Margarida Vieira – Secretária Estadual de Mulheres PSB/MG
Se fizermos um raciocínio simplista, a palavra igualdade será sempre um antônimo da palavra diferença. Seria possível e desejável para as mulheres combiná-las?
O sociólogo português, Boaventura Sousa Santos, que junto com seu trabalho muito competente na academia, desenvolve a pesquisa social e a ação política voltadas para encontrar alternativas à globalização neoliberal, faz uma reflexão que nos parece importante para pensarmos nossas ações nos movimentos de mulheres. Diz ele: “Devemos ser iguais, quando a diferença nos inferioriza, e devemos ser diferentes, quando a igualdade nos descaracteriza.”
Vejamos na História e na nossa vida cotidiana se esta afirmação é correta e suas implicações. Homens e mulheres socialistas lideraram grande parte das lutas pelos direitos humanos em seus diversos aspectos e em muitos países. Uma delas foi a luta pelo voto universal. Se inicialmente o liberalismo era marcado pelo voto limitado aos proprietários, as lutas dos trabalhadores pelo voto universal alcançaram a vitória parcial do voto universal masculino no fim do século XIX em alguns países.
As mulheres começaram a ter direito ao voto no século XX, após a primeira guerra mundial e na maior parte dos países após a segunda guerra, depois de amplas campanhas sufragistas. Neste caso, a diferença nos inferiorizava e conseguimos fazer parte do corpo eleitoral pela igualdade. Em outras situações, a igualdade, se destruir a diferença, pode empobrecer uma sociedade.
A colonização portuguesa, para facilitar a dominação, buscava unificar a população colonial com a mesma língua e com uma única religião. A resistência cultural dos indígenas, dos africanos e seus descendentes e dos imigrantes de diversas nacionalidades, que vieram para o Brasil desde o final do século XIX, permitiu a riqueza cultural de nossa gente, com uma multiplicidade de experiências e tradições. Neste caso, a igualdade nos descaracterizaria.
Quando propomos aos candidatos e candidatas do PSB ou apoiados pelo partido, nas eleições municipais de 2012, uma plataforma de políticas públicas para as mulheres, estamos trabalhando com a diferença para garantir ganhos não apenas para as mulheres mas para toda a sociedade. Nas questões específicas da mulher como a saúde ou o enfrentamento à violência doméstica estamos marcando a diferença para protegermos a todos e todas. Se exigimos igualdade salarial para as mesmas tarefas estamos enfrentando uma diferença que nos inferioriza na remuneração.
Concluindo: a afirmação de Boaventura Santos pode nos ajudar a ver que ao nos emanciparmos contribuímos para a emancipação coletiva.