O Programa Mulher e Ciência, instituído pelo governo federal, em 2005, representou um marco na história de política científica brasileira, por focar a equidade de gênero nas ciências. Essa é a avaliação do diretor de Engenharias, Ciências Exatas, Humanas e Sociais do Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (CNPq/MCTI), Guilherme Sales Melo. Ele destaca a necessidade de mais avanços e a complexidade do desafio a superar. “Essa iniciativa parte do reconhecimento que, apesar do aumento da participação feminina na ciência e tecnologia, de maneira geral, ainda há a sub-representação em posições de liderança e em áreas do conhecimento como as ciências exatas e as engenharias”, conta. Estatísticas indicam a proporção de dois homens para cada mulher nessas áreas, e a pesquisadora Betina Stefanello aponta a existência de um “labirinto de cristal” no caminho para as mulheres chegarem a determinadas posições de prestígio nas profissões. Para reverter tal quadro, o programa estimula a produção científica e a reflexão acerca das relações de gênero, mulheres e feminismos no país e promove a participação das mulheres no campo das ciências e carreiras acadêmicas. Ele resulta de parceria entre a Secretaria de Políticas para mulheres (SPM) da Presidência da República, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o CNPq, o Ministério da Educação (MEC), o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e a Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o empoderamento das mulheres (ONU mulheres). O dirigente destaca o papel do MCTI no processo, como um dos principais articulares do programa, tendo formado, em 2004, um grupo de trabalho interministerial com o CNPq e a SPM, para pensar ações sobre o tema definindo três ações como principais: o edital Relações de Gênero mulheres e Feminismos, o prêmio Construindo a Igualdade de Gênero e o Encontro Pensando Gênero e Ciência. Mais sobre as ações Para o edital de apoio a pesquisas, o ministério tem apoiado, com recursos financeiros, desde a primeira chamada de 2005. Nos quatro editais lançados, o órgão aportou recursos no valor de R$ 9,2 milhões. Já o CNPq é responsável pela execução do edital de pesquisas e do prêmio, juntamente com a SPM, e concede bolsas de iniciação científica, mestrado e doutorado aos agraciados como incentivo para a continuidade de seus estudos. “Sem dúvida, os editais têm fortalecido as pesquisas na área de gênero e, como consequência, temos percebido um aumento das inscrições de trabalhos científicos, teses e dissertações que concorrem ao prêmio”, afirma Guilherme Sales Melo. “E tanto as pesquisas contempladas como os trabalhos premiados são de diversas áreas do conhecimento, mas, apesar dessa expansão, ainda temos muito que avançar. Esta é uma questão complexa que envolve questões culturais e históricas”. O Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero é um concurso anual de redações e de artigos científicos. Nas oito edições do prêmio, já se inscreveram 24.833 estudantes, do nível médio ao doutorado. Neste ano, as inscrições chegaram a 5.139, em todas as categorias, das quais 4.105 foram redações. Nos quatro editais de pesquisa, lançados desde 2006, a agência recebeu a demanda de 1.372 propostas, das quais 656 foram apoiadas. O aporte total de recursos, envolvendo todas as parceiras desde o primeiro edital, chegou a aproximadamente R$ 21 milhões. Segundo o diretor, para este ano, além das atividades já em curso, a preocupação do Programa Mulher e Ciência é motivar as meninas para as carreiras científicas, em especial ciências exatas, engenharias e computação. “Além de contribuir com a maior participação feminina em áreas em que estão sub-representadas, está-se considerando a importância estratégica de ampliar a base de profissionais em áreas prioritárias ao desenvolvimento do Brasil”, informou. Ele ressalta ainda o debate promovido sobre a temática, que contribuiu para a divulgação sobre asmulheres cientistas do Brasil, inclusive com o lançamento da página Pioneiras da Ciência no Brasil. Para Melo, o país vive um momento histórico propício para se tratar das questões de gênero. “Pela primeira vez temos uma mulher presidenta do Brasil e as ações conduzem ao empoderamento dasmulheres. Fatos que, sem dúvida, inspiram jovens meninas em todas as carreiras”, observa. |
Fonte: Ascom do MCTI | Por: Denise Coelho
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