por Amy Fallon, da IPS
Gulu, Uganda, 10/6/2013 – Tudo é curvas e voltas para a ugandense Keddy Olanya, de 32 anos, casada e mãe de três filhos. Ela é uma das poucas mulheres motoristas que dirigem nas ruas cheias de buracos uma bodaboda, ou serviço de táxi com motocicleta. Olanya, que vive em Gulu, norte de Uganda, foi professora durante um ano na aldeia de Lukome, na mesma região. Até que, em 2008, se deu conta de que poderia ganhar mais dinheiro com um segundo emprego, dirigindo um desses veículos nos finais de semana e feriados escolares. Muitos homens ganham a vida com essa ocupação. Mas em Gulu há apenas uma outra mulher que trabalha como motorista, contou Olanya à IPS. Como mulher em um setor dominado por homens, seu gênero pode jogar a favor, mas também contra. “Na realidade, uma mulher que dirige um bodaboda pode ganhar mais do que um homem” que faça o mesmo, admitiu Olanya. Ela garante que chega a ganhar o equivalente a US$ 138 mensais dando aulas, enquanto consegue até US$ 19 por dia como motorista. “Na maioria dos casos os clientes confiam mais nas mulheres que dirigem bodaboda do que em homens, pela maneira como o fazem. Nós não vamos com tanta depressa”, explicou. Não se sabe a quantidade exata de pessoas que manejam estes veículos no país, embora se diga que só em Kampala há cerca de 145 mil, segundo um informe publicado na edição digital do jornal local Red Pepper. Esta nação do leste africano é mencionada como dona de uma “economia do bodaboda”, apesar de ser difícil ter acesso a estatísticas a respeito. Segundo um projeto financiado em 2002 pelo Departamento de Desenvolvimento Internacional da Grã-Bretanha e realizado pelo assessor em temas de transporte John Howe, intitulado Boda Boda – Uganda’s Rural and Urban Low-Capacity Transport Services, cerca de 1,6 milhão de ugandenses, ou 7% da população, dependem desta indústria para ganhar a vida, ainda que parcialmente. O sustento de outras cem mil pessoas também depende dos serviços de conserto e manutenção destes veículos, acrescentou. São esperados os olhares e comentários de alguns homens condutores quando Olanya está nas ruas, ou no ponto onde espera pelos clientes. “Às vezes podem apenas dizer que este é um trabalho adequado para mulheres solteiras, que sou muito delicada para isto, que vou muito devagar”, detalhou. Por outro lado, é comum enfrentar as habituais tentativas de violar a relação entre cliente e motorista. Quando transporta homens, alguns chegam a fazer propostas sexuais, contou Olanya. Outros lhe oferecem mais dinheiro do que o valor da viagem, e em relação a isso “é preciso ter princípios”, afirmou. Após passar anos lidando com estudantes rebeldes, ela diz saber como agir para os clientes não a molestarem. “Só preciso falar suavemente, para marcar terreno”, pontuou. Algumas mulheres “me admiram. Mas outras dizem que é melhor eu procurar outras opções, como ter uma empresa”, comentou Olanya, que gostaria de incentivar as pessoas a fazerem qualquer tipo de trabalho com o qual possam ganhar a vida, independente de gênero. ‘“Atualmente estamos passando para um mundo de igualdade”, ressaltou. Ela é parte de uma tendência crescente entre professores e outros profissionais, que buscam um segundo emprego como motoristas para poderem chegar ao fim do mês. Wilfred, um policial de 35 anos, de Kampala, trabalhou durante seis meses como condutor, em horários de tempo parcial, cinco dias por semana, “para sobreviver”. “Muitos policiais fazem isso”, acrescentou Wilfred, que disse ganhar US$ 125 mensais com seu trabalho em tempo integral. “Isto é necessário porque o salário que recebemos é insuficiente”, destacou. Segundo disse à IPS, normalmente ganha cerca de US$ 7 diários transportando passageiros. Flavia Nuwabine, de 23 anos, que vive em Kyebando, em Kampala, dirige um bodaboda há dois anos. Ela não conhece outras mulheres que façam o mesmo na capital, e conta que recorreu a essa atividade depois de estudar hotelaria e descobrir que trabalhando nessa área ganharia apenas US$ 38 por mês. Agora, transporta passageiros e encomendas. Vai carregada com sabões e papel A4 para impressoras. Com eles atravessa a cidade para fazer a entrega a uma empresa local. Em um dia ganha, em média, US$ 11, contou. Nuwabine admitiu que gostaria de trabalhar naquilo para o qual estudou, mas disse estar feliz por poder ganhar mais. |
Fonte: Envolverde/IPS
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