O encontro das mulheres latino americanas continua na tarde deste domingo, no Rio de Janeiro, e o painel da vez são os “Marcos Legais, a garantia de direito das mulheres cis e trans e os novos desafios no Brasil e na América Latina”, que apresenta os pontos de cada
A segunda mesa foi composta pela deputada federal Lídice da Mata, Fabiana Suárez, secretária nacional de mulheres do Partido Socialista do Uruguai, Rogélia Gonzalez, secretária Nacional de Igualdade de Gêneros do Partido da Revolução Democrática e Cristiane Beatriz, ativista do Segmento LGBT e Rede Nacional de Pessoas Trans, do PSB-GO.
“A política muda a mulher e a mulher muda a política”, afirma Lídice da mata durante sua fala. A deputada enfatiza ainda que as mulheres não estão contra os homens, apenas querem reivindicar os espaços que são delas por direito.
“Nós mulheres não vamos aceitar os retrocessos que estão querendo nos impor”, afirma da Mata, ao se referir a temas da vida doméstica das mulheres e do conservadorismo que assola muitas famílias brasileiras, que ainda acreditam que lugar de mulher é dentro de casa, em dedicação aos cuidados do marido e filhos.
Fabiana Suárez, em sua fala, reforçou que acredita ser imprescindível que se corrijam as falhas machistas, patriarcais e misóginas no mundo para que se alcancem direitos iguais na política, para que as mulheres possam ser eleitas e representar seus cidadãos.
Rogélia Gonzales, em sintonia com as demais mulheres da mesa, denuncia também a violência contra as mulheres indígenas no México. Segundo relata, só em 2019 mais de três mil foram assassinadas. Um total de dez por dia. Gonzalez reforça que além do preconceito étnico-racial, as mulheres são mais vitimas desses ataques simplesmente por serem mulheres. São as duplas, triplas formas de preconceito que as mulheres indígenas enfrentam diariamente.
“A política pública deve estar mais comprometida com esses direitos, estar mais voltada para a mudança, para as mulheres em cada uma de suas comunidades”, enfatiza, pois segundo Suárez, as mulheres indígenas, bem como as negras, são parte essencial da mudança. Para ela, a questão étnico-racial precisa ser incluída em todas as políticas de desenvolvimento.
Cristiane Beatriz, mulher trans, iniciou sua fala lembrando que para ela é uma vitória estar presente no evento, já que o Brasil é o país que mais mata mulheres transsexuais no mundo. Durante sua fala, ainda, explicou a diferença entre identidade de gênero e orientação sexual, porque segundo ela, ainda há muita confusão sobre os termos. “Orientação sexual é por quem você se sente física e emocionalmente atraída. Já a identidade de gênero se trata de como você identifica, como se enxerga. Eu não idealizei ser o que sou, eu sou o que sou”.
Beatriz falou sobre os avanços na agenda das Transsexuais e Travestis (TT), lembrando que em 2016, as mulheres TT conquistaram atendimento contra violência sexual e física dentro da Lei Maria da Penha, e informou que essa vitória foi muito benéfica, pois gera reconhecimento de identidade de gênero.
Falou também da decisão do STF do nome social e gênero ser alterado diretamente no cartório, sem burocracia, bem como a decisão de criminalização da LGBTfobia. “Trouxe acalento para gente”, disse.
Sobre mulheres TT na política, Beatriz falou das 52 candidaturas de mulheres trans em 2018, apesar da eleição de apenas 3, ela diz que isso por si só já uma vitória enorme, já que o caso mais comum é que as mulheres trans e travestis acabem caindo no prostituição. Ela atrela isso ao preconceito, pois muitas são expulsas de casa e acabam se deparando com a vida nas ruas.
Ela lembra também da necessidade de se gerar programas e políticas de inclusão, porque a mulher transsexual e travesti não encontra trabalho no mercado formal, por razões obvias de preconceito, logo, mais uma vez, acaba sendo empurrada para a prostituição.
Fotos: Humberto Pradera