
Stavchuk também é cofundadora de duas ONGs ambientais relevantes — a Ecoaction e a Associação de Ciclistas de Kiev (U-Cycle) — e coordenou redes regionais de grupos da sociedade civil que trabalham em questões de alterações climáticas.
Nossa tarefa é fazer o nosso melhor no lugar e na situação em que nos encontramos. Sigo as palavras de São Francisco de Assis: “Comece fazendo o que é necessário; depois faça o que é possível; e de repente você estará fazendo o impossível”.
Iryna Stavchuk
Christiana Figueres, Costa Rica
Diplomata e negociadora de política climática
Quando as negociações foram interrompidas no encontro climático da ONU em Copenhagen, em 2009, Christiana Figueres foi chamada para resolver um problema.
Nomeada Secretária Executiva da Convenção das Nações Unidas (para o estabelecimento de normas e metas sobre) Alterações Climáticas, Figueres passou os seis anos seguintes desenvolvendo um plano para garantir que os diferentes países concordassem com uma estratégia climática compartilhada.
Graças, em parte, ao seu trabalho, representantes de quase 200 interesses distintos assinaram o histórico acordo de Paris de 2015 — um tratado internacional que estabelece o compromisso de manter o aumento da temperatura média global “bem abaixo” de 2,0ºC acima dos níveis pré-industriais.
Figueres é cofundadora da Global Optimism, uma organização que trabalha com empresas para adotar soluções climáticas práticas.
Às vezes me sinto dominada pela dor e fico paralisada pelas minhas emoções, incapaz de agir. Outras vezes, sinto raiva e sou sequestrada por minhas emoções, querendo reagir. Mas, nos melhores dias, uso minha dor e raiva para me ancorar na raiz das minhas emoções, transformando-as em um compromisso profundo de agir a partir da força, do amor e da alegria, ajudando a criar o mundo melhor que todos desejamos para os nossos filhos e seus descendentes.
Christiana Figueres
Huda Kattan, Estados Unidos
Fundadora de uma empresa de produtos de beleza
Nascida nos EUA, filha de imigrantes iraquianos, Huda Kattan cresceu em Oklahoma e rejeitou uma carreira corporativa tradicional para seguir a sua paixão pela beleza.
Formada por uma conceituada escola de maquiagem em Los Angeles, ela construiu uma clientela de celebridades, incluindo várias famílias reais por todo o Oriente Médio.
Desde então, ela se tornou a marca de beleza mais seguida no Instagram, com cerca de 50 milhões de seguidores.
Kattan fundou sua marca de cosméticos, a Huda Beauty, em 2013, com uma linha de cílios postiços. Hoje, seu negócio bilionário abrange mais de 140 produtos, vendidos em cerca de 1.500 lojas em todo o mundo.
Esi Buobasa, Gana
Peixeira
Natural de Fuveme, uma aldeia ganense arrasada pelo mar implacável, Esi Buobasa sentiu em primeira mão o impacto das alterações climáticas.
Com o marido e os cinco filhos, ela foi forçada a migrar à medida que o nível do mar subia, tornando a sua propriedade inabitável.
Uma importante pescadora da sua aldeia, Buobasa e seus colegas criaram uma associação para ajudar as pescadoras da região, que estavam com sua fonte de rendimento ameaçada pela erosão da costa.
A aliança, que hoje conta com cerca de 100 membros, reúne-se semanalmente para discutir questões que afetam as mulheres no negócio da pesca e faz contribuições financeiras para apoiar famílias necessitadas.
Nós nos desesperamos toda vez que as ondas fortes chegam. A morte vem para nós e para a próxima geração.
Esi Buobasa
Neha Mankani, Paquistão
Parteira
Quando inundações devastadoras atingiram o Paquistão no ano passado, a parteira Neha Mankani viajou a áreas afetadas para ajudar quem precisava.
Por meio de sua instituição de caridade, Mama Baby Fund, Mankani e a sua equipe distribuíram kits de parto que salvaram vidas, além de cuidados obstétricos, a mais de 15 mil famílias afetadas pelas cheias.
Seu trabalho se concentra em ambientes com poucos recursos, reação emergencial e comunidades afetadas pelo clima.
O Mama Baby Fund já arrecadou dinheiro suficiente para lançar um barco-ambulância que transporta mulheres grávidas de comunidades costeiras para tratamento urgente em hospitais e clínicas próximas.
O trabalho das parteiras em comunidades que enfrentam desastres relacionados ao clima é vital. Somos socorristas e ativistas climáticas. Nós ajudamos mulheres a receberem os necessários cuidados reprodutivos, de gravidez e pós-parto, mesmo quando a situação ao redor está se deteriorando.
Neha Mankani
Renita Holmes, Estados Unidos
Ativista de habitação
Moradora do bairro Little Haiti, em Miami, Madame Renita Holmes é a diretora fundadora da O.U.R. Homes, um escritório de consultoria empresarial e imobiliária no Estado americano da Flórida.
Ela faz campanhas pelo direito à habitação por comunidades marginalizadas, incluindo aquelas afetadas pela gentrificação do clima, com o aumento de preços dos imóveis em áreas mais distantes da costa causado pela elevação do nível do mar.
Criada por uma mãe solteira de 11 filhos, Holmes é hoje idosa e vive com deficiência.
Ela é participante do programa Empowering Resilient Women do Cleo Institute, que busca incentivar ativismo climático por meio da educação apoiada na ciência. E auxilia agências locais de habitação em questões relacionadas às mulheres afroamericanas e das grandes cidades.
Há esperança em reconhecer o nosso vínculo feminino com a Mãe Terra. Somos resilientes, fortes, feitas para nutrir; agimos e cuidamos.
Renita Holmes
Rukshana Kapali, Nepal
Ativista da habitação
Integrante da nação indígena Newa, do Nepal, a ativista transgênero dos direitos humanos Rukshana Kapali sofreu com a falta de informação sobre sua identidade quando era criança.
Ela embarcou em um caminho próprio de autoeducação em torno da diversidade de gênero e sexualidade. Ela se assumiu quando adolescente e é vocal nas redes sociais sobre questões relacionadas aos direitos queer.
Ela atualmente está no terceiro ano do curso de Direito e é ativamente envolvida no avanço dos direitos legais e constitucionais para pessoas LGBTQ+ no Nepal.
Kapali vem de uma casta historicamente marginalizada dentro da etnia Newa, os jugi, e luta contra os despejos forçados do povo jugi de suas casas tradicionais.
Wanjira Mathai, Quênia
Consultora ambiental
Líder inspiradora para todo um continente, Wanjira Mathai tem mais de 20 anos de experiência na defesa de mudanças sociais e ambientais.
Ela liderou o Movimento Cinturão Verde, uma organização indígena que empoderou mulheres com o plantio de árvores, criada pela mãe de Wanjira, Wangari Maathai, vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2004.
Mathai é hoje diretora-gerente para África e Parcerias Globais do World Resources Institute e presidente da Fundação Wangari Maathai.
Ela atua como conselheira do Bezos Earth Fund na África, da Clean Cooking Alliance e da European Climate Foundation.
A ação é “local”. Precisamos apoiar iniciativas locais, como empreendedores que trabalham com árvores e o trabalho liderado pela comunidade em torno da restauração, das energias renováveis e da economia circular. Esforços de baixo para cima como esses me dão esperança, pois nos mostram o que é possível.
Wanjira Mathai
Jetsunma Tenzin Palmo, Índia
Bhikṣuṇī, freira budista
Nascida na Inglaterra na década de 1940, Jetsunma Tenzin Palmo adotou o budismo na adolescência.
Aos 20 anos ela viajou para a Índia e tornou-se uma das primeiras ocidentais a ser ordenada como monástica budista tibetana.
Para promover o status das mulheres praticantes, Tenzin Palmo fundou o Convento Dongyu Gatsal Ling em Himachal Pradesh, na Índia, que abriga mais de 120 freiras.
Ela é mais conhecida por passar 12 anos vivendo em uma caverna remota no Himalaia, três dos quais em estrito retiro de meditação. Em 2008, ela recebeu o raro título de Jetsunma, que significa Venerável Mestre.
Paulina Chiziane, Moçambique
Escritora
Com seu livro de estreia lançado na década de 1990, Balada de Amor ao Vento, Paulina Chiziane tornou-se a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique.
Criada nos arredores da capital de Moçambique, Maputo, Chiziane aprendeu português numa escola católica. Estudou línguas na Universidade Eduardo Mondlane, mas não chegou a se formar.
Seu trabalho foi traduzido para vários idiomas, como inglês, alemão e espanhol. Com o livro A Primeira Mulher: Um Conto de Poligamia, ganhou o moçambicano Prêmio José Craveirinha.
Mais recentemente ganhou o Prêmio Camões, considerado o mais prestigiado de escrita em língua portuguesa.
Shamsa Araweelo, Somália/Reino Unido
Ativista contra a Mutilação Genital Feminina
Impulsionada por sua determinação em acabar com a mutilação genital feminina (MGF), Shamsa Araweelo educa e sensibiliza por meio dos seus poderosos e diretos vídeos publicados on-line.
Araweelo, que nasceu na Somália, mas atualmente vive no Reino Unido, foi submetida, aos seis anos de idade, à mutilação genital feminina, um procedimento em que os órgãos genitais de uma mulher são parcial ou totalmente removidos por razões não médicas.
Com mais de 70 milhões de visualizações no TikTok, ela quer garantir que ninguém esteja desinformado.
Ela agora auxilia cidadãs britânicas presas no exterior que enfrentam violência baseada na honra. Também presta consultoria sobre MGF à Polícia Metropolitana de Londres e abriu sua própria instituição de caridade, chamada Garden of Peace.
Fabiola Trejo, México
Psicóloga social
Quando a psicóloga social Fabiola Trejo iniciou sua jornada acadêmica, há quase duas décadas, não havia qualquer pesquisa no México dedicada a estudar o prazer sexual das mulheres como uma questão de justiça social.
Trejo abriu caminho com seu trabalho, que analisa a desigualdade social, a violência de gênero e o poder político do prazer sexual, e busca promover a justiça sexual para as mulheres.
Ela argumenta que algumas desigualdades tornam as mulheres mais vulneráveis sexualmente. Com palestras, pesquisas científicas e workshops práticos, ela ajuda as pessoas a explorar o prazer, os orgasmos e a masturbação de maneiras que superem essas questões.
Seu trabalho ressoa na América Latina e nas comunidades de língua espanhola, onde questões relacionadas à saúde feminina e à sexualidade permanecem um tabu.
Izabela Dłużyk, Polônia
Gravadora de som
Gravador na mão, Izabela Dłużyk prepara-se para captar os sons extraordinários de Białoweiza, uma das florestas mais antigas e mais bem preservadas da Europa, na Polônia.
A gravadora de campo é incomum não só por ser uma jovem que exerce uma profissão dominada por homens, mas por ser cega desde o nascimento.
Dłużyk desenvolveu uma sensibilidade especial ao canto dos pássaros desde que ganhou de sua família um gravador, aos 12 anos de idade, e é capaz de identificar espécies utilizando somente os ouvidos.
Ela acredita que é um privilégio compartilhar “todo o bem, a beleza e o conforto” que os sons da natureza têm a oferecer, “independentemente de quaisquer diferenças que cada um pode perceber”.
Anamaría Font Villarroel, Venezuela
Física de partículas
Pesquisadora da física de partículas, a professora Anamaría Font Villarroel dedica-se à teoria das supercordas, que busca explicar todas as partículas e forças fundamentais da natureza, modelando-as como minúsculos fios vibrantes de energia.
A pesquisa feita por Font aprofundou a compreensão das consequências da teoria no que diz respeito à estrutura da matéria e à gravidade quântica, que também são relevantes para a descrição dos buracos negros e dos primeiros momentos após o Big Bang.
Ela já recebeu o prêmio Fundación Polar na Venezuela e este ano foi escolhida como homenageada do prêmio Mulheres na Ciência da Unesco.
Anna Huttunen, Finlândia
Especialista em tecnologia de impacto de carbono
Como entusiasta da mobilidade sustentável, Anna Huttunen defende uma mobilidade mais verde, limpa e eficiente na cidade finlandesa de Lahti, ganhadora do prêmio Capital Verde Europeia 2021.
Ela lidera o modelo inovador da cidade, de comércio de carbono individual – o primeiro aplicativo no mundo a permitir que os cidadãos ganhem créditos ao usarem transportes ecologicamente corretos, como bicicletas ou transporte público.
Ela trabalha como Conselheira de Cidades Neutras para o Clima na NetZeroCities, uma organização que ajuda as cidades europeias a tentarem atingir a neutralidade climática até 2030.
Huttunen espera atrair outras pessoas para a mobilidade sustentável. Ela é uma grande defensora do ciclismo, que considera o futuro do transporte nas cidades.
Os municípios de todo o mundo estão cheios de pessoas incríveis que trabalham para permitir que os seus cidadãos tenham uma vida mais sustentável. Faça a sua parte, participe e seja parte da transformação!
Anna Huttunen
Neema Namadamu, República Democrática do Congo
Ativista pelos direitos das pessoas com deficiência
A rede Hero Women Rising, ou Mama Shuja, visa a melhorar as condições de vida das mulheres e adolescentes da República Democrática do Congo.
Ativista pelos direitos das pessoas com deficiência, Neema Namadamu fundou a organização, que utiliza a educação e a tecnologia para amplificar as vozes das mulheres e ensiná-las a defender os seus direitos.
Nascida numa região remota do leste do Congo, Namadamu contraiu poliomielite aos dois anos de idade. Ela foi a primeira mulher com deficiência de seu grupo étnico a se formar na universidade.
Tornou-se integrante do parlamento e foi conselheira do ministério do gênero e da família do país.
Arati Kumar-Rao, Índia
Fotógrafa
Trabalhando no Sul da Ásia, a fotógrafa independente, escritora e exploradora da National Geographic Arati Kumar-Rao documenta alterações na paisagem causadas pelas mudanças climáticas.
Ela registra o esgotamento drástico das águas subterrâneas, a destruição de habitats e a aquisição de terras para a indústria, que devastam a biodiversidade e reduzem as terras comuns, deslocando milhões e empurrando espécies para a extinção.
Kumar-Rao viaja pelo subcontinente indiano há mais de uma década, e as suas histórias contundentes revelam como a destruição ambiental afeta os meios de subsistência e a biodiversidade.
Seu livro, Marginlands: India’s Landscapes on the Brink, resume as experiências daqueles que vivem nos ambientes mais hostis da Índia.
Na raiz da crise climática está a lamentável perda da nossa ligação elementar com a terra, a água e o ar. É imperativo que recuperemos essa conexão.
Arati Kumar-Rao
Jennifer Uchendu, Nigéria
Defensora da saúde mental
A ambição da organização SustyVibes, liderada por jovens e fundada por Jennifer Uchendu, é tornar a sustentabilidade acionável, identificável e interessante.
O trabalho recente de Uchendu focou na exploração dos impactos da crise climática na saúde mental dos africanos, especialmente dos jovens.
Em 2022, ela criou o projeto Eco-Anxiety Africa (TEAP) para se dedicar a validar e promover a defesa dos africanos afetados pelas emoções climáticas através de pesquisa, influência social e psicoterapia para conscientização dos efeitos do clima.
Seu objetivo é trabalhar com pessoas e organizações interessadas em mudar mentalidades e em realizar o trabalho árduo e muitas vezes desconfortável de aprender sobre as emoções climáticas.
Sinto uma série de emoções quando se trata de crise climática. Aos poucos estou aceitando o fato de que nunca serei capaz de fazer o suficiente, mas que posso, em vez disso, fazer o meu melhor. Mostrar-me solidária com os outros para agir, descansar e simplesmente ser, me ajuda a proteger os meus sentimentos relacionados ao clima.
Jennifer Uchendu
Dehenna Davison, Reino Unido
Membro do parlamento
Em 2019, Dehenna Davison tornou-se a primeira deputada conservadora de Bishop Auckland desde sua criação, em 1885. Ela tornou-se secretária para Igualdade em 2022, com foco em mobilidade social e regeneração.
Em setembro de 2023 ela renunciou, falando abertamente sobre seu diagnóstico de enxaqueca crônica.
Quando Davison tinha 13 anos, seu pai foi morto com um único soco, catalisando sua trajetória na política. Ela fundou o Grupo Parlamentar de Todos os Partidos sobre Ataques de Um Soco (One Punch) e faz campanha com One Punch UK por reforma judiciária e penal.
Ela também dedica-se a melhorar os caminhos de tratamento para enxaqueca crônica e a fazer campanha por mais financiamento para pesquisas sobre câncer lobular invasivo.
Astrid Linder, Suécia
Professora de segurança no trânsito
Durante décadas, os automóveis foram fabricados utilizando bonecos de testes de colisão baseados no homem médio — embora as estatísticas mostrem que as mulheres correm maior risco de ferimentos ou morte em caso de colisão frontal.
A engenheira Astrid Linder trabalhou para mudar isso, liderando o projeto de criação do primeiro boneco de teste de colisão feminino de tamanho médio do mundo, que leva em consideração a morfologia do corpo das mulheres.
Professora de Segurança no Trânsito no Instituto Nacional Sueco de Pesquisa Rodoviária e de Transporte (VTI) e professora assistente na Universidade Chalmers, Linder é especialista em biomecânica e prevenção de lesões no trânsito.
Trần Gấm, Vietnã
Proprietária de uma empresa de biogás
Em 2012, Trần Gấm começou a introduzir fontes de energia mais amigáveis ao clima em fazendas do Vietnã.
A mãe de dois filhos percebeu uma lacuna no mercado e começou seu negócio instalando e administrando usinas de biogás em Hanói. A operação foi posteriormente expandida para três províncias vizinhas.
Seu projeto ajuda agricultores a reduzir custos transformando estrume de vaca e porco, aguapé e outros resíduos em biogás. Considerado uma fonte de energia muito mais sustentável que o gás natural, o biogás pode ser utilizado como energia para cozinhar e para o funcionamento de uma casa.
Empresas como a de Trần envolvem as comunidades locais e geram o apoio político necessário para a mitigação das alterações climáticas.
Temos de viver, e temos de viver bem, por isso tento lidar e proteger as pessoas queridas melhorando a nossa saúde através do exercício físico, de uma dieta equilibrada e da manutenção dos padrões de sono. Também encorajo as pessoas a viverem um estilo de vida orgânico, cultivando suas próprias frutas e vegetais, e lutando contra o uso de pesticidas nos nossos vegetais.
Trần Gấm
Rumaitha Al Busaidi, Omã
Cientista
“Mulheres e meninas, vocês fazem parte da solução climática” é o título da palestra TED Talk de 2021 da cientista omanense Rumaitha Al Busaidi, que teve mais de um milhão de visualizações e reflete sua defesa dos direitos das mulheres árabes.
Foi a expertise de Al Busaidi que levou-a à posição que ocupa no Conselho da Juventude Árabe para as Mudanças Climáticas e na Sociedade Ambiental de Omã.
Ela também aconselhou a administração Biden sobre o fornecimento de ajuda estrangeira informada sobre o clima, e o governo da Groenlândia no turismo sustentável.
Ela é a mulher mais jovem de Omã a chegar ao Polo Sul e fundadora da WomeX, uma plataforma para ajudar mulheres árabes a desenvolver habilidades de negociação comercial.
A solução número um para superar as alterações climáticas é capacitar as mulheres e as meninas. O efeito multiplicador que elas têm nas suas comunidades mudará as percepções e ações e protegerá este lugar que chamamos de lar.
Rumaitha Al Busaidi
Oksana Zabuzhko, Ucrânia
Escritora
Autora de mais de 20 obras, entre ficção, poesia e não-ficção, Oksana Zabuzhko é considerada uma das maiores escritoras e intelectuais da Ucrânia.
Internacionalmente, ela é conhecida por trabalhos como Field Work in Ukraine Sex e The Museum of Abandoned Secrets.
Ela é formada pelo departamento de Filosofia da Universidade Shevchenko de Kiev e tem doutorado em Filosofia das Artes.
Seus livros foram traduzidos para 20 línguas e ganharam vários prêmios nacionais e internacionais, entre os quais o Prêmio Literário da Europa Central Angelus, o Prêmio Nacional Shevchenko da Ucrânia e a Ordem Nacional da Legião de Honra Francesa.
Paramida, Alemanha
DJ e produtora musical
Muito antes de protestos eclodirem no Irã no ano passado, a DJ Paramida já desafiava as restrições culturais para mulheres de ascendência iraniana.
Paramida descobriu sua paixão pela música e pela dança enquanto morava entre Frankfurt e Teerã na adolescência. Agora ela mora em Berlim.
Inspirada na icônica história da dance music, sua gravadora Love On The Rocks hoje promove uma cultura de dança eufórica e alternativa.
Como DJ residente do Berghain’s Panorama Bar em Berlim, tornou-se mundialmente procurada e uma produtora musical de sucesso. Ela usa o espaço que conquistou para desafiar os padrões de gênero na indústria musical e na vida noturna ambas dominadas por homens.
Sara Al-Saqqa, Territórios Palestinos
Cirurgiã-geral
A primeira mulher cirurgiã de Gaza, a Dra. Sara Al-Saqqa trabalha no maior hospital da cidade, o Al-Shifa.
Ela tem usado sua conta do Instagram para documentar a experiência de tratar pacientes em meio à guerra. O hospital Al-Shifa foi fortemente atingido com a intensificação da ofensiva de Israel contra o Hamas.
Al-Saqqa tem postado sobre a falta de eletricidade, combustível, água e alimentos, o que impede o hospital de tratar adequadamente seus pacientes. Ela teve que deixar Al-Shifa pouco antes de soldados israelenses invadirem o hospital, no que as Forças de Defesa de Israel descreveram como uma operação contra o Hamas.
Al-Saqqa estudou medicina na Universidade Islâmica de Gaza e cirurgia na Universidade Queen Mary, em Londres. Ela não é mais a única cirurgiã em Gaza, uma vez que outras mulheres seguiram seus passos.
Elham Youssefian, Estados Unidos/Irã
Consultora de clima e deficiência
Advogada de direitos humanos e deficiente visual, Elham Youssefian é uma fervorosa defensora da inclusão de pessoas com deficiência em abordagens relacionadas às alterações climáticas, especialmente quando se fala de resposta de emergência a incidentes climáticos.
Nascida e criada no Irã, Youssefian emigrou para os EUA em 2016. Hoje, desempenha um papel fundamental na Aliança Internacional para a Deficiência, uma rede global de mais de 1.100 organizações que representam pessoas com deficiência.
Sua missão é educar os tomadores de decisão sobre suas obrigações quando se trata do impacto das alterações climáticas em pessoas com deficiência. Ela também defende o imenso potencial das pessoas com deficiência na luta contra a crise climática.
Nós, como indivíduos com deficiência, já provamos repetidamente a nossa capacidade de superar desafios complexos e encontrar soluções mesmo quando nenhuma parece existir. As pessoas com deficiência podem e devem estar na linha de frente da batalha contra as alterações climáticas.
Elham Youssefian
Sofia Kosacheva, Rússia
Bombeira
Originalmente professora de canto lírico, Sofia Kosacheva encontrou outra vocação quando conheceu um grupo de bombeiros em 2010.
Ela virou bombeira e criou uma comunidade para treinar voluntários no combate a incêndios florestais na Rússia. E criou mais de 25 grupos de voluntários em todo o país.
Ela ajudou a apagar centenas de incêndios em toda a Rússia e colaborou com o Greenpeace, até que a ONG foi oficialmente rotulada como “organização indesejável” e a sua filial russa foi fechada.
Kosacheva também criou um site para bombeiros florestais voluntários, considerado o banco de dados on-line mais completo, em russo, com informações sobre prevenção e o controle de incêndios florestais.
Não importa quão generalizada a crise climática seja, todas as grandes conquistas começam pequenas. Pode parecer que somos pequenos demais para mudar algo globalmente, mas devemos começar pelas mudanças que podemos fazer ao nosso redor.
Sofia Kosacheva
Michelle Obama, Estados Unidos
Advogada, escritora e ativista
A ex-primeira-dama dos Estados Unidos Michelle Obama é a criadora da Girls Opportunity Alliance, apoiadora de organizações globais que trabalham para garantir que meninas recebam a educação que merecem.
Outra iniciativa de Michelle, a Let Girls Learn, lançada quando ela ainda era primeira-dama, envolveu o governo para ajudar jovens meninas do mundo todo a ter acesso a uma educação de qualidade.
Como primeira-dama, ela defendeu três outras iniciativas importantes: a Let’s Move! visa a ajudar os pais a criar filhos mais saudáveis; a Joining Forces apoia servidores das Forças Armadas americanas, veteranos e suas famílias; e a Reach Higher — na qual ainda atua — que incentiva os jovens a cursar o ensino superior.
Olena Rozvadovska, Ucrânia
Defensora dos direitos das crianças
Ajudar as crianças ucranianas a processar o trauma de guerra é a missão de Olena Rozvadovska. Ela é cofundadora da Voices of Children, uma instituição de caridade que oferece apoio psicológico.
A organização começou como uma iniciativa popular em 2019, quatro anos depois de Rozvadovska ter atuado como voluntária perto da linha da frente em Donbass, quando os separatistas apoiados pela Rússia começaram a lutar contra a Ucrânia.
A fundação conta hoje com mais de 100 psicólogos trabalhando em 14 centros, além de uma linha direta gratuita. E já ajudou dezenas de milhares de crianças e pais.
Rozvadovska participou do documentário indicado ao Oscar A House Made of Splinters e, com sua equipe, publicou o livro War Through the Voices of Children.
Natalie Psaila, Malta
Médica
Malta tem algumas das regras restritivas mais rigorosas sobre o aborto na Europa, e Natalie Psaila ajuda mulheres que necessitam de informação e aconselhamento.
Ela cofundou a Doctors for Choice Malta e defende a descriminalização e legalização do aborto, além de um melhor acesso à contracepção.
Psaila diz que a proibição quase total em Malta, onde as interrupções só são permitidas se a vida da mulher estiver em risco, significa que as mulheres tomam comprimidos sem supervisão médica. Ela criou uma linha de apoio para mulheres antes, durante e depois do aborto.
Ela também publicou um livro de educação sexual destinado a crianças de 10 a 13 anos, chamado My Body’s Fantastic Journey, para ajudar a ampliar o conhecimento sobre saúde reprodutiva no país.
Claudia Goldin, Estados Unidos
Economista e ganhadora do Prêmio Nobel
Historiadora econômica e economista do trabalho, a americana Claudia Goldin foi a vencedora do Prêmio Nobel de Economia deste ano pelo seu trabalho sobre empregabilidade feminina e as causas das diferenças salariais entre homens e mulheres.
Ela é apenas a terceira mulher a receber o prêmio e a primeira a não dividir a premiação com colegas do sexo masculino.
Goldin é professora de economia na Universidade de Harvard e pesquisa temas como desigualdade de renda, educação e imigração.
Alguns de seus artigos mais influentes analisam a história da busca das mulheres por carreira e família, e o impacto da pílula anticoncepcional nas decisões de carreira e casamento das mulheres.
Louise Mabulo, Filipinas
Agricultora e empresária
Em 2016, o tufão Nock-Ten atingiu partes de Camarines Sur, nas Filipinas, arrasando 80% das terras agrícolas.
Louise Mabulo desafiou a devastação fundando o Cacao Project logo após. A organização pretende revolucionar os sistemas alimentares locais com uso de agroflorestas sustentáveis.
Mabulo capacita os agricultores, desmantela sistemas alimentares destrutivos e defende uma economia verde liderada pelas zonas rurais, devolvendo o controle para as mãos daqueles que cultivam a terra.
Ela assessora o desenvolvimento de políticas climáticas internacionais, amplificando histórias e conhecimentos rurais. E foi reconhecida pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente como Jovem Campeã da Terra.
Me dá esperança saber que os movimentos em todo o mundo estão sendo feitos por pessoas como eu, manejando um futuro com paisagens verdes que conectem comunidades e no qual nossa alimentação seja sustentável e acessível. Nesse futuro, as nossas economias são circulares e impulsionadas por princípios justos e equitativos.
Louise Mabulo
Lala Pasquinelli, Argentina
Artista
“Mulheres que não estavam na capa (de revista)” é uma criação da artista Lala Pasquinelli, fundada em 2015 para questionar os estereótipos de beleza e a representação das mulheres na mídia e na cultura popular.
O projeto está por trás de campanhas virais que convidam as mulheres a reavaliarem a narrativa em torno dos seus corpos, incluindo questões como envelhecimento e dieta. Sua recente ação #HermanaSoltaLaPanza (Irmã, pare de encolher a barriga) destacou histórias reais de pessoas de todas as formas e tamanhos.
Advogada, poetisa, lésbica e ativista feminista, Pasquinelli trabalha para desfazer ideais homogêneos de beleza feminina que ela diz serem “classistas, sexistas e racistas” e alimentam ainda mais a desigualdade de gênero.
Clara Elizabeth Fragoso Ugarte, México
Motorista de caminhão
A caminhoneira Clara Elizabeth Fragoso Ugarte dedicou 17 anos de sua vida a uma indústria sabidamente dominada pelos homens, viajando por todo o México por algumas das estradas mais perigosas do país.
Natural de Durango, Fragoso Ugarte casou-se aos 17 anos, é mãe de quatro filhos e avó de sete.
Como ‘trailera’, como são chamadas as caminhoneiras no México, ela passa a vida na estrada, entregando mercadorias no México e nos EUA.
Ela também ajuda a treinar jovens motoristas e quer inspirar outras mulheres a entrar na indústria, a fim de alcançar a igualdade de gênero no mundo do transporte rodoviário de cargas pesadas.
Georgia Harrison, Reino Unido
Personalidade da TV
Após Georgia Harrison ter sido vítima de abuso sexual por imagens, ela decidiu usar sua história para ajudar a combater a violência contra as mulheres e mudar a forma como o Reino Unido entende o consentimento.
A personalidade da TV, conhecida por suas aparições em programas como Love Island e The Only Way is Essex, liderou uma campanha por uma emenda ao projeto de lei de segurança on-line do Reino Unido que facilite a responsabilização por crimes de abuso com imagem íntima, também conhecidos como “pornografia de vingança”.
Harrison agora pede que as plataformas digitais sofram consequências mais duras por hospedar imagens ou filmagens registradas ou compartilhadas sem consentimento.
Camila Pirelli, Paraguai
Atleta olímpica
Embora sua especialidade seja o heptatlo, foi competindo nos 100m com barreiras que Camila Pirelli chegou às Olimpíadas de Tóquio.
Conhecida pelo apelido de Pantera Guarani, a atleta detém diversos recordes nacionais do atletismo, além de ser técnica esportiva e professora de inglês.
Pirelli cresceu em uma família com consciência ambiental em uma pequena cidade do Paraguai, onde viu de perto os impactos das mudanças climáticas.
Ela é agora uma Campeã EcoAthlete, ou seja, está comprometida a usar a sua plataforma desportiva para encorajar as pessoas a falar sobre as alterações climáticas e a tomar medidas para reduzir as emissões de carbono.
Cresci em uma cidade em que ver animais selvagens era uma ocorrência diária. Saber que esses mesmos animais estão sofrendo por causa das alterações climáticas me preocupa e me faz querer ajudar.
Camila Pirelli
Yael Braudo-Bahat, Israel
Advogada
Como co-diretora da Women Wage Peace (WWP), Yael Braudo-Bahat traz sua experiência na advocacia para um movimento de paz com bases sólidas e cerca de 50 mil integrantes.
Criado em 2014, a WWP busca negociar uma resolução política para o conflito Israel-Palestina, enfatizando o papel das mulheres no processo de paz.
Ao longo dos últimos dois anos, a WWP colaborou com a iniciativa “irmã” palestina, a Women of the Sun.
Braudo Bahat diz que ela deve muito à sua mentora, a proeminente pacifista e co-fundadora da WWP, Vivian Silver, que dedicou décadas de sua vida a promover entendimento e igualdade entre israelenses e palestinos. Silver foi morta no ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023.
America Ferrera, Estados Unidos
Atriz
Um rosto amplamente reconhecido do mundo do entretenimento, a premiada atriz, diretora e produtora America Ferrera é famosa por vários papéis icônicos — incluindo o recente sucesso de bilheteria Barbie, Mulheres Reais Têm Curvas e a série de sucesso Ugly Betty.
Ela tornou-se a pessoa mais jovem a ganhar um Emmy na categoria de atriz principal por seu papel em Ugly Betty — e a primeira latina. Ativista de longa data, Ferrera é uma oradora prolífica sobre os direitos das mulheres e a necessidade de ter mais representatividade nas telas.
Filha de imigrantes hondurenhos, ela faz campanha para melhorar a vida das latinas nos EUA por meio de sua organização sem fins lucrativos, Poderistas.
Sagarika Sriram, Emirados Árabes Unidos
Educadora e conselheira climática
A adolescente Sagarika Sriram está lutando para tornar a educação climática uma disciplina obrigatória nas escolas.
Usando seus conhecimentos de programação, ela criou a plataforma online Kids4abetterworld, que visa a ajudar a educar crianças de todo o mundo e a apoiá-las em projetos de sustentabilidade em suas comunidades.
Ela reforça a iniciativa com workshops ambientais online e offline, ensinando às crianças como podem ter um impacto positivo nas alterações climáticas.
Além de estudar para o A-level em Dubai, Sriram faz parte da equipe consultiva infantil do Comitê das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, em que defende os direitos ambientais.
Não é hora de alarme, mas de ação, para que cada criança seja educada de forma a viver mais sustentavelmente e a impulsionar mudanças sistêmicas necessárias no mundo.
Sagarika Sriram
Matcha Phorn-in, Tailândia
Ativista pelos direitos da população indígena e LGBTQ+
Vivendo na Tailândia, na fronteira com Mianmar, uma área que sofreu os efeitos das mudanças climáticas e de conflitos, Matcha Phorn-in focou seu trabalho nos direitos das minorias.
Ela fundou o Projeto de Desenvolvimento Sangsan Anakot Yawachon, uma organização que busca educar e capacitar milhares de mulheres, meninas e jovens LGBTQ+ indígenas apátridas e sem terra.
Como feminista de uma minoria étnica/feminista lésbica indígena, Matcha Phorn-in tem um papel de liderança no movimento para acabar com a violência com base em gênero na região, enquanto defende os direitos à terra e à justiça climática para as pessoas deslocadas e privadas de direitos.
Não pode haver soluções climáticas sustentáveis sem a participação significativa e vozes das comunidades indígenas, LGBTQIA+, mulheres e meninas.
Matcha Phorn-in
Daria Serenko, Rússia
Poetisa
A escritora e ativista política Daria Serenko é uma das muitas coordenadoras da resistência Feminista Anti-Guerra, um movimento contra a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Nos últimos nove anos, ela tem escrito sobre a violência de gênero na Rússia, produzindo dois livros de prosa feminista e anti-guerra.
Serenko também é a criadora da iniciativa artística Quiet Pickett, em que faz uso de cartazes com mensagens para envolver pessoas em questões específicas.
Duas semanas antes de a Rússia iniciar a invasão em grande escala da Ucrânia, Serenko foi detida pelas autoridades acusada de espalhar mensagens “extremistas”. Pouco depois, imigrou para a Geórgia e passou a ser designada “agente estrangeira” pelas autoridades russas.
Jess Pepper, Reino Unido
Fundadora do Climate Café
O Climate Café é um espaço comunitário onde as pessoas se reúnem para beber, conversar e agir sobre as mudanças climáticas. O primeiro foi fundado por Jess Pepper em 2015, numa pequena cidade da Escócia.
Ela agora apoia outras comunidades a criarem os seus próprios espaços, interligados numa rede global.
Os frequentadores dizem que estes são espaços seguros onde podem compartilhar seus medos e preocupações relacionados à crise climática.
Pepper ocupa vários cargos de liderança na esfera climática, é integrante honorária da Royal Scottish Geographical Society e da Royal Society of Arts.
A ação climática e as mudanças positivas estão acontecendo nas comunidades, muitas vezes sob a liderança de mulheres e crianças. Ver como as conexões inspiram e informam a mudança, construindo resiliência e ao mesmo tempo criando oportunidades e espaço político para novas mudanças, me dá esperança
Jess Pepper
Andreza Delgado, Brasil
Curadora e gerente cultural
Buscando levar a experiência de participar de um encontro de apaixonados pelo universo das histórias em quadrinhos com moradores de bairros da periferia de São Paulo, Andreza Delgado ajudou a lançar a PerifaCon.
O evento gratuito concentra-se em autores de quadrinhos, artistas e outros colaboradores das favelas brasileiras, que geralmente são deixados de lado como consumidores ou criadores culturais.
Com histórias em quadrinhos, videogames, shows e outros recursos da “cultura geek”, a terceira PerifaCon aconteceu em 2023, com um público de mais de 15 mil pessoas.
Usando seu espaço como YouTuber e podcaster, Delgado defende a democratização do acesso à cultura no Brasil, dedicando-se especialmente ao trabalho de artistas negros.
Carolina Díaz Pimentel, Peru
Jornalista
Quando Carolina Díaz Pimentel foi diagnosticada com autismo, por volta dos 20 anos, ela fez um bolo para comemorar o fato de finalmente saber que era neurodivergente.
Agora, na casa dos 30 anos e “orgulhosamente autista”, ela trabalha como jornalista especializada em neurodivergência e na cobertura de saúde mental.
Díaz também trabalha para acabar com o estigma que as pessoas com deficiência psicossocial muitas vezes enfrentam. Ela é fundadora de vários projetos e organizações sem fins lucrativos que aumentam a conscientização sobre a neurodiversidade: Mas Que Bipolar (Mais que bipolar), a Coalizão Neurodivergente Peruana e o Proyecto Atipo (Projeto Atípico).
Ela é bolsista do Pulitzer Center e pesquisadora do Rosalynn Carter.
Desak Made Rita Kusuma Dewi, Indonésia
Escaladora de velocidade
Quando estava na escola primária em Bali, Desak Made Rita Kusuma Dewi foi convidada a experimentar uma parede de escalar, e logo se apaixonou pela escalada de velocidade.
Ela teve grande sucesso em competições juvenis, mas a “rainha da escalada da Indonésia” atingiu o ápice este ano, conquistando o ouro na prova feminina de velocidade do Campeonato Mundial de Escalada IFSC de 2023 com um tempo recorde de 6.49 segundos.
O feito garantiu seu lugar nas Olimpíadas de Paris 2024, quando a escalada de velocidade será um evento separado pela primeira vez.
A escaladora pode fazer história pela Indonésia, que até aqui só ganhou medalhas em badminton, levantamento de peso e tiro com arco.
Rina Gonoi, Japão
Ex-militar
Soldados mulheres ajudaram Rina Gonoi, de 11 anos, na evacuação após o terremoto e tsunami de 2011 e, desde então, ela sonha servir nas Forças de Autodefesa do Japão.
Ela tornou-se uma oficial, mas seus sonhos de infância foram arrasados ao sofrer assédio sexual “diariamente”.
Gonoi deixou o Exército japonês em 2022 e lançou uma campanha pública pela responsabilização, uma tarefa difícil numa sociedade dominada pelos homens, onde sobreviventes de abusos sexuais enfrentam uma reação violenta ao se manifestarem.
O caso levou os militares a realizarem uma investigação interna, que levou a mais de 100 outras queixas de assédio. O Ministério da Defesa apresentou, mais tarde, um pedido de desculpas a Gonoi.
Najla Mohamed-Lamin, Saara Ocidental
Ativista pelos direitos das mulheres e pelo clima
Fundadora do Centro Bibliotecário Almasar, Najla Mohamed-Lamim quer educar sobre saúde e ambiente mulheres e crianças nos campos de refugiados saharauis no sudoeste da Argélia.
Originalmente do Sahara Ocidental, uma antiga colônia espanhola sob ocupação marroquina desde 1975, sua família foi forçada a exilar-se após fugir da violência.
Nascida e criada nos campos de refugiados, Mohamed-Lamim aprendeu inglês quando adolescente, traduziu para delegações estrangeiras e conseguiu estudar no exterior fazendo um financiamento coletivo para cobrir os custos da universidade.
Depois de se formar em desenvolvimento sustentável e estudos sobre mulheres, regressou aos campos para ajudar mais de 200 mil refugiados saharauis a lidar com a insegurança hídrica e alimentar agravada pelas alterações climáticas.
Temos de enfrentar o impacto crescente das alterações climáticas numa região desértica, onde as nossas casas são regularmente destruídas por inundações e tempestades de areia, e o nosso povo sofre sob temperaturas extremas. Tudo isso enquanto o nosso povo em quase nada contribuiu para a crise climática.
Najla Mohamed-Lamin
Kera Sherwood-O’Regan, Nova Zelândia
Ativista dos direitos indígenas e da deficiência
Indígena Kāi Tahu (a principal tribo maori), especialista em clima e portadora de deficiência, Kera Sherwood-O’Regan é de Te Waipounamu, a Ilha Sul da Nova Zelândia.
Ela é cofundadora da Activate, uma agência de impacto social especializada em justiça climática e mudanças sociais.
Seu trabalho baseia-se nas abordagens maori da terra e dos antepassados, que até recentemente eram ignoradas pelas principais discussões sobre o clima.
Sherwood-O’Regan construiu relações com ministros, funcionários e a sociedade civil em geral para destacar os efeitos das alterações climáticas nas suas comunidades, ao mesmo tempo em que luta por um maior reconhecimento dos direitos dos povos indígenas e das pessoas com deficiência nas negociações climáticas.
Estamos rejeitando o modelo extrativista, ocupando espaços e liderando juntamente com a comunidade. Está funcionando. Penso que muitas pessoas reconhecem agora que a realização da soberania indígena é a solução para a crise climática.
Kera Sherwood-O’Regan
Summia Tora, Afeganistão
Ativista pelos direitos dos refugiados
A Rede Dosti é uma organização dedicada a fornecer recursos e informações essenciais aos afegãos — tanto para os que vivem no país, quanto para os que vivem como refugiados — lançada em resposta à tomada do poder pelos Talebã em 2021.
Ela própria uma refugiada afegã, a fundadora Summia Tora entende perfeitamente os desafios enfrentados pelos indivíduos deslocados.
Seu trabalho centra-se no reassentamento de refugiados e no acesso à educação aos afetados por conflitos.
Reconhecedora do poder transformador da educação, Tora trabalhou com organizações como a ONU e o Banco Mundial, o Fundo Malala e a Schmidt Futures. Com essas parcerias, ela defende o acesso à educação com foco específico nos refugiados e nas mulheres e meninas em contextos de emergência.
Basima Abdulrahman, Iraque
Empreendedora da indústria de construção verde
Em 2014, quando o chamado grupo Estado Islâmico assumiu o controle de grandes partes do seu país natal, o Iraque, Basima Abdulrahman estudava em uma universidade nos EUA.
Os combates deixaram muitas cidades destruídas, mas, quando Abdulrahman voltou para casa depois de concluir seu mestrado em engenharia estrutural, encontrou uma maneira de ajudar.
Ela fundou a KESK, a primeira iniciativa dedicada à construção verde no Iraque. Ela descobriu que criar estruturas mais verdes significava combinar as mais recentes tecnologias e materiais energeticamente eficientes com os métodos de construção tradicionais utilizados no país.
Ela está determinada a garantir que as práticas de construção atuais não comprometam o bem-estar das gerações futuras.
Muitas vezes a crise climática me deixa ansiosa. Não consigo deixar de me perguntar como alguém pode ficar em paz sem fazer parte da solução para mitigar seus riscos.
Basima Abdulrahman
Alicia Cahuiya, Equador
Ativista dos direitos indígenas
Como figura-chave na luta para proteger a Floresta Amazônica do Equador, Alicia Cahuiya obteve uma grande vitória este ano.
Num referendo histórico promovido em agosto, os equatorianos votaram pela suspensão de todos os novos poços de petróleo no Parque Nacional Yasuní. Essa decisão significará que a petrolífera estatal vai precisar encerrar as suas operações numa das regiões de maior biodiversidade do planeta e abrigo de populações indígenas isoladas.
Cahuiya, que nasceu em Yasuní e é líder da nação Waorani (NAWE), fazia campanha por um referendo há mais de uma década.
Ela é atualmente chefe da divisão feminina da Confederação dos Povos Indígenas do Equador.
As alterações climáticas tornaram as coisas muito diferentes para nós, causando inundações que destroem as nossas colheitas. Quando o sol está muito quente e há seca, grande parte dos nossos alimentos são perdidos, o que nos traz muita tristeza, pois todo o esforço colocado nas colheitas é desperdiçado.
Alicia Cahuiya
Bella Galhos, Timor Leste
Ativista política
Uma ativista destemida, Bella Galhos tem sido fundamental para a transformação do Timor-Leste antes e depois de o país conquistar a independência da Indonésia em 2002.
Durante os anos no exílio, ela viajou pelo mundo defendendo a autodeterminação do seu povo. Ao regressar ao Timor-Leste após a libertação, Galhos envolveu-se na reconstrução do país após décadas de conflito que deixaram metade da população na pobreza extrema.
Em 2015, ela inaugurou a Escola Verde Leublora, que promove o desenvolvimento sustentável e inspira crianças a serem agentes de mudança.
Galhos serve atualmente como conselheira do presidente do Timor-Leste, concentrando-se no empoderamento econômico das mulheres, e é uma voz proeminente da comunidade LGBTQ+.
Jannatul Ferdous, Bangladesh
Sobrevivente de queimaduras
Sobrevivente de um acidente que queimou 60% do seu corpo, Jannatul Ferdous tornou-se cineasta, escritora e ativista da deficiência.
Ela é fundadora da Voice & Views, uma organização de direitos humanos que luta pelos direitos das mulheres sobreviventes de queimaduras.
Conhecida como Ivy pelos amigos e familiares, ela fez cinco curtas-metragens e publicou três romances, usando sua capacidade de contar histórias para ampliar a consciência sobre as pessoas que vivem com deficiência.
Ferdous estudou extensivamente, e suas realizações acadêmicas incluem um mestrado em Literatura Inglesa e uma licenciatura em Estudos do Desenvolvimento.
Susan Chomba, Quênia
Cientista
Hoje, diretora do World Resources Institute (WRI), Susan Chomba diz que sua vivência de pobreza infantil no condado de Kirinyaga, na região central do Quênia, motiva-a a ajudar a melhorar a vida de outras pessoas.
Ela preocupa-se principalmente em proteger as florestas, restaurar paisagens e transformar os sistemas alimentares da África.
Das florestas tropicais da Bacia do Congo ao árido Sahel da África Ocidental e à África Oriental, Chomba dedica seu tempo a trabalhar com pequenos agricultores, especialmente mulheres e jovens, para ajudá-los a fazer o melhor uso de suas terras.
Sua experiência é compartilhada com governos e pesquisadores com o objetivo de construir comunidades mais resilientes diante do quadro de intensificação das alterações climáticas.
Me afeta mais a inação dos líderes mundiais, especialmente daqueles dos principais emissores, que também têm o poder econômico para mudar o rumo, mas são impedidos pelo dinheiro, pelo poder e pela política. Para gerir esses sentimentos, me dedico a ações em campo, trabalhando com mulheres e jovens em toda a África na proteção e restauração da natureza, transformando os nossos sistemas alimentares e mudando as políticas.
Susan Chomba
Nataša Kandić, Sérvia
Advogada e ativista de direitos humanos
Desde o início da guerra na antiga Iugoslávia, no início da década de 1990, Nataša Kandić documentou atrocidades, incluindo violações, tortura, assassinatos e desaparecimentos forçados.
Ela representou as famílias de vítimas de diferentes etnias perante o Tribunal de Crimes de Guerra em Belgrado e fez parte de um grupo que examinou de maneira crítica a política do governo do todo-poderoso da Sérvia, Slobodan Milosevic, em relação ao Kosovo.
Kandić é a fundadora do Centro de Direito Humanitário, frequentemente elogiado por suas investigações imparciais sobre crimes de guerra.
Ela ajudou a organizar a Rede de Reconciliação RECOM, que procura estabelecer os fatos sobre as guerras dos Balcãs, nas quais morreram cerca de 130.000 pessoas.
Sonia Kastner, Estados Unidos
Desenvolvedora de tecnologia para detecção de incêndios florestais
Este ano, vimos incêndios florestais devastarem algumas das maiores florestas do mundo. Com os bombeiros muitas vezes lutando para acompanhar a escala e a propagação das chamas, Sonia Kastner fundou uma organização para ajudar a detectá-los mais cedo.
A Pano AI usa tecnologia de inteligência artificial para preparar reações mais rápidas e antes que os incêndios se espalhem, analisando a paisagem em busca de sinais de ignição e alertando equipes de emergência, em vez de depender apenas de denúncias da população.
Kastner passou mais de dez anos trabalhando em start-ups de tecnologia.
O que me dá esperança é o incrível poder da inovação humana. Sou testemunha em primeira mão do potencial da tecnologia e das soluções baseadas em dados para ajudar no enfrentamento dos piores impactos da crise climática.
Sonia Kastner
Susanne Etti, Austrália
Especialista em turismo sustentável
Uma das únicas cientistas climáticas da indústria de viagens e turismo, Susanne Etti é apaixonada por liderar a área em direção a um futuro mais sustentável.
Seu trabalho como gerente de impacto ambiental global na Intrepid Travel, uma empresa de viagens de aventura para pequenos grupos, levou a empresa a tornar-se a primeira operadora turística com metas de redução de carbono com base científica e verificada.
Etti é autora de um guia de código aberto para empresas de viagens que desejem descarbonizar e é uma parte fundamental da Tourism Declares, uma comunidade voluntária de 400 organizações de viagens, empresas e profissionais que declararam emergência climática.
Hoje vemos mais empresas reconhecerem a importância de ação climática, estabelecendo metas ambiciosas para reduzir o impacto ambiental, investindo em energias renováveis e comprometendo-se com metas de redução de emissões a longo prazo.
Susanne Etti
Hosai Ahmadzai, Afeganistão
Apresentadora de TV
Quando o Talebã assumiu o controle do Afeganistão em agosto de 2021, Hosai Ahmadzai foi uma das poucas apresentadoras de notícias do país a seguir no ar.
Apesar de preocupações com sua segurança e de resistência social contra as mulheres na mídia, seu trabalho na Shamshad TV continua.
De lá pra cá, Ahmadzai entrevistou vários membros do Talebã. Mas há limitações às perguntas que ela pode fazer, não sendo possível, por exemplo, questionar sobre a conduta do grupo.
Com formação em direito e ciência política, Ahmadzai trabalha na mídia há sete anos e dedica-se à educação de meninas, enormemente restringida pelo Talebã.
Isabel Farías Meyer, Chile
Ativista da menopausa prematura
Isabel Farías Meyer não imaginava que seus ciclos menstruais irregulares pudessem ser um sintoma de algo maior, mas, pouco antes de completar 18 anos, ela foi diagnosticada com menopausa precoce, ou Insuficiência Ovariana Prematura. A condição ocorre quando os ovários param de funcionar adequadamente e afeta cerca de 1% das mulheres com menos de 40 anos.
Os sintomas são semelhantes aos da menopausa, mas em idade muito precoce. Farias falou abertamente sobre como a condição afeta sua vida, inclusive sobre a convivência com a osteoporose.
A jornalista de 30 anos lançou a primeira rede regional para a menopausa prematura na América Latina com o objetivo de compartilhar informações, combater mitos e criar espaços seguros para quem tem a doença.
Marcela Fernández, Colômbia
Guia de expedição
Os glaciares constituem uma fonte essencial de água doce para as comunidades locais, mas estão desaparecendo rapidamente na Colômbia.
A fundadora Marcela Fernández e seus colegas da ONG Cumbres Blancas (Picos Brancos) aumentaram a conscientização sobre o assunto, destacando que, dos 14 glaciares que existiram, restam apenas seis e, mesmo assim, em risco.
Com expedições científicas e reunindo uma equipe de montanhistas, fotógrafos, cientistas e artistas, Fernández monitora as mudanças e desenvolve formas criativas de prevenir a perda de glaciares.
Com o seu projeto adjacente, “Pazabordo” (Paz a bordo), ela viaja para áreas afetadas pela violência durante o conflito armado interno de 50 anos na Colômbia.
As geleiras me ensinaram a lidar com o luto, com a ausência. Quando você as ouve, sabe que a perda delas é um dano que não podemos desfazer, mas ainda assim podemos contribuir e deixar uma marca.
Marcela Fernández
Bernadette Smith, Ilha da Tartaruga/Canadá
Defensora de famílias de pessoas desaparecidas
Após sua irmã desaparecer em 2008, Bernadette Smith buscou incansavelmente por respostas.
Ela virou uma importante defensora das famílias de mulheres e meninas indígenas desaparecidas e assassinadas no Canadá e criou uma coalizão para ajudar a coordenar ações e encontrar respostas.
Ela também cofundou a Drag the Red, uma iniciativa que faz buscas por corpos ou evidências de pessoas desaparecidas no Rio Vermelho de Winnipeg.
Smith foi recentemente eleita para um terceiro mandato na Assembleia Legislativa de Manitoba e fez história como a primeira de duas mulheres da Primeira Nação nomeadas como ministras de gabinete na província. Ela atua hoje como ministra da Habitação, Dependências e Sem-teto.
Dayeon Lee, Coreia do Sul
Fundadora da Kpop4Planet
Com seu Kpop4Planet, Dayeon Lee reúne fãs de K-pop em todo o mundo para confrontar a crise climática.
Desde o seu lançamento em 2021, o grupo ativista a pessoas influentes, das maiores empresas de entretenimento e serviços de streaming da Coreia do Sul, que tomem medidas de combate às mudanças climáticas e façam a transição para as energias renováveis.
O grupo destacou as implicações ambientais do lixo gerado pelos álbuns físicos, o que levou figuras icônicas do K-pop a migrar para os álbuns digitais.
Dayeon Lee está agora indo além da música para desafiar as promessas climáticas das marcas de moda de luxo, que muitas vezes usam celebridades do K-pop como seu rosto público.
Ao defender a justiça social, nunca desistimos até promovermos uma mudança. Provamos repetidamente e continuaremos a fazê-lo, lutando contra a crise climática.
Dayeon Lee
Vee Kativhu, Zimbábue/Reino Unido
Criadora de conteúdo e youtuber
Desde a conciliação de seus estudos com um emprego de meio período no McDonald’s até a obtenção de diplomas nas universidades de Oxford e Harvard, a jornada acadêmica de Vee (Varaidzo) Kativhu tornou-se uma inspiração para milhares de pessoas em todo o mundo.
Na universidade, criou um canal no YouTube para compartilhar sua experiência como estudante de origem socioeconômica mais baixa e deu dicas de estudo e de recursos para pessoas em situação semelhante.
Desde então, Kativhu lançou a Empowered by Vee, uma plataforma para tornar o ensino superior mais acessível para estudantes sem apoio ou sub-representados em todo o mundo.
Ela escreveu um livro prático de autoajuda para jovens e atualmente faz doutorado em Liderança Educacional.
Harmanpreet Kaur, Índia
Jogadora de críquete
Em 2023, Harmanpreet Kaur tornou-se a primeira mulher indiana a ser nomeada uma das cinco jogadoras de críquete do ano pela Wisden, publicação conhecida como a bíblia do esporte.
A capitã da seleção feminina de críquete da Índia é uma artilheira prolífica no país e fora dele. No ano passado, ela levou sua equipe a conquistar a medalha de prata nos Jogos da Commonwealth.
No críquete doméstico, ela liderou as Indianas de Mumbai para a vitória da primeira Women’s Premier League em março.
Um dos destaques de sua carreira ocorreu em 2017, quando ela marcou 171 corridas em 115 bolas pela Índia na semifinal da Copa do Mundo Feminina contra a Austrália, ajudando a levar seu time à final.
Aitana Bonmatí, Espanha
Jogadora de futebol
Nascida na Catalunha, a meio-campo Aitana Bonmatí venceu este ano o Campeonato Espanhol e a Liga dos Campeões com seu time, o Barcelona.
Mas foi durante a Copa do Mundo que se tornou uma estrela mundial: ela foi fundamental para a vitória da Espanha, marcando três gols e sendo eleita a melhor jogadora do torneio. Aos 25 anos, ganhou o prêmio Bola de Ouro e foi eleita a melhor jogadora do ano da Uefa.
Sem medo de usar sua voz dentro e fora do campo, Bonmatí defende igualdade para o futebol feminino.
Com a vitória de seu país na Copa do Mundo 2023 ofuscada pela repercussão do beijo dado pelo então presidente da federação espanhola de futebol, Luis Rubiales, na boca de uma jogadora, Jenni Hermoso, Bonmatí usou seu discurso de aceitação da Uefa para mostrar apoio a sua companheira de equipe e a outras mulheres que enfrentam desafios semelhantes.
Gladys Kalema-Zikusoka, Uganda
Veterinária
Uma premiada veterinária e conservacionista de Uganda, Gladys Kalema-Zikusoka trabalha para salvar os gorilas de montanha ameaçados de extinção cujo habitat está sendo destruído pelas alterações climáticas.
Ela é fundadora e CEO da Conservation Through Public Health, uma ONG que promove a preservação da biodiversidade, permitindo que pessoas, gorilas e outros animais selvagens coexistam, ao mesmo tempo em que melhora a saúde e o habitat dos animais.
Depois de três décadas, ela já ajudou a aumentar o número de gorilas das montanhas de 300 para cerca de 500, o que foi suficiente para que saíssem de criticamente ameaçados para ameaçados.
Em 2021, Kalema-Zikusoka foi nomeada Campeã da Terra pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
O que me dá esperança com relação à crise climática é o crescente reconhecimento de que a questão precisa ser resolvida com urgência. Existem métodos inovadores para mitigar e adaptar-se a esta crise.
Gladys Kalema-Zikusoka
Sarah Ott, Estados Unidos
Professora
Tendo crescido no Estado americano da Flórida no pós 11 de Setembro, a professora do ensino secundário Sarah Ott diz que era vulnerável à desinformação.
Apesar de ter formação em ciências, durante algum tempo ela duvidou que as alterações climáticas estivessem realmente acontecendo.
Admitir que estava errada foi o primeiro passo em sua busca pela verdade. Seu caminho a levou a tornar-se Embaixadora das Mudanças Climáticas no Centro Nacional de Educação Científica.
Morando agora no Estado americano da Geórgia, ela usa as mudanças climáticas para ensinar conceitos de ciências físicas aos seus alunos e aumentar a conscientização sobre as questões ambientais em sua comunidade.
Embora as mudanças climáticas sejam uma situação que atinja a todos, não podemos fazer tudo sozinhos. O ativismo é como um jardim. É sazonal. Descansa. Respeite a estação em que você está.
Sarah Ott
Sophia Kianni, Estados Unidos
Estudante e empreendedora social
Depois de conversar com familiares no Irã, a empreendedora social Sophia Kianni percebeu que havia relativamente pouca informação confiável sobre alterações climáticas no idioma deles, e começou a traduzir materiais para farsi.
Rapidamente se tornou um projeto mais amplo quando ela fundou a Climate Cardinals, uma organização internacional sem fins lucrativos liderada por jovens que visa a traduzir informações climáticas para todos os idiomas e torná-las mais acessíveis para aqueles que não falam inglês.
Hoje conta 10 mil estudantes voluntários em 80 países. Eles já traduziram um milhão de palavras de material climático para mais de 100 idiomas.
O objetivo de Kianni é ajudar a quebrar as barreiras linguísticas à transferência global de conhecimento científico.
Jovens ativistas construíram e alimentaram redes globais de ação climática, mobilizaram milhões em protestos, conduziram milhares de petições contra o desenvolvimento de combustíveis fósseis e angariaram milhões de dólares para financiar iniciativas climáticas. Os desafios do mundo são grandes demais para que nos isolemos com base na idade ou na experiência.
Sophia Kianni
Leanne Cullen-Unsworth, Reino Unido
Cientista marinha
As ervas marinhas são conhecidas por sua capacidade de armazenar carbono e criar a base de viveiros para peixes, mas alguns habitats subaquáticos foram devastados.
Leanne Cullen-Unsworth é uma das fundadoras e atual CEO do Project Seagrass, o primeiro sistema de restauração de ervas marinhas do Reino Unido em escala significativa.
O projeto facilita o processo ao utilizar um robô controlado remotamente para plantar sementes e pode criar um modelo para ajudar outros países a restaurar os seus prados subaquáticos.
Cientista interdisciplinar com mais de 20 anos de experiência em pesquisa marinha, Cullen-Unsworth dedica-se à conservação e restauração com base científica.
Há muito a fazer para que alguém consiga alcançar resultados sozinho, mas as pessoas estão trabalhando juntas e compartilhando conhecimento. Da minha parte, sei que podemos reviver um habitat vital, protegê-lo e restaurá-lo por todos os benefícios que proporciona ao nosso planeta e à sociedade.
Leanne Cullen-Unsworth
Marijeta Mojasevic, Montenegro
Ativista dos direitos das pessoas com deficiência
Após sobreviver a dois derrames quando ainda estava no ensino médio, a vida de Marijeta Mojasevic mudou drasticamente.
Convivendo com muitas das consequências físicas e psicológicas até hoje, Mojasevic trabalha como conselheira de jovens e ativista dos direitos das pessoas com deficiência.
Ela usa sua voz para desafiar atitudes e comportamentos em relação a pessoas com distúrbios neurológicos.
Em workshops organizados por ela, chamados ‘Vida com deficiência’, Mojasevic recorre às próprias experiências para desafiar o preconceito.
Ela é embaixadora da OneNeurology, uma iniciativa que visa tornar as condições neurológicas uma prioridade de saúde pública global.
Tamar Museridze, Geórgia
Jornalista
Rosto conhecido da rede pública de radiodifusão da Geórgia desde os 18 anos, a personalidade da TV Tamar Museridze — também conhecida como Tamuna — tinha tudo a seu favor. Mas sua vida mudou drasticamente aos 31 anos, quando descobriu que era adotada.
Ela desistiu de tudo para procurar seus pais biológicos e, durante sua pesquisa, descobriu evidências de que havia um mercado ilegal de adoção em grande escala operando na Geórgia desde a década de 1950.
Ela criou o grupo no Facebook “Estou procurando” e gerou um debate nacional sobre a adoção ilegal, principalmente de bebês retirados de maternidades.
A organização de Museridze ajudou no reencontro de centenas de famílias, mas ela ainda procura a sua própria.
Ulanda Mtamba, Malawi
Ativista contra o casamento infantil
Ulanda Mtamba cresceu em uma comunidade de Lilongwe, capital do Malawi, que dava muito pouco apoio à educação das mulheres e onde meninas se viam pressionadas a abandonar a escola para casar-se antes dos 18 anos.
Mtamba desafiou o status quo da comunidade e não apenas conseguiu um diploma universitário, mas também concluiu um mestrado.
Ela defende a aplicação das leis existentes que protegem meninas de casamentos, bem como o aumento do investimento para tratar dos riscos à saúde associados à gravidez precoce.
Mtamba trabalha, no Malawi, como diretora nacional da AGE África, uma organização que busca a igualdade de acesso ao ensino secundário para todas as meninas do continente.
Qiyun Woo, Cingapura
Contadora de histórias/criadora de conteúdo
Como ambientalista e criadora de conteúdo, Qiyun Woo usa as redes sociais para compartilhar ideias sobre as mudanças climáticas.
Sua plataforma online, The Weird and the Wild, dedica-se a tornar a ciência climática mais acessível e menos assustadora. E foca em conteúdo para defender, educar e envolver as comunidades em ações contra as mudanças climáticas.
Ela é co-apresentadora de um podcast ambiental com foco no Sudeste Asiático chamado Climate Cheesecake, que visa a explicar questões climáticas complexas em doses mais palatáveis.
Ela também é uma Jovem Exploradora da National Geographic.
A crise climática é complexa, avassaladora e assustadora. Podemos abordá-la com uma curiosidade feroz porém gentil — no lugar do medo — para que possamos manter os nossos corações suaves e cuidar do mundo, ao mesmo tempo em que preparamos as nossas ferramentas para nos livrar do que não funciona e construir o que funciona.
Qiyun Woo
Chila Kumari Burman, Reino Unido
Artista
Recorrendo a diversos tipos de arte, incluindo gravura, desenho, pintura, instalação e cinema, Chila Kumari Burman usa seu trabalho para discutir questões como representação, gênero e identidade cultural.
Este ano, a artista teve seu trabalho apresentado no Blackpool Illuminations, um festival de luzes realizado no Reino Unido desde 1879. Lollies in Love With Light é uma instalação em tecnicolor com uma van de sorvete no centro, inspirada na carrocinha de sorvete de seus pais.
Em 2020, Burman desenvolveu a instalação Remembering a Brave New World, enfeitando a fachada da galeria de artes Tate Britain, em Londres, com referências à mitologia indiana, cultura popular e empoderamento feminino.
No ano passado ela recebeu a medalha de Membro da Ordem do Império Britânico (MBE).
Sumini, Indonésia
Gerente florestal
Na conservadora província de Aceh, na Indonésia, é incomum que mulheres sejam líderes.
Quando Sumini percebeu que uma das principais causas das inundações na sua aldeia era o desmatamento, que também contribui para as alterações climáticas, ela decidiu tomar uma atitude e trabalhar com outras mulheres da comunidade.
O grupo dela recebeu uma licença do Ministério do Meio Ambiente e Florestas permitindo que a comunidade da vila de Damaran Baru manejasse a área, todos os 251 hectares de floresta, por 35 anos.
Ela agora lidera uma Unidade de Gestão Florestal da Aldeia (LPHK) para desencorajar a exploração madeireira ilegal e os caçadores que ameaçam tigres de Sumatra, pangolins e outros animais selvagens em risco de extinção.
Com o atual desmatamento desenfreado e a caça ilegal da vida selvagem, as florestas deveriam receber cada vez mais atenção quando se trata de como enfrentamos coletivamente a crise climática. Mantenha a floresta, mantenha a vida.
Sumini
Xu Zaozao, China
Ativista pelo congelamento de óvulos
Em 2018, Xu Zaozao tentou congelar seus óvulos em um hospital público de Pequim. Mulher solteira, ela foi informada que, na China, o procedimento só estava disponível para casais.
Ela levou o hospital ao tribunal na primeira contestação legal na China sobre os direitos de mulheres solteiras congelarem seus óvulos.
A batalha jurídica, pioneira, que começou em dezembro de 2019, ganhou as manchetes em meio a preocupações em torno da baixa taxa de natalidade do país.
A decisão final ainda está pendente, mas o caso de Xu foi analisado por estudiosos das áreas de direito, medicina e ética. Hoje, ela segue sendo uma defensora proeminente dos direitos reprodutivos e da autonomia corporal das mulheres solteiras.
Khine Hnin Wai, Mianmar
Atriz
Há quase 25 anos na carreira de atriz, foi o papel de protagonista do filme San Ye que tornou Khine Hnin Wai uma das atrizes de maior sucesso do cinema birmanês.
Hoje em dia, porém, ela é mais conhecida por seu trabalho de caridade. Em 2014, ela criou a Fundação Khine Hnin Wai, uma instituição que apoia diversas causas, entre elas o cuidado de órfãos e de crianças abandonadas.
Através da fundação, ela cuida, hoje, de cerca de 100 crianças cujos pais, por motivos diversos, não têm condições de sustentar os filhos.
Hnin Wai é também embaixadora para a prevenção do tráfico de crianças.
Bayang, China
Escritora de diário e defensora da sustentabilidade
Desde 2018, Bayang mantém um diário ecológico com o qual monitora as espécies locais e mudanças nas fontes de água, fazendo também registros sobre o clima e observações sobre plantas.
Ela vive na província chinesa de Qinghai, situada em maior parte no planalto tibetano e já sofre efeitos das mudanças climáticas, como temperaturas mais altas, derretimento de geleiras e desertificação.
Bayang faz parte da Rede de Mulheres Ambientalistas de Sanjiangyuan e trabalha pela saúde e sustentabilidade em sua comunidade.
Ela aprendeu a desenvolver produtos ecológicos – como protetor labial, sabonete e bolsas – com o objetivo de proteger as fontes de água locais e inspirar outras pessoas a se juntarem à causa ambiental.
Amal Clooney, Reino Unido/Líbano
Advogada especializada em direitos humanos
Amal Clooney é uma advogada de direitos humanos premiada que passou as últimas duas décadas defendendo vítimas de injustiças.
Ela esteve à frente de casos importantes envolvendo crimes contra a humanidade na Armênia e na Ucrânia, e também de violência sexual contra mulheres no Malawi e no Quênia.
Casos recentes bem sucedidos incluem a representação de vítimas de um combatente do Estado Islâmico e de um comandante de Darfur. Ela ajudou ainda a garantir a liberdade de jornalistas e de outros presos políticos alvos de regimes opressores.
Ela é professora-adjunta na Columbia Law School e cofundadora da Clooney Foundation for Justice, que oferece apoio jurídico gratuito a vítimas de abusos de direitos humanos em mais de 40 países.
Sepideh Rashnu, Irã
Escritora e artista
Sepideh Rashnu tornou-se conhecida no Irã por sua oposição vocal às regras obrigatórias do hijab.
Após brigar em um ônibus com uma mulher que a obrigava a cobrir a cabeça com o véu, Rashnu foi presa.
Ainda sob custódia, ela apareceu na TV estatal com o rosto machucado, ‘pedindo desculpas’ por seu comportamento. Isso aconteceu em julho de 2022, poucas semanas antes de Mahsa Amini, de 22 anos, morrer sob custódia da polícia moral do Irã.
No início deste ano, Rashnu foi processada após compartilhar online fotos suas em que estava sem o véu. Ela diz ter sido suspensa da universidade por causa de seu ativismo.
Rashnu encontra-se fora da prisão e segue desafiando as regras obrigatórias do hijab.
Amina Al-Bish, Síria
Socorrista voluntária
Com a escalada da guerra civil na Síria em 2017, Amina Al-Bish decidiu tornar-se uma das primeiras mulheres voluntárias da Defesa Civil da Síria, também conhecida como Capacetes Brancos, na esperança de salvar vidas e prestar primeiros socorros a civis feridos.
Mais tarde, Amina atuou como voluntária no resgate de vítimas dos terremotos que atingiram a Síria e a Turquia em fevereiro de 2023, devastando bairros inteiros e prendendo seus familiares sob os escombros.
Agora Al-Bish trabalha para melhorar a vida de outras mulheres de sua comunidade no norte da Síria, onde os combates continuam. Ela está cursando Administração de Empresas e diz que seu sonho é participar da construção de uma Síria pacífica.
Canan Dagdeviren, Turquia
Cientista e inventora
Professora associada do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA, Canan Dagdeviren inventou recentemente um adesivo de ultrassom para detecção precoce do câncer de mama.
Ela buscou inspiração em sua tia, diagnosticada com câncer de mama em estágio avançado aos 49 anos, apesar de realizar exames regulares, que morreu seis meses depois.
Ao lado do leito de sua tia, Dagdeviren elaborou um plano aproximado de um dispositivo de diagnóstico que poderia ser incorporado a um sutiã e permitiria exames mais frequentes de indivíduos com alto risco de câncer de mama. A tecnologia tem potencial para salvar milhões de vidas.
Sonia Guajajara, Brasil
Ministra de Estado
Figura proeminente no crescente movimento pelos direitos indígenas no Brasil, Sonia Guajajara tornou-se, em 2023, a primeira-ministra dos povos indígenas do seu país, numa nomeação histórica feita pelo recém-eleito presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ela prometeu fazer da batalha contra os crimes ambientais uma de suas principais prioridades.
Guajajara nasceu de pais analfabetos em Araribóia, na região amazônica, onde pôde ver de muito perto a devastação que as mudanças climáticas podem causar em um ecossistema.
Ela saiu para estudar literatura, trabalhar como enfermeira e professora, além de iniciar uma carreira no ativismo. Em 2022, tornou-se a primeira deputada indígena pelo Estado de São Paulo.
Temos de pensar em como promover a justiça climática e combater o racismo ambiental porque as pessoas que melhor podem proteger o ambiente são as primeiras e mais afetadas pela sua destruição. Nós, os povos indígenas, somos os verdadeiros guardiões da biodiversidade e da vida.
Sonia Guajajara
Monica McWilliams, Reino Unido
Ex-política e negociadora de paz
Este ano completam-se 25 anos desde que o Acordo (de Paz) da Sexta-Feira Santa da Irlanda do Norte foi assinado. Monica McWilliams desempenhou um papel crucial como negociadora principal durante as conversações de paz multipartidárias que levaram ao acordo.
Ela foi cofundadora da Coligação de Mulheres da Irlanda do Norte, um partido político que ultrapassou a divisão sectária e introduziu disposições críticas no tratado de paz.
Ela foi eleita para a primeira Assembleia Legislativa da Irlanda do Norte e, como Comissária Chefe da Comissão de Direitos Humanos da Irlanda do Norte, redigiu o parecer sobre uma Declaração de Direitos para a Irlanda do Norte.
McWilliams atua atualmente como comissária para a dissolução de grupos armados e já escreveu amplamente sobre violência contra as mulheres.
Gloria Steinem, Estados Unidos
Líder feminista
Como líder do movimento feminista global desde a década de 1970, a contribuição de Gloria Steinem para o feminismo é reconhecida em todo o mundo há gerações.
Steinem trabalhou em questões de igualdade como ativista, jornalista, escritora, conferencista e porta-voz para a mídia.
Ela também é cofundadora da Ms. Magazine, que circulou pela primeira vez em 1971 e é publicada até hoje. É o primeiro periódico nos EUA a trazer as questões do movimento pelos direitos das mulheres para o grande público.
Aos 89 anos, Steinem continua atuando em prol de um mundo mais justo por meio do seu apoio a organizações como Women’s Media Center, a ERA Coalition e a Equality Now.
Yasmina Benslimane, Marrocos
Fundadora da Politics4Her
Dedicada a promover a igualdade de gênero, Yasmina Benslimane fundou a Politics4Her, uma organização que impulsiona a participação de mulheres jovens e meninas em processos políticos e de tomada de decisão.
Em setembro, quando um terremoto devastador atingiu o Marrocos, seu país natal, Benslimane e sua organização fizeram um pedido de ajuda que era voltado às questões de gênero.
Ela publicou um manifesto identificando os desafios específicos de mulheres e meninas que seriam exacerbados pela catástrofe, como a pobreza menstrual e os casamentos forçados.
Como mentora, conselheira e membro do conselho de diversas organizações sem fins lucrativos, ela ajuda mulheres jovens a desenvolverem suas habilidades de liderança. O trabalho desenvolvido até aqui já lhe rendeu o prêmio de construtora da paz da ONU Mulheres.
Anne Grall, França
Comediante
O Greenwashing Comedy Club é um coletivo stand-up que aborda questões ambientais, bem como feminismo, pobreza, deficiência e direitos LGBTQ+.
Foi fundado pela comediante de stand-up Anne Grall. Ela acredita que, por meio do humor, é possível plantar sementes de mudança na cabeça das pessoas e até influenciar seus hábitos.
Numa sociedade movida pelo entretenimento, onde prevalecem conceitos concisos e mensagens curtas, Grall acredita que o humor, muitas vezes dependente de exageros e frases de efeito, pode ser um excelente meio para compartilhar ideias sobre as alterações climáticas.
O sucesso do Greenwashing Comedy Club é bastante animador porque indica que muitas pessoas hoje estão preocupadas com as mudanças climáticas e querem se unir, rir e sair do show se sentindo prontas para continuar a luta!
Anne Grall
Zandile Ndhlovu, África do Sul
Instrutora de mergulho livre
Como primeira instrutora negra de mergulho livre da África do Sul, Zandile Ndhlovu quer diversificar o acesso ao oceano.
Ela criou a Fundação Black Mermaid (Sereia Negra), que põe jovens e comunidades locais em contato com o oceano, na esperança de ajudar novos grupos a utilizar estes espaços de forma recreativa, profissional e desportiva.
Ndhlovu é uma exploradora do oceano, contadora de histórias e cineasta. Ela usa essas habilidades para ajudar a formar uma nova geração de Guardiões dos Oceanos — pessoas que aprendem sobre a poluição das águas e o aumento do nível do mar e se envolvem na proteção do meio ambiente.
Pensando no número de vozes jovens, erguendo-me para criar mudanças na sociedade me dá esperança num contexto de crise climática.
Zandile Ndhlovu
Dia Mirza, Índia
Atriz
A atriz Dia Mirza não só ganhou prêmios por seus papéis no cinema indiano, mas também está envolvida em vários projetos ambientais e humanitários.
Como Embaixadora da Boa Vontade do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Mirza luta por questões como mudanças climáticas, ar puro e proteção da vida selvagem.
Ela é fundadora da One India Stories, uma produtora de conteúdo cujo objetivo é contar histórias de impacto que, nas palavras dela, “fazem você parar e pensar”.
Ela também é embaixadora da organização Save the Children, do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal e integrante do conselho da Sanctuary Nature Foundation.
Justina Miles, Estados Unidos
Artista surda
No Super Bowl LVII, em fevereiro, um dos eventos esportivos mais assistidos do mundo, Justina Miles fez história.
A artista, deficiente auditiva, viralizou e desviou a atenção da ícone pop Rihanna ao interpretar as letras da megaestrela de forma enérgica e carismática.
Ela tornou-se a primeira mulher surda a executar a linguagem de sinais americana (ASL) no prestigiado show de intervalo do Super Bowl. Sua versão em linguagem dos sinais de Lift Every Voice and Sing — conhecida como Hino Nacional Negro — também foi a primeira no evento.
Milhares de pessoas querem mostrar ao mundo representações mais autênticas de pessoas surdas e ela espera abrir o seu próprio consultório para formar mais enfermeiras surdas.
Antinisca Cenci, Itália
Atleta de salto artístico
Quando Antinisca Cenci começou no salto artístico, aos 30 anos, ela não imaginava que, 10 anos depois, estaria em turnê com uma equipe que pratica salto equestre.
Natural de La Fenice, no norte da Itália, sua vida não foi fácil. Disseram à sua mãe que a filha não “sobreviveria ao primeiro resfriado”, devido a complicações no parto.
Cenci começou a saltar como parte de um programa iniciado pelo centro local ANFFAS (Associação Nacional Italiana para Famílias e Pessoas com Deficiência) e pela equipe de salto La Fenice.
Ela hoje treina com a campeã mundial de saltos Anna Cavallaro e o treinador Nelson Vidoni.
Shairbu Sagynbaeva, República do Quirguistão
Cofundadora da loja de costura For Life
Depois de fazer três anos de tratamento intensivo para um câncer em estágio quatro, e de lutar para pagar os medicamentos, Shairbu Sagynbaeva está agora em remissão.
Junto com outros quatro pacientes com câncer em remissão, ela montou a oficina de costura For Life, onde confeccionam e vendem bolsas com enfeites típicos nacionais, doando todos os lucros para apoiar o tratamento do câncer.
Até agora, já arrecadaram mais de US$33 mil dólares para 34 mulheres que precisavam de apoio financeiro para cobrir seus custos médicos.
Sagynbaeva também percebeu que havia necessidade de apoiar os pacientes que viviam longe do centro de tratamento, e ajudou a estabelecer um albergue sem fins lucrativos, em local próximo, onde eles pudessem ficar.
Licia Fertz, Itália
Modelo e influenciadora
Poucas pessoas de 93 anos podem dizer que têm mais de 235 mil seguidores no Instagram, mas,para a influenciadora de body positivity mais velha da Itália, este é apenas o começo.
Licia Fertz viveu a Segunda Guerra Mundial, suportou a morte da filha de 28 anos e ficou viúva.
Quando seu neto criou um perfil no Instagram para animá-la, suas roupas coloridas e seu sorriso radiante a transformaram instantaneamente em uma estrela nas redes sociais.
Aos 89 anos, ela escreveu sua autobiografia e posou nua para a capa da revista Rolling Stone.
Ela é uma ativista contra o etarismo, pelo feminismo e pela comunidade LGBTQ+, que promove a positividade corporal e mudanças na forma como percebemos os corpos envelhecidos e os idosos.
Aziza Sbaity, Líbano
Velocista
Celebrada como “a mulher libanesa mais rápida da história” depois de quebrar o recorde nacional dos 100m, Aziza Sbaity voltou recentemente às manchetes como a primeira atleta negra do seu país a conquistar o ouro nos campeonatos Árabe e da Ásia Ocidental deste ano.
Filha de mãe liberiana e pai libanês, Sbaity mudou-se para o Líbano aos 11 anos, onde confrontou-se com o racismo e o classismo com base na cor.
O atletismo tornou-se o seu caminho para autodescoberta e empoderamento e alimentou o compromisso com a defesa de direitos.
Ela usa a sua posição para falar sobre o racismo sistêmico no país e defender a inclusão e a igualdade, trabalhando com escolas e universidades para inspirar a juventude libanesa.
Natalia Idrisova, Tadjiquistão
Consultora de energia verde
As mulheres que vivem em zonas remotas do Tadjiquistão enfrentam com frequência dificuldades no acesso a fontes de energia, como eletricidade ou lenha. A coordenadora do projeto de caridade ambiental Natalia Idrisova busca soluções ambientais práticas para a crise energética e educa mulheres sobre os recursos naturais e tecnologias e materiais energeticamente eficientes.
Além de treinamentos, sua organização oferece equipamentos que economizam energia, cozinhas solares e panelas de pressão, liberando tempo às mulheres e apoiando a igualdade de gênero no lares de uma forma amigável ao clima.
Idrisova atualmente treina comunidades sobre os impactos causados pelas alterações climáticas a pessoas com deficiência e busca formas de garantir que essas vozes sejam ouvidas nas discussões políticas.
Acontecimentos extremos em todo o mundo nos dão o último aviso de que as pessoas são indissociáveis da natureza. Não podemos explorar a natureza de forma negligente, sem que haja consequências graves.
Natalia Idrisova
Alice Oseman, Reino Unido
Roteirista
Autora, ilustradora e roteirista premiada, Alice Oseman é a criadora de Heartstopper, uma história em quadrinhos para jovens adultos que virou best-seller. Ela também transformou a história da maioridade LGBTQ+ em uma adaptação televisiva para a Netflix ganhadora do Emmy.
Oseman escreveu todos os episódios e participou de todas as fases da produção, da escolha do elenco às músicas.
Ela é autora de diversos outros romances para jovens, incluindo Radio Silence, Loveless e Solitaire, o último publicado quando ela tinha apenas 19 anos.
Seus livros ganharam, foram selecionados ou indicados para vários prêmios, incluindo o YA Book Prize, o Inky Awards, a Carnegie Medal e o Goodreads Choice Awards.
Maryam Al-Khawaja, Bahrein/Dinamarca
Ativista dos direitos humanos
A ativista dinamarquesa-barenita dos direitos humanos Maryam Al-Khawaja é uma voz de liderança a favor da reforma política no Bahrein e na região do Golfo.
Seu trabalho busca lançar luz sobre as violações dos direitos humanos, defendendo especialmente a libertação do seu pai, Abdulhadi Al-Khawaja, por meio da campanha #FreeAlKhawaja. Ele é um ativista de destaque e prisioneiro de consciência que cumpre pena de prisão perpétua depois de participar nos protestos pró-democracia no Bahrein em 2011.
Al-Khawaja atuou em vários conselhos, incluindo o Civicus e o Serviço Internacional para os Direitos Humanos, e atua na organização jovem feminista FRIDA e nos Médicos pelos Direitos Humanos.
Bianca Williams, Reino Unido
Atleta
Medalhista de ouro da Europa e da Commonwealth em atletismo nos 4x100m, Bianca Williams foi a capitã da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte no Campeonato Europeu de Equipes de 2023.
Em julho, ela terminou em segundo lugar nos 200m no Campeonato de Atletismo do Reino Unido para garantir vaga na equipe britânica no Campeonato Mundial de Atletismo em Budapeste.
Ela e seu companheiro, o também atleta Ricardo dos Santos, foram parados e revistados por policiais em Londres em julho de 2020.
Williams e dos Santos fizeram uma queixa oficial, acusando a polícia de discriminação racial. Dois policiais foram considerados culpados por má conduta grave e, como resultado, foram demitidos.
O que é o BBC 100 Women?
O BBC 100 Women nomeia, todos os anos, 100 mulheres influentes e inspiradoras de todo o mundo. Criamos documentários, reportagens e entrevistas sobre a vida delas — conteúdo que coloca as mulheres no centro e é publicado e transmitido em todas as plataformas da BBC.
Siga o BBC 100 Mulheres no Instagram e no Facebook. Participe da conversa usando #BBC100Women.
Como as 100 Mulheres foram escolhidas?
A equipe do BBC 100 Women elaborou uma lista com base em nomes reunidos por meio de pesquisas e também sugeridos pela rede de equipes do Serviço Mundial da BBC e do BBC Media Action.
Nós buscamos candidatas que viraram notícia ou influenciaram histórias importantes nos últimos 12 meses, além daquelas com casos inspiradores para contar, que alcançaram um feito significativo ou interferiram na sociedade de modo não necessariamente noticioso.
O conjunto de nomes também foi avaliado em relação ao tema deste ano — alterações climáticas e seu impacto desproporcional nas mulheres e meninas no mundo todo, a partir do qual um grupo de 28 Pioneiras do Clima e outras líderes ambientais foi selecionado.
Representamos vozes de todo o espectro político e de todas as áreas da sociedade, analisamos nomes em torno de temas que dividem opiniões e nomeamos mulheres que criaram a sua própria mudança.
A lista também foi avaliada com relação à representação regional e à devida imparcialidade antes da escolha dos nomes finais. Todas as mulheres deram seu consentimento para estar na lista.
Créditos
Equipe de produção do BBC 100 Women: Valeria Perasso, Amelia Butterly, Rebecca Thorn, Paula Adamo Idoeta, Cordelia Hemming, Laura García, Sarah Dias, Lucy Gilder, Mai Kanaaneh, Mark Shea, Vandana Vijay, Kindah Shair, Haya Al Badarneh, Daria Taradai, Lamees Altalebi, Firouzeh Akbarian, Sana Safi, Kateryna Khinkulova, Tamara Gil and Mouna Ba.
Editora do BBC 100 Women: Golnoosh Golshani.
Produção para o Serviço Mundial: Roberto Belo-Rovella e Carla Rosch.
Design: Prina Shah, Jenny Law, Matt Thomas, Pauline Wilson e Oli Powell.
Desenvolvimento: Scott Jarvis, Arun Bhari, Alexander Ivanov, Preeti Vaghela a Holly Frampton.
Direitos autorais das fotos: Miller Mobley, Maciek Tomiczek/Oxford Atelier, Arati Kumar-Rao, Hamna Haqqi, Craig Kolesky, Pano AI, L. Reid, Benjamin Jones, Yober Arias, Amanda Triplett, Anny Roberts, Diyor Abdughaforzoda, Doi Inthanon Thailand by UTMB, Qinghai Snowland Greatrivers Environmental Protection Association, Jason Boberg, Chaideer Mahyuddin/AFP, New Balance Paraguay, Jo Anne McArthur, The Cartier Women’s Initiative (CWI), Lucy Piper, Louise Mabulo, Christian Tasso, Martin Chang, Konstantin Deryagin, Gabriel Quintão, Abel Canizales, Patrick Wally, Sarah Hale, Jimena Mateot, Lucas Christiansen, Hana Walker-Brown, Woody Morris, Xinyan Yu, Chris Parker Edzordzi Sefogaht, Taseer Beyg, Albert Kamanga Zeeya Creations, Salem Solomon, Luke Nugent, R. David Marks, Lee Tinklim, Satu/VTI, FIFA, Josh Finche, Kibuuka Mukisa, Phoebe Xu, Gregory Vepryk, Darko Tomas CROPIX, Wanjira Mathai, Rufat Ergeshov, Osvaldo Fanton, Dani Pujalte, Giuliano Salvatore, Fondation L’Oreal, Daniel Eduardo, Tatyana Egorova, Dovana Films, Jimmy Day/MIT, Editorial Caminho – Leya, Khine Hnin Wai Foundation, Andrew Sikorsky, Ramón Tolosa Calderón, Mariam Siddiqi, Feral Films, Sebastián Aliaga, Diyor Abdughaforzoda, The White Helmets/Syria Civil Defence, Ellie Varley, DGL Nunnery, Mustafa Abumenes, Emanuele Elo Usai, Fazal Raham Arman, Emilia Trejo, Mattia Zoppellaro, Martin Lupton/Light Collective, Yasmina Benslimane, Pavlo Botanov, Marijeta Mojasevic, LenadraPella/International Federation of Sport Climbing, Getty Images.