Segundo ONG europeia, Brasil é o país que mais mata travestis e transsexuais no mundo. Além da violência e do preconceito, elas também sofrem com a falta de reconhecimento de direitos Com mais de 600 assassinatos entre 2008 e 2014, o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo, segundo pesquisa da organização não governamental (ONG) Transgender Europe (TGEU), rede europeia de organizações que apoiam os direitos da população transgênero. Elas, que em muitas das vezes se reconhecem como mulheres desde a infância, enfrentamdificuldades na família, na escola e no mercado de trabalho para assumir a identidade feminina, que vão desde a violência até o não reconhecimento dos seus direitos de cidadãs. Neon Cunha conta que os conflitos começaram logo nos primeiros anos da vida escolar, quando estudava em uma escola estadual e seus pais foram chamados e avisados de que a criança sofria de uma doença. “Voltava pra casa e levava uma surra, de virar de cabeça para baixo e bater com a cinta, de virar a ponta da cinta para que a fivela atingisse, e depois ser tratada com vinagre e sal para recuperar (as feridas).” Ela resistiu a agressões físicas e morais até chegar à universidade e ao cargo hoje ocupa: diretora de arte na prefeitura de São Bernardo do Campo. Mas Neon é exceção. A maioria das mulheres transexuais acaba abandonando os estudos. Com 22 anos, Ariel Nolasco escondeu a identidade feminina até os 20. Nesse período, trabalhou como professor de inglês e designer, mas, depois que se assumiu, a situação mudou. “Antes, quando eu tinha aparência masculina, usava o nome masculino, etc. tinha dois empregos. Depois, não consegui nenhum.” Foi na prefeitura de São Paulo que Ariel encontrou uma oportunidade de emprego como técnica no programa Transcidadania. “Aqui foi o primeiro lugar que eu consegui trabalhar como Ariel”, conta ela. “Acho que todas as empresas, todas as lojas, todos os lugares deveriam fazer isso, sabe. Contratar uma pessoa trans, uma travesti, porque a gente precisa trabalhar, como qualquer pessoa.” Além de não terem nem os nomes sociais respeitados, elas sofrem diariamente com a violência e a falta de acesso aos direitos sociais. “Qual outra parcela da sociedade tem uma portaria (da Justiça) para poder usar banheiro? O único direito que a gente tem é a nossa resistência, a nossa força de dizer: Existimos, resistimos e vamos agora buscar o nosso espaço”, frisa Neon. “Pensem que aquela pessoa é uma pessoa como qualquer outra, que ela respira, que ela precisa comer, que ela precisa comprar roupa, precisa comprar remédio. Pensem que ela tem o direito de ir e vir, como qualquer um”, diz Ariel. |
Fonte: Rede Brasil Atual
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