Foto: Jovens socialistas, 1938 – Reprodução do livro “História das Mulheres no Ocidente – o século XX”, de Georges Duby e Michelle Perrot Convencionou-se dizer que o dia 8 de março foi instituído o Dia Internacional da Mulher como uma homenagem às trabalhadoras têxteis norte-americanas que, em 1857, organizaram a primeira greve conduzida unicamente por mulheres. O episódio teria terminado tragicamente com a morte de dezenas de trabalhadoras devido às ordens do patrão para atear fogo ao local. Morreram asfixiadas e carbonizadas. O curioso é a inexistência de registro sobre tal acontecimento do dia 8 de março. Em busca da história do Dia Internacional da Mulher, a pesquisadora Renée Coté publicou em 1984, no Canadá, um estudo sobre o assunto. Coté verificou que a cada ano o dia da mulher era comemorado em uma data diferente não coincidente em diversos países. Escolhia-se um dia e grandes manifestações de mulheres eram realizadas para comemorá-lo. Em 3 de maio de 1908, por exemplo, o jornal “The Socialist Woman” noticiou a comemoração do primeiro Dia da Mulher em Chicago, Estados Unidos. Participaram 1,5 mil mulheres, que aplaudiram as reivindicações por igualdade econômica e política. Entre final do século XIX e início do XX, mobilizações como estas, greves e repressão às trabalhadoras foram comuns em diversas cidades do mundo, como aquelas que já vinham conhecendo um processo crescente de industrialização, com a implantação de fábricas e consequente formação de uma classe operária. Crianças e mulheres eram empregadas principalmente na indústria têxtil, onde ficavam submetidas a um regime de trabalho quase escravo. Chegavam ao trabalho ainda de madrugada e lá ficavam por 12, 14, 16 horas, sem intervalos adequados e sem condições de segurança, ocasionando diversos acidentes. Insatisfeitas com a situação, as operárias começaram a se mobilizar para reivindicar melhores condições de trabalho, denunciando a exploração e defendendo o voto feminino como uma possibilidade de mudança dessa realidade. A imprensa noticiou em 27 de fevereiro de 1910 outro Dia da Mulher em Nova Iorque, onde 3 mil mulheres defendiam o direito de votar. Mas a pesquisa de Renée Coté se deparou com um fato até então pouco conhecido sobre o porquê do Dia Internacional da Mulher ser 8 de março. Pode ser que a data tenha sido assim instituída em homenagem às operárias russas. Em 8 de março de 1917, 23 de fevereiro no calendário russo, uma greve geral reuniu cerca de 90 mil pessoas, a maioria mulheres. O líder socialista e revolucionário Leon Trotsky, em seu livro “A Revolução Russa”, afirma que as mulheres saíram às ruas de Petrogrado, atual São Petesburgo, no Dia Internacional da Mulher, para protestar contra a fome, a guerra e o czarismo. Segundo Trotsky, neste dia, estavam previstos encontros e manifestações, mas não se imaginava que a data viria a iniciar a Revolução Russa. Renée Coté encontrou documentos de 1921 relativos a uma Conferência Internacional das Mulheres Comunistas, justamente para lembrar a iniciativa das russas. A partir de 1922, a data foi oficializada. A falta de referência concreta sobre o incêndio de 1857, citado no início da reportagem, levou algumas feministas europeias a acreditar tratar-se de um fato mítico. Entretanto, fontes encontradas indicam um acontecimento parecido. Em março de 1911, um incêndio em um prédio onde funcionava uma mal ventilada indústria têxtil vitimou mortalmente 147 mulheres em Nova Iorque. Judias e italianas imigrantes trabalhavam no local em condições precárias: havia lixo, materiais inflamáveis e não existiam mangueiras para água nem saída de emergência. Para impedir a paralisação do trabalho, a empresa ainda tinha o costume de trancar com chave a porta de saída. Quando os bombeiros chegaram, já era tarde. No funeral, milhares de mulheres trabalhadoras compareceram para prestar solidariedade. O que se pode concluir com a pesquisa de Cote é que, independente dos reais motivos que levaram à instituição do Dia Internacional da Mulher, o importante é reconhecer a data como símbolo da organização das trabalhadoras na busca por seus direitos e pela transformação de sua realidade. Fonte NOBRE, Miriam, FARIA, Nalu, SILVEIRA, Maria Lúcia. “Feminismo e luta das mulheres. Análises e debates”. São Paulo: SOF – Sempreviva Organização Feminista, 2005. |
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