No Brasil, a hora de trabalho de uma mulher ainda vale um quarto a menos do que a de um homem. E essa diferença não tem a ver com a experiência ou o nível de educação dessas trabalhadoras. Pelo contrário: reflete a discriminação que ainda existe no mercado de trabalho, embora a Constituição garanta direitos iguais para homens e mulheres. Um novo estudo do Banco Mundial mostra que, se essa desigualdade acabar, não só as brasileiras (mas toda a economia) sentirão os benefícios. O relatório Igualdade de Gênero e Crescimento Econômico no Brasil (i) trabalha com uma série de leis hipotéticas e capazes de promover salários iguais entre homens e mulheres. A consequência imediata dessas leis é o aumento na renda familiar. Há também várias outras vantagens de longo prazo. Quem ganha mais consegue poupar mais, o que traz um impacto direto no crescimento econômico e na arrecadação de impostos, segundo o estudo. Além disso, uma arrecadação mais alta pode dar origem a mais investimentos em saúde e educação, o que beneficia crianças e adultos. “A longo prazo, a redução da desigualdade de gênero ajuda a melhorar a saúde das mulheres e traz um aumento de 0.15 ponto percentual na taxa de crescimento do produto”, dizem os economistas e autores Otaviano Canuto e Pierre-Richard Agénor. O primeiro deles é vice-presidente do Banco Mundial. O segundo, professor na Universidade de Manchester (Reino Unido). Oportunidades iguais As brasileiras representam quase 44% da força de trabalho nacional (i). Além disso, 59,3% das empresas do país têm uma mulher entre os principais donos (i). As mulheres também têm mais escolaridade do que os homens. Mesmo assim, elas ainda são discriminadas pelo mercado de trabalho – e continuam a fazer a maior parte das tarefas domésticas. Alguns parlamentares já tentaram aprovar projetos de lei para diminuir essa desigualdade, mas ninguém conseguiu até agora. O 6.653/2009, por exemplo, da deputada baiana Alice Portugal, estabelece salários iguais e a criação de comissões de igualdade de gênero em todas as empresas brasileiras. O texto nunca foi votado pela Câmara. Fora do Congresso, uma iniciativa da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) teve mais sucesso: o Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça. Das 16 empresas integrantes da primeira edição (2005/2006), 11 receberam o selo pró-equidade, dado àquelas que se comprometem a oferecer salários e oportunidades iguais. Na quarta edição (2011/2012), 81 participaram. Ainda assim, elas representam uma minoria entre as corporações do país. Esforços integrados Entre outros temas, o estudo ainda analisa como programas como Bolsa Família e investimentos em infraestrutura (i) permitem maior igualdade de gênero. Com maior acesso a água, transporte e eletricidade, por exemplo, as mulheres gastam menos tempo nas tarefas de casa – e tornam-se mais livres para cuidar dos filhos, estudar, trabalhar e descansar. Os autores também ressaltam as vantagens de combinar essas e outras políticas em prol do crescimento econômico e da igualdade. Canuto e Agenor avaliam, por exemplo, os impactos de uma reforma tributária e de investimentos em saúde e educação. “A análise mostra que apoiar a igualdade de gênero tem benefícios no crescimento de longo prazo do país”, defendem. |
Fonte: Site do Banco Mundial – http://www.worldbank.org
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